Um arquiteto francês, que é suspeito de ter ligações com o escândalo do político chinês recém-deposto Bo Xilai e sua esposa Gu Kailai, deixou o Camboja por sua própria decisão e está a caminho da China.
Patrick Devillers pode ter informações sobre as transações financeiras de Bo e o suposto envolvimento de Gu na morte do empresário britânico Neil Heywood. As autoridades cambojanas deteram Devillers no mês passado em Phnom Penh. Naquela época, as autoridades do governo decidiram não mandar Devillers para a França ou China sem uma investigação.
Koy Koung, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Camboja, disse ao Wall Street Journal que as autoridades não forçaram Devillers a ir à China. “Nós o prendemos e detivemos por sugestão da China e agora estamos liberando-o por sugestão da China.”
As autoridades francesas confirmaram que Devillers voou para a China, dizendo que apoiam sua decisão. “O Sr. Devillers nos disse em várias ocasiões sobre seu desejo de viajar à China voluntariamente para cooperar com as autoridades chinesas da justiça”, disse Bernard Valero, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Segundo Valero, Devillers disse ao embaixador francês no Camboja que obteve certas garantias das autoridades chinesas.
O Partido Comunista Chinês (PCC) deteve tanto Bo e Gu e os colocou sob investigação. Bo, um ex-membro do Politburo, é acusado de abusar de seu poder como prefeito da cidade de Chongqing. Além disso, ele é acusado de nepotismo e de criar um culto à personalidade focado num revivalismo maoista. Ele foi deposto como prefeito da cidade.
Devillers passou os últimos anos no Camboja, mas conheceu Bo e Gu de perto nos anos de 1990, quando Bo era o prefeito de Dalian. Não está claro exatamente a relação de Devillers com o casal, mas foi dito que ele era um associado íntimo de seus negócios e também conhecia pessoalmente Heywood.
O escândalo envolvendo Bo foi desencadeado quando Wang Lijun, o ex-chefe de polícia de Chongqing, tentou fugir da China através de uma embaixada dos EUA em fevereiro deste ano. Wang teria informado as autoridades norte-americanas que Bo e o chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang planejavam um golpe contra Xi Jinping, o provável próximo líder do PCC. Ele também pode ter revelado o envolvimento de altos oficiais comunistas na colheita de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong.
Após a queda de Bo, o escândalo expôs uma brecha, não bem compreendida na época, entre a “facção das mãos ensanguentadas”, composta pelo ex-líder chinês Jiang Zemin e por Zhou Yongkang e Bo Xilai, contra os atuais líderes, o primeiro-ministro Wen Jiabao, Hu Jintao, o chefe do PCC, e seu sucessor Xi Jinping.