Dezenas de milhares de brasileiros baixaram o aplicativo “Rastreador de Namorado” do Google antes de ele ser retirado do mercado em resposta a reclamações de abuso de privacidade na semana passada.
“Os brasileiros são um povo ciumento, o que posso dizer?”, afirmou a carioca Márcia Almeida de 47 anos. Seu casamento terminou há sete anos, porque, segundo ela, o marido era infiel.
O aplicativo, baixado sem o conhecimento dos parceiros e que rastreia seu telefone, permite verificar a localização do parceiro, ver suas mensagens de texto e até mesmo fazer o telefone do destinatário ligar silenciosamente para o próprio, permitindo assim ouvir tudo que está ocorrendo em torno do telefone.
Tais aplicativos ainda são comercializados nos Estados Unidos e em outros países. Nos Estados Unidos, 55% das pessoas têm espionado seus íntimos, segundo uma pesquisa publicada em julho pelo site de namoro SeekingArrangement.com.
Brandon Wade, fundador e CEO do SeekingArrangement.com, disse num comunicado à imprensa: “Nosso estudo mostra que a vigilância hoje não necessita de espiões altamente remunerados ou orçamentos de grande tecnologia. Na maioria das vezes, o ato de espionagem pode ser realizado por qualquer pessoa, especialmente por alguém mais próximo de você.”
A forma mais comum de espionagem era o acesso não autorizado ao e-mail. Natalie Bencivenga, uma colunista que aconselha relacionamentos para a revista online Twodaymag, discutiu a questão da espionagem num tópico de 2010.
Uma amiga dela monitorava o marido usando um aplicativo de iPhone que ela baixou num telefone que lhe presenteou. Semelhante ao “Rastreador de Namorado” comercializado brevemente no Brasil, o aplicativo permitia ver as mensagens de textos, rastrear sua localização, ver as fotos que ele tirou com o celular e muito mais.
Bencivenga escreve: “O tempo que ela gasta online seguindo todos os seus movimentos, documentando o que ele diz e para quem e examinando cada foto que aparece em seu celular deve ser desgastante. Ela deve ficar acordada à noite toda, preocupada sobre onde ele poderia estar, o que ele poderia estar fazendo… Tudo isso é um desperdício, é energia mal orientada para tentar pegá-lo num ato que ele não cometeu. É como se ela desejasse que ele lhe desse uma razão para estar espionando, para validar sua ansiedade.”
Sua amiga lhe disse que isso ajuda seu casamento, porque ela tem certeza da fidelidade do marido, embora ele não tenha dado razões específicas para duvidar dele.