Aniversário do Partido Comunista comemorado com expurgo político

10/07/2014 14:11 Atualizado: 10/07/2014 14:11

Primeiro de julho é a data que o Partido Comunista Chinês escolheu outrora para comemorar seu aniversário. A data seria dedicada a louvar o Partido, mas ela não tem sido particularmente auspiciosa ou favorável nos últimos anos.

Desde 1997, quando Hong Kong foi entregue à República Popular da China, o povo de Hong Kong escolheu esse dia para realizar uma marcha anual pela democracia. Este ano, cerca de 500 mil a 1 milhão de pessoas encheram as ruas da cidade pedindo o fim do regime do Partido Comunista.

Em seu aniversário de 1º de julho este ano, o Partido Comunista Chinês (PCC) concedeu-se um irônico presente: o aperto do cerco em torno de quem a mídia chinesa chama de Secretário Gang.

Em 2 de julho, a organização que impõe a disciplina no PCC anunciou que três funcionários foram expulsos do Partido e entregue às autoridades legais para processo criminal. Embora o Partido tenha optado por fazer este anúncio em 2 de julho, de fato as prisões desses funcionários ocorreram em algum momento antes.

Num primeiro olhar, os três funcionários não parecem ter muito em comum. Um deles era vice-governador da província sulina de Hainan. Outro era vice-diretor de uma organização que dá cobertura às organizações de segurança nacional da China. O terceiro era um alto funcionário do Escritório da Guarda, o ramo do Ministério da Segurança Pública encarregado de proteger os altos funcionários do PCC.

Esses funcionários não são bem conhecidos, mesmo na China, mas a revista de negócios Caixin foi capaz de fornecer detalhes importantes sobre eles que só poderiam ter vindo de dentro do Partido.

Que a Caixin aja como um canal para o regime chinês não é surpreendente. Durante o expurgo no Partido Comunista nos últimos 18 meses conduzido pelo líder chinês Xi Jinping, tornou-se claro que a Caixin tem uma relação muito boa com Wang Qishan, o braço-direito de Xi no Comitê Central de Inspeção Disciplinar e responsável por conduzir a campanha “anticorrupção” do líder chinês.

De acordo com a Caixin, os três presos em 2 de julho serviram em algum momento como secretários pessoais do poderoso Zhou Yongkang.

Conexões

Zhou Yongkang é um fiel aliado do ex-líder chinês Jiang Zemin, que o nomeou para chefiar o aparato de segurança interna do regime chinês. Sob Zhou, este aparato cresceu até equiparar-se às forças armadas e, segundo fontes no PCC, Zhou desta forma teria criado um segundo centro de poder no regime, rivalizando com o poder do líder titular do PCC, o secretário-geral.

Zhou se aposentou em 2012, mas, segundo pessoas informadas sobre o círculo interno do PCC, Zhou conspirou com outros asseclas de Jiang Zemin para derrubar Xi Jinping logo que este assumisse o poder.

Zhou tem estado quase totalmente fora da vista pública por meses e acredita-se que estaria sendo restringido pelo PCC. Mas nenhum movimento público foi feito contra este “tigre”, enquanto Wang Qishan constrói um caso contra ele.

A prisão dos três ex-secretários eleva para cinco ou sete o número de ex-secretários de Zhou que foram presos, conforme versões diversas da história em diferentes mídias chinesas.

Suas prisões se encaixam no padrão geral da maioria dos expurgos que tem sido vistos recentemente. Suas punições não são devido à “corrupção”, embora eles certamente sejam culpados disso. Seu crime comum é sua conexão com a facção de Jiang Zemin.

Agentes-executores

Estes secretários não faziam trabalho padrão de escritório. Talvez o termo mais próximo para descrever o papel que eles desempenhavam é o termo “consigliore”, usado pela máfia italiana. Eles atuavam como agentes e executores para seus patrões.

Eles lidavam com subornos e faziam controle de danos nas atividades não tão legais de seus patrões. Em outras ocasiões, eles administrariam os negócios familiares de seus chefes.

Na China, os oficiais do Partido Comunista e do governo que são espertos não se envolvem pessoalmente em atividades ilegais. Eles deixam isso para seus familiares.

Os secretários ajudariam os familiares de seus chefes a criar empresas e obter contratos com o governo. Em seguida, os secretários lavariam o dinheiro, de modo que as atividades ilegais se legitimassem. Quando funcionários mais baixos queriam uma promoção, eles provavelmente negociariam tudo por meio dos secretários ou familiares.

Como recompensa, quando o secretário deixa o chefe ou o chefe está prestes a se aposentar, o chefe arranjará que o secretário seja promovido a uma posição importante de liderança na rede poder do chefe. Esta promoção também é uma apólice de seguro extra para o patrão, já que ele não quer que seus interesses sejam danificados ou seus crimes expostos após se aposentar.

Ele precisa de alguém leal. E quem melhor do que o cúmplice de seus próprios crimes?

O secretário sabe quase todos os detalhes sobre os esqueletos no armário do chefe. Se alguém quer derrubar um funcionário poderoso, a maneira melhor e mais fácil é coletar evidências com seu secretário. Todos os ex-secretários de Zhou Yongkang, exceto um, segundo a Caixin, foram detidos, investigados e interrogados neste último ano.

Zhou Yongkang deu a eles posição, poder e fortuna. Agora, suas conexões com Zhou lhes traz desastre e eles perderão tudo – poder, dinheiro, reputação e liberdade.

No sistema sem lei e totalmente corrupto da China, todos podem ser criminosos e vítimas. Ninguém está a salvo. Com o anúncio do expurgo desses secretários, a corda no pescoço de Zhou Yongkang se apertou mais um pouco.