O Partido Comunista da China impõe um regime de censura da internet tão rigoroso que, quando há uma lacuna (especialmente uma grande, óbvia e escancarada), observadores são capazes de concluir que isso simplesmente deve ter sido deliberado.
Assim, quando pesquisas por termos políticos altamente sensíveis como “colheita ao vivo” e “colheita sangrenta” foram autorizados em vários websites populares, logo após ser anunciado em 28 de setembro que o poderoso político chinês Bo Xilai foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC), os analistas começaram a questionar o que isso significava.
“Eu acho que apenas um punhado de pessoas realmente sabe o significado disto”, escreveu Ethan Gutmann num e-mail, um pesquisador que tem publicado extensamente sobre as práticas abusivas de transplante de órgãos na China.
“É tentador imaginar que isso sugira que alguém na liderança do PCC estava enviando uma mensagem aos linhas-duras e apoiadores de Bo Xilai”, algo do tipo, “‘Poderíamos ter levado as acusações contra Bo Xilai muito mais adiante. Então, estamos fazendo um favor a Bo Xilai. Afaste-se. Esqueça. Isso é o bairro chinês.’” A última frase se refere a ideia de que no bairro chinês, chefes do crime não informam um ao outro.
Duas importantes plataformas similares ao Twitter, o Sina Weibo e o Tencent Weibo (Weibo significa “microblogue” em chinês) levantaram a proibição em pesquisas por termos associados à colheita de órgãos. Artigos na edição chinesa do Epoch Times detalhando depoimentos recentes sobre o tema no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas foram divulgados pelos internautas chineses usando essas palavras-chave.
Os termos que foram desbloqueados, como “colheita ao vivo”, são quase exclusivamente usados para se referirem às alegações de colheita de órgãos de prisioneiros vivos da consciência, na maioria das vezes praticantes do Falun Gong.
Uma sequência semelhante de eventos ocorreu em março, depois que Wang Lijun fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu. Ele teria divulgado às autoridades norte-americanas seu envolvimento nas atividades de colheita de órgãos no Nordeste da China.
De 2003 a 2008, Wang Lijun foi chefe de segurança na cidade de Jinzhou e administrava um laboratório médico ligado à Secretaria de Segurança Pública e com foco em pesquisa prática sobre transplante de órgãos.
Num discurso de premiação publicado online, Wang Lijun admitiu a participação pessoal em “milhares” de operações de transplante. Considerando o contexto de suas observações, analistas chegaram a conclusões provisórias de que muitos dos transplantes foram realizados enquanto as vítimas ainda estavam vivas e que a maioria das vítimas eram provavelmente praticantes da disciplina espiritual do Falun Gong, uma prática popular tradicional que tem sido perseguida na China desde 1999.
Analistas formaram a opinião de que altos líderes do PCC estavam cientes dos crimes de Wang Lijun e por meio de efetivamente divulgarem informações sobre sua conexão com tais crimes, eles tentavam limpar o Partido Comunista de todo seu envolvimento, embora isso fosse duvidoso.
Os microblogues Sina e Tencent também levantaram a proibição sobre os nomes de Bo Xilai, Gu Kailai e Wang Lijun. Gu Kailai é a esposa de Bo Xilai que recentemente recebeu uma sentença de morte suspensa pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood.
A mudança na censura, embora sutil, provocou discussão e reflexão entre os internautas.
“Tais crimes hediondos já se tornaram conhecidos na sociedade internacional, mas muitas pessoas não estão cientes deles na China, onde a informação é fortemente bloqueada”, escreveu um usuário. “Os instigadores são as forças de extrema-esquerda mais malignas. Eles devem ser responsabilizados e julgados!” O termo “forças de extrema-esquerda” se refere a linha-dura do PCC.
“A colheita de órgãos de pessoas vivas provavelmente atinge o nervo exposto do maligno PCC, então, eles não se atrevem a falar sobre isso”, escreveu um usuário do Tencent.
“O governador B [Bo Xilai] cometeu crimes da colheita de órgãos ao vivo e da produção de espécimes humanos. Quando será que seus crimes contra a humanidade serão resolvidos?”, escreveu outro usuário.
Ainda outro escreveu, “Eles não se atrevem a deixar o público saber da colheita de órgãos ao vivo e da venda de órgãos, porque pereceriam uma vez que isso fosse conhecido.”
“Todo mundo sabe que o Partido Comunista toma cuidado meticuloso com cada declaração sobre a questão de Bo Xilai porque é um caso sensível. Eles prestam atenção a cada sinal de pontuação”, disse o analista de política chinesa Lin Zixu numa entrevista com a Rádio Som da Esperança, uma rede em língua chinesa sediada fora da China.
Ele disse que muitas pessoas na China, incluindo líderes do PCC, já sabem do envolvimento de Bo Xilai e Wang Lijun na colheita de órgãos. “As pessoas no PCC que não estavam envolvidas sabem que mais cedo ou mais tarde isso explodirá e então eles dirão que estavam investigando o tempo todo para que possam empurrar a responsabilidade para Bo Xilai e outros”, disse ele.
Lin Zixu continuou, “Mas a esta altura todos também sabem que a razão fundamental disso acontecer foi em primeiro lugar devido ao sistema do Partido Comunista.”
Albert Ding e Ariel Tian contribuíram para este artigo.
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