Ex-chefe da segurança pública estaria ‘ajudando’ nas investigações do regime chinês

24/09/2013 13:06 Atualizado: 24/09/2013 13:06
Liderança central do PCC está derrubando sistematicamente os aliados de Zhou Yongkang
Zhou Yongkang, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, no Grande Salão do Povo em Pequim. Ex-associados de Zhou estão sendo alvo de investigações, o que sugere um cerco ao próprio Zhou (Liu Jin/AFP/Getty Images)
Zhou Yongkang, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, no Grande Salão do Povo em Pequim. Ex-associados de Zhou estão sendo alvo de investigações, o que sugere um cerco ao próprio Zhou (Liu Jin/AFP/Getty Images)

Um artigo recente da Reuters afirmou em sua manchete que o ex-chefe da segurança pública do regime chinês não era alvo de investigações por parte do Partido Comunista Chinês (PCC). Se for verdade, isso contrariaria relatos de outros meios de comunicação ocidentais e de agências de notícias em língua chinesa no estrangeiro que Zhou Yongkang estaria sendo investigado.

Ao invés de ser o alvo, Zhou Yongkang estaria “ajudando” a investigar seus antigos associados, disse à Reuters. Na verdade, na política chinesa, se você está ajudando numa investigação, isso significa que você está em apuros.

Na investigação, Zhou estaria ajudando o líder chinês Xi Jinping a desbarrancar os principais assessores que Zhou teve em seu caminho para o poder: na província de Sichuan, na indústria do petróleo e como o mais alto oficial da segurança pública do regime.

Mais de 10 oficiais provinciais e ministeriais têm sido investigados, disciplinados ou indiciados. A maioria deles é da província de Sichuan, onde Zhou Yongkang serviu como secretário do PCC e chefe da PetroChina, a indústria do petróleo onde ele começou e em cujas fileiras ascendeu.

A posição final de Zhou na indústria do petróleo foi como CEO da PetroChina. Mesmo depois de muitos anos, ele ainda supervisiona a PetroChina por meio daqueles que ele promoveu e que ainda são leais a ele. Há uma famosa expressão nesses círculos: “Eles só ouvem Zhou Yongkang.”

No início deste mês, quando Jiang Jiemin, o ex-gerente-geral da PetroChina, foi levado para investigação sob acusações de corrupção e abuso de poder, juntamente com outros quatro executivos do petróleo, muitas pessoas sabiam que Zhou estava enrascado.

Dois meses antes, Guo Yongxiang foi levado pelo Comitê Central Disciplinar do PCC. A carreira de Guo se sobrepõe a de Zhou Yongkang, da PetroChina à província de Sichuan. Por mais de uma década, desde o início de 1990 até o início de 2000, Guo foi secretário de Zhou. Se alguém quiser encontrar um esqueleto no armário de Zhou, a melhor pessoa a questionar é Guo Yongxiang.

Semanas atrás, o Mirror News de Hong Kong noticiou com exclusividade que Cao Jianming, o procurador-geral da Suprema Procuradoria Popular da República Popular da China (RPC), e Li Dongsheng, o vice-ministro da Segurança Pública, estavam sob investigação.

Da caneta para a arma

Estas investigações mostram que a Central do PCC está agora cavando a mais poderosa fonte de poder político de Zhou Yongkang: seu papel à frente das forças de segurança nacionais. Tanto Cao como Li são membros do Comitê Central do Comitê dos Assuntos do Político-Legislativo (CAPL), que Zhou dirigido até a mudança da liderança no 18º Congresso do PCC em novembro passado.

Para muitos ocidentais, o nome Li Dongsheng não é bem conhecido. Na verdade, muitos chineses também não sabem quem ele é. Mas deveriam, pois ele tem desempenhado um papel de liderança no evento mais importante na China nos últimos 14 anos, a perseguição ao Falun Gong.

Li era o vice-diretor (1993-2000) da notória emissora estatal CCTV. Nesse período, ele criou e dirigiu um dos programas mais importantes da CCTV, o Focus Talk. Em seguida, ele foi promovido a vice-diretor da Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão, que supervisiona a CCTV.

Dois anos mais tarde, Li foi novamente promovido, desta vez, para vice-diretor do Departamento de Propaganda do Comitê Central do PCC. Até então, seu plano de carreira estava circunscrito à seção de propaganda do PCC.

No entanto, em outubro de 2009, Li Dongsheng foi chamado para ser um membro do Comitê do PCC no Ministério da Segurança Pública (MSP) e, na sequência, vice-ministro da Segurança Pública e membro do Comitê Central do PCC.

Esta mudança na carreira é muito rara no PCC. O PCC tem duas armas, a caneta e a arma. A caneta representa a propaganda, enquanto a arma representa o aparelho repressivo do Estado, incluindo os militares e as forças policiais.

Mesmo que estes dois tenham a mesma finalidade, preservar o regime do PCC, suas funções são totalmente diferentes e deslocar pessoal de um para outro é difícil de fazer.

