Um trabalho – Association Between Oral Contraceptive Use and Glaucoma in the United States – apresentado durante o congresso anual da Academia Americana de Oftalmologia, em Nova Orleans, EUA, revelou que mulheres que tomaram contraceptivos orais por um período de três anos ou mais são duas vezes mais propensas a desenvolver glaucoma, uma das principais causas de cegueira mundial, que chega a afetar cerca de 60 milhões de pessoas no globo.
“Os pesquisadores alertaram ginecologistas e oftalmologistas, destacando que estes profissionais precisam estar atentos para o fato de que os contraceptivos orais podem desempenhar um papel importante em quadros glaucomatosos. Estes profissionais devem informar suas pacientes sobre a importância dos exames de visão periódicos e sobre os outros fatores de risco para a doença, visando a prevenção do glaucoma”, destaca o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
O estudo – conduzido por pesquisadores americanos e chineses – é o primeiro a estabelecer um maior risco de glaucoma em mulheres que usaram contraceptivos orais por um período de três anos ou mais. Para chegar a tal conclusão, os pesquisadores analisaram dados públicos do Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição, administrado pelo Centro de Controle de Doenças, entre 2005-2008, que continham dados de 3.406 participantes do sexo feminino com 40 anos ou mais de todo os Estados Unidos. As participantes responderam a um questionário sobre sua saúde reprodutiva e se submeteram a exames oftalmológicos. Constatou-se que as mulheres que usaram contraceptivos orais, não importa qual o tipo, por mais de três anos, apresentam 2,05% mais chances de também relatar o diagnóstico de glaucoma.
“Embora os resultados do estudo não indiquem claramente de que forma os contraceptivos orais possam ter um efeito causador no desenvolvimento do glaucoma, eles indicam que o uso, a longo prazo, de contraceptivos orais podem ser um fator de risco potencial para o glaucoma. E este dado pode ser considerado como parte do perfil de risco para uma paciente em conjunto com outros fatores de risco existentes já conhecidos, tais como: etnia, história familiar de glaucoma, história de aumento da pressão ocular ou defeitos no campo visual existentes”, explica a oftalmologista Márcia Lucia Marques (CRM-SP 110.583), especialista em glaucoma, que também integra o corpo clínico do IMO.
Estudos anteriores já haviam revelado que o estrogênio pode desempenhar um papel significativo na patogênese do glaucoma. “Este estudo deve ser um impulso para futuras pesquisas para comprovar a causa e o efeito de contraceptivos orais e o glaucoma. Pois, a pílula anticoncepcional hoje é uma grande aliada da mulher moderna e independente. Atualmente, nenhuma doença ocular é contra indicação absoluta ao uso do contraceptivo oral. Neste momento, as mulheres que tomaram contraceptivos orais por um período de três anos ou mais devem ser rastreadas para glaucoma e acompanhadas de perto por um oftalmologista, especialmente se elas têm outros fatores de risco já existentes”, recomenda a médica.