Arquiteto francês preso na Camboja, vinculado ao escândalo de Bo Xilai

22/06/2012 03:00 Atualizado: 22/06/2012 03:00

Uma visão da casa do arquiteto francês Patrick Devillers em Phnom Penh no Camboja, onde foi preso por autoridades locais. A China exige ele seja enviado ao país para responder pelos crimes de que é suspeito. (Tang Chhin Sothy/AFP/Getty Images)O arquiteto francês Patrick Devillers, que tinha relações com o oficial comunista chinês recém-deposto Bo Xilai e sua esposa Gu Kailai, foi preso no Camboja e pode ser extraditado para a China. Devillers foi detido pelas autoridades cambojanas há duas semanas em cooperação com as autoridades chinesas, informou a agência de notícias AFP na terça-feira. “Fomos informados pelas autoridades cambojanas da prisão de nosso compatriota Sr. Devillers”, disse um porta-voz da embaixada francesa à AFP.

Num dos maiores escândalos em anos que sacudiu o cenário político da China, Bo Xilai foi afastado do cargo de líder do Partido Comunista Chinês (PCC) na cidade de Chongqing por “violações disciplinares” numa investigação sobre se sua esposa Gu Kilai envenenou e matou o empresário britânico Neil Heywood no ano passado. Em seguida, Bo foi removido de todas as suas posições no PCC e está agora sendo investigado por abuso de poder, nepotismo e corrupção durante seu mandato como prefeito de Chongqing.

Comenta-se que Devillers, como Heywood, tem laços comerciais estreitos com Bo e sua esposa. Antigos clientes de Devillers disseram ao jornal Le Monde no mês passado que ele era um arranjador de negócios, lavava dinheiro e era até mesmo um amante de Gu Kailai, alegações que ele negou na época. “Estamos considerando a possibilidade de enviá-lo para a China ou França. A China exigiu que ele fosse enviado para lá porque ele cometeu crimes no país”, disse Toque Naruth, o chefe de polícia de Phnom Penh, ao Le Monde.

A prisão ocorreu alguns dias após He Guoqiang visitar o Camboja. Guoqiang é um membro do Politburo e o chefe da Comissão Central de Inspeção Disciplinar do PCC, que provavelmente investiga as alegações contra Bo, relatou o New York Times.

Falando com o Le Monde no mês passado, Devillers disse que Heywood, o empresário assassinado que ele conhecia há décadas, “era uma alma nobre na tradição da ideia inglesa de honra”. Ele disse que conheceu Gu e Bo no início de 1990, quando Bo ainda era prefeito da cidade de Dalian. Devillers foi contratado por Bo para fazer trabalhos de arquitetura na época.

Depois de se divorciar de sua esposa, Devillers se mudou para o Camboja em 2005, alegando que não se tornou rico por causa de sua proximidade com a família de Bo. “Deixei a China como havia chegado: sem nada”, disse ele ao Le Monde.

Em 2000, Gu criou uma empresa britânica que permitia que arquitetos europeus trabalhassem em projetos de construção na China, escolhendo Devillers como seu parceiro de negócios e usando o mesmo endereço na Inglaterra, relatou o NY Times. Em 2006, Devillers e seu pai criaram uma empresa imobiliária em Luxemburgo para manter milhões de dólares em ativos, usando o mesmo endereço da empresa legal de Gu em Pequim.

A expulsão de Bo, que era visto como uma estrela em ascensão no PCC e cotado para um cargo de liderança no Comitê Permanente do Politburo, expôs profundas divisões entre as facções do Partido Comunista.

Mais tarde, surgiram relatos de que um aliado de Bo, Zhou Yongkang, o chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) e membro do Politburo, foi destituído do poder numa ação para purgar os membros da chamada “facção das mãos ensanguentadas”, que é liderada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin.

Na semana passada, foi dito que Zhou entregou o poder como chefe do CAPL em Pequim devido a razões de segurança.

Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.