Censurar filmes e programas de televisão não foi suficiente para a Administração Estatal de Imprensa, Publicação, Rádio, Cinema e Televisão (AERCT) – a agência oficial de censura do regime comunista chinês. Uma nova regra exige agora que qualquer um que poste um vídeo na internet apresente seu número de identidade.
A AERCT afirmou num comunicado em 20 de janeiro que servidores de programas de vídeo e áudio na internet devem “vigiar estritamente a aprovação” para o upload de conteúdo. Isso se refere a websites chineses similares ao YouTube, como o Youku, Tudou e Ku6, entre outros. Há mais 428 milhões de usuários desses sites, segundo a imprensa chinesa. O YouTube é bloqueado na China.
O aviso dizia que os vídeos enviados precisam ser registrados num banco de dados, e que qualquer conteúdo que a AERCT julgasse “não estar em conformidade com as disposições pertinentes do Estado” seriam “imediatamente excluídos”. E que se vídeos “ruins” forem criados por empresas de televisão, cabeças vão rolar.
As autoridades parecem visar principalmente o potencial viral dos principais portais da internet para espalhar vídeos sobre os abusos de funcionários do governo para milhões de pessoas. Internautas chineses ainda podem postar vídeos na internet, mas a divulgação será limitada a seu blogue pessoal ou canal privado, e não conseguirá uma grande audiência. Só quem colocar seu número de identidade receberá tráfego significativo.
As autoridades de censura podem estar respondendo a “minifilmes” e séries populares da internet produzidos por pequenos estúdios de cinema nos últimos anos. Muitas vezes, estes filmes têm caracterizado e zombado o Partido Comunista ou as políticas governamentais. Agora, estes estúdios estão sendo pressionados a obter licenças de funcionamento.
Oficialmente, tudo isso é para “evitar conteúdo vulgar, violência baixa e pornografia” que tem um “impacto negativo na sociedade”, segundo as autoridades. Censores chineses pretendem “criar um ambiente civilizado e saudável na internet”.
Programas de treinamento e educação política também serão organizados para doutrinar os cineastas da internet a “aderirem à orientação correta”.
De maneira geral, os internautas chineses ficaram chocados com as novas restrições. A maioria dos comentários no Sina Weibo, uma plataforma popular chinesa de mídia social, tem reclamado e atacado a AERCT por cercear ainda mais as suas liberdades online já limitadas.
Um número de internautas postulou que o novo movimento visa erradicar a enxurrada de vídeos que mostra funcionários do Partido Comunista em atos sexuais comprometedores. Uma série desses vídeos surgiu nos últimos anos, causando grande embaraço para os funcionários envolvidos e para o Partido Comunista com um todo.
O alvo mais recente de um vídeo escandaloso desta natureza foi Qin Guogang, o presidente da Escola do Partido Comunista na província de Shaanxi. Um vídeo e fotos de Qin com uma aluna vazaram na internet no início deste mês. A Escola do Partido seria o bastião ideológico do comunismo na China.
Um internauta comentou: “Este é um novo truque para evitar que vídeos escandalosos de funcionários comunistas sejam revelados.”