Alinhamento político e corrupção

De acordo com o Mirror News, Li Dongsheng foi promovido à vice-ministro da Segurança Pública porque ele usou recepcionistas e repórteres mulheres para subornar com sexo os líderes da Central do PCC, incluindo Zhou Yongkang e Cao Jianming. O suborno sexual certamente ajudou a engraxar o caminho para a nomeação de Li como vice- ministro, mas sua experiência em perseguir o Falun Gong foi fundamental.

Em junho de 1999, quando o então líder supremo chinês Jiang Zemin começou a lançar as bases para a campanha contra o Falun Gong, ele teve de criar uma nova cadeia de comando para contornar a lei. Ele estabeleceu uma equipe de liderança para conduzir a campanha e um departamento para fazer o trabalho diário. O departamento foi chamado ‘Agência 610’, pois foi fundado em 10 de junho.

Havia dois vice-diretores na Agência 610. Liu Jing, o então vice-ministro da Segurança Pública, representava a arma, enquanto Li Dongsheng, o então vice-diretor da CCTV, representava a caneta. Nos primeiros estágios da perseguição ao Falun Gong, Li Dongsheng foi responsável pela propaganda de demonização que colocou grande pressão no Falun Gong, incluindo mais de 100 episódios do Focus Talk.

Mesmo quando Liu Jing assumiu o cargo de diretor da Agência 610, Li Dongsheng ainda manteve sua posição, principalmente nos bastidores, coordenando os meios de comunicação na campanha de propaganda contra o Falun Gong.

Quando Liu Jing foi diagnosticado com câncer, Li Dongsheng tornou-se o único candidato à sucessão de Liu. Li Dongsheng sabia como a Agência 610 operava e tinha mostrado lealdade a Jiang Zemin e Zhou Yongkang em sua política de perseguição.

Outra recomendação: Ele era totalmente corrupto. Ele era conhecido por seu gosto por recepcionistas e repórteres. Ele tinha feito o Focus Talk o programa de TV mais lucrativo e seletivamente não transmitia programas sobre oficiais corruptos e negócios desonestos.

Seu alinhamento político e corrupção eram a combinação perfeita para ser o novo diretor da Agência 610.

Degradando o suporte de Zhou

Houve um pequeno problema, porém, em elevar Li Dongsheng. Desde 2005, as principais mídias porta-vozes do PCC tinham parado, em sua maior parte, de realizar campanha de propaganda contra o Falun Gong. O PCC não queria que o povo chinês pensasse que um grupo tinha sobrevivido à perseguição e a pressão internacional fez preferível manter a perseguição oculta e silenciosa.

Assim, a principal tarefa da Agência 610 era a arma – a violência contra os praticantes do Falun Gong pela polícia, as prisões e campos de trabalho. Será que Li Dongsheng, cuja experiência foi totalmente em propaganda, poderia mobilizar essas forças-tarefa para a perseguição?

Agora, a relação entre Zhou Yongkang e Li Dongsheng se torna mais clara. Zhou foi promovido de secretário do PCC na província de Sichuan para ministro da Segurança Pública em 2002, também sem qualquer experiência anterior nas forças de segurança.

Jiang Zemin não estava satisfeito com o trabalho do ex-ministro da Segurança Pública na perseguição ao Falun Gong. Ele precisava de seu próprio homem, alguém que podia confiar nessa questão. Então, Zhou se tornou o vice-secretário do CAPL e vice-chefe da equipe de liderança para as questões do Falun Gong.

Em outras palavras, Zhou Yongkang foi chefe direto de Li Dongsheng desde 2002. Quando Zhou substituiu Luo Gan como chefe do CAPL e da equipe de liderança em 2007, ele precisava de seu próprio homem, alguém que ele podia confiar, para chefiar a Agência 610. Ele escolheu Li Dongsheng.

A corrupção de Zhou Yongkang e Li Dongsheng foi protegida pelo poder político deles. Seu poder vinha da perseguição ao Falun Gong e, posteriormente, do sistema de ‘manutenção da estabilidade’, que é uma extensão da perseguição para a população em geral.

No entanto, o poder político do CAPL e de Zhou Yongkang se tornaram tão fortes que os líderes do PCC decidiram que era necessário fazer algo a respeito. É por isso que vemos agora a campanha anticorrupção destinada aos oficiais de alto escalão que seguiram os passos da carreira de Zhou Yongkang, seja na indústria do petróleo, na província de Sichuan ou no CAPL.

A Reuters informou que Zhou Yongkang não é alvo de investigação porque Xi Jinping provavelmente ainda precisa de mais apoio do Politburo e dos líderes seniores do PCC. Ao investigar metodicamente os altos oficiais leais a Zhou, Xi Jinping está degradando o poder e o apoio de Zhou e aproximando-se do dia em que Zhou será finalmente julgado por corrupção.

Os crimes de Zhou como chefe da segurança pública contra o povo chinês não serão esquecidos, mesmo que não sejam abordados aberta e oficialmente.