Âncoras de programas patrióticos na China vão aos EUA para dar à luz

25/04/2014 13:14 Atualizado: 25/04/2014 13:14

De acordo com seu website, a China Central de Televisão (CCTV), a onipresente emissora oficial na China, é “o órgão importante para notícias e opinião na China”. Ela também é “uma importante porta-voz do Partido Comunista Chinês, do governo e do povo”. Finalmente, ela é “uma importante frente de batalha para a ideologia e cultura da China”.

Mas agora os internautas chineses estão se perguntando: se a CCTV é tão patriótica, por que algumas de suas principais âncoras viajam para os Estados Unidos para dar à luz a seus filhos? Os bebês que nascem na América se tornam automaticamente cidadãos, e o uso oportunista deste fato por funcionários de mídias oficiais tem deixado muitas pessoas na China perturbadas.

O assunto foi abordado recentemente devido ao caso de Dong Qing. Com 41 anos e conhecida como “a filha No. 1 da CCTV”, ela desapareceu abruptamente no início deste mês de um show que ela apresenta, depois de ter sido uma presença regular na CCTV por mais de 12 anos. Ela explicou sua ausência em entrevistas com a mídia chinesa, dizendo que iria como uma professora-visitante para a Universidade do Sul da Califórnia.

Os funcionários da CCTV, no entanto, revelaram que a verdadeira razão de sua viagem era para dar à luz a seu bebê, segundo o Tencent, um portal de notícias popular na China. “Ela absolutamente não deixou o emprego, são apenas férias de gravidez”, disse o sr. Liu do Canal 3 da CCTV, numa entrevista com o Tencent.

A decisão de Dong segue a de outra apresentadora da CCTV, a conhecida Chai Jing, que voltou a China no mês passado, depois de ter seu bebê recém-nascido nos Estados Unidos. Chai é uma popular apresentadora de TV, jornalista e autora, assim, sua decisão despertou consternação e discussão acalorada online.

Muitos consideraram as ações de ambas as mulheres não patrióticas, enquanto outros disseram que entendem suas motivações: não só as crianças se tornariam automaticamente cidadãos norte-americanos, mas os pais evitariam multas por violar a política do filho único da China.

Chineses ricos, e não apenas personalidades da televisão, comumente também fazem “turismo de parto”. Saipan, uma pequena ilha dos EUA no Pacífico ocidental, cerca de quatro horas de voo da China, tornou-se um local popular para mães chinesas darem à luz, segundo a ABC News.

Mais de 70% dos bebês nascidos em Saipan são de chineses, com recém-nascidos de mães chinesas saltando de 8 em 2009 para 282 em 2012, segundo o artigo.

Ma Xu, diretor de um centro de pesquisa da Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar, disse que além de evitar multas e adquirir nacionalidade estrangeira para a criança, muitas vezes é também mais barato dar à luz em outro lugar.

Em janeiro, o chinês Zhang Yimou, um diretor de cinema conhecido, foi multado em US$ 1,23 milhão por ter dois filhos a mais do que o permitido. Essa foi a multa mais pesada nos mais de 30 anos de história da política do filho único na China, principalmente por causa da renda de Zhang e de sua esposa.

Famílias pobres na China, que não podem pagar multas por seus filhos adicionais, têm sido forçadas a abortar seus filhos ou sofrem abortos forçados nas mãos das autoridades chinesas, motivo frequente de indignação do público quando estes incidentes se tornam conhecidos.

O caso mais famoso foi o de Gong Qifeng, uma mãe que em 2011 foi injetada com drogas indutoras de trabalho de parte precoce enquanto as autoridades de planejamento familiar prendiam sua cabeça, braços e pernas a uma cama de hospital. Ela estava grávida de sete meses de seu segundo filho. O trauma da experiência deixou-a esquizofrênica, segundo relatos posteriores.

Segundo dados oficiais, as autoridades chinesas já realizaram mais de 300 milhões de abortos forçados nas três últimas décadas de política do filho único.