Povos antigos da ilha mediterrânea de Malta podem ter utilizado propositalmente o som para produzir um estado mental alterado, segundo a Old Temples Study Foundation (OTSF), uma organização sem fins lucrativos baseada na Flórida, Estados Unidos, que apoia a pesquisa e educação sobre os antigos monumentos de Malta.
O Hypogeum de 6.000 anos de idade de Hal Saflieni no sul de Malta é um complexo de templos de três andares subterrâneos esculpidos em sólida pedra calcária com 500 metros quadrados. É um dos vários monumentos megalíticos malteses criados por um povo habilidoso e sofisticado mais de mil anos antes de Stonehenge ou das Pirâmides do Egito terem sido construídas.
Arqueólogos datam o Hypogeum por volta de 3.600 a.C., e ele esteve ativo até cerca de 2.400 a.C., período no qual todos os templos megalíticos de Malta foram subitamente deixados sem uso, explica Linda Eneix, presidente da OTSF.
O Hypogeum inclui numerosos corredores e câmaras de diferentes formas e tamanhos, algumas imitando a arquitetura dos templos na superfície, além de uma misteriosa câmara de “eco”. Desde que os restos mortais de aproximadamente 7.000 pessoas, misturados juntos, foram encontrados no Hypogeum após ter sido acidentalmente descoberto em 1902, a maioria dos estudiosos sugere que ele foi usada como local de sepultamento, mas que também serviu para usos ritualísticos ou religiosos. Eneix acredita que esses rituais podem ter se relacionado à veneração à Mãe Terra.
“Nunca descobriremos o que eles faziam, mas entendendo a forma como as pessoas originais manipulavam as pedras para produzir luz e som, confirma que havia um plano com intenções sofisticadas,” disse Eneix. “As acústicas são um exemplo fascinante.”
Na Câmara do Oráculo, no segundo nível do Hypogeum, há um pequeno nicho oval na altura do rosto, disse Eneix. Se um homem com uma voz profunda falar nele, produzirá um forte eco, ou ressonância, que se espalha por todo o complexo.
“Manchas escuras que ainda podem ser vistas na borda deste nicho foram feitas por muitas e muitas mãos que repousaram ali. Há marcas de vermelho-ocre dentro desse buraco em que o rosto se encaixa. Existe um canal de amplificação esculpido no teto da câmara, e traços remanescentes de desenhos complexos em vermelho-ocre, como guias musicais pré-históricos”, acrescentou ela.
Eneix teve a idéia de investigar mais a fundo o fenômeno acústico após assistir um filme chamado “Sons da Idade da Pedra” em um voo para Londres.
A OTSF testou o padrão de ressonância numa série de antigos templos malteses e descobriu que a frequência ocorria entre 110 ou 111 hertz, dentro do alcance de uma voz masculina grave. Esses dados foram consistentes com uma pesquisa publicada em 1996 pelo grupo Princeton Engineering Anomalies Research, que descobriu que algumas antigas câmaras megalíticas no Reino Unido e na Irlanda sustentavam uma forte ressonância a uma frequência entre 95 e 120 hertz.
Uma pesquisa realizada pelo Dr. Ian A. Cook e por colegas da UCLA, publicada no jornal Time and Mind em 2008, utilizou um eletroencefalograma (EEG) para monitorar a atividade cerebral de voluntários enquanto eles ouviam a diferentes frequências sonoras. Eles descobriram que a 110 hertz, as atividades do cérebro subitamente mudavam. A secção do cérebro responsável pelo processamento da linguagem se tornou relativamente desativada, e as áreas relacionadas ao humor, à empatia e ao comportamento social “foram acionadas”.
“Claramente, [os povos antigos] gostavam de algo com que pudessem aprender e evoluíram com base no que observaram que podia estimulá-lo”, disse Eneix.
Arqueólogos ainda não foram capazes de explicar como esta sofisticada engenharia se formou há quase 6.000 anos atrás, mas os antigos construtores de templos de Malta podem ter sido uns dos primeiros a usar a acústica em rituais religiosos em uma longa tradição abrangendo os antigos gregos e romanos.