Apresentador de notícias em dificuldades por ridicularizar Mao Tsé-Tung

13/04/2015 20:55 Atualizado: 13/04/2015 20:55

Um  vídeo de curta duração que mostra um popular apresentador de notícias cantando e tirando sarro de Mao Tsé-Tung tornou-se viral na Internet da China. O tratamento dado ao incidente mostra o esforço que o regime chinês tem feito para esconder o passado manchado de seu líder fundador.

Mao foi o líder fundador da China comunista. Apesar de o pensamento político e legado de Mao estar cheio de erros e manchas (suas campanhas políticas fanáticas causaram dezenas de milhões de mortes), críticas abertas a ele estão ainda circunscritas a conversas privadas.

O vídeo de 76 segundos mostra Bi Fujian, um popular apresentador de notícias da China Central Television – CCTV, com amigos num restaurante, cantando uma música de propaganda política comunista da época da Revolução Cultural. O nome da música é “Tomando estrategicamente a Montanha do Tigre”. Um dos convidados do jantar marca o ritmo com batidas de palitos de comer. Em meio aos versos da música, Bi insere comentários sarcásticos sobre o movimento comunista chinês bem como sobre o seu mais famoso ex-líder, Mao.

Depois que o vídeo foi postado no site Sina Weibo, uma plataforma de mídia social muito popular na China, em 6 de abril, ele rapidamente se espalhou até ser retirado pelos censores chineses.

“Quantas desgraças o filho mais velho de um [palavrão] Mao trouxe-nós!” foi um dos comentários de Bi depois de uma canção intitulada “O Partido Comunista do presidente Mao”.

Na sequência, cantado um trecho da verbosa opera “Nuvens escuras se dispersam onde  a bandeira vermelha é içada, pessoas das regiões libertadas erguem-se depois de derrubarem os proprietários de terra”, Bi pergunta: “O que os proprietários de terras fizeram contra você?”.

No verso final – “O povo e o exército, juntos, passaram muitas dificuldades para tomar a Montanha do Tigre” -, Bi, gargalhando, diz: “Exibidos!”.

No ambiente político chinês fortemente controlador, uma popular personalidade da TV chinesa, como Bi Fujian, satirizar o passado comunista, mesmo que brincando, é algo impressionante. Bi não percebeu que estava sendo filmado por um desconhecido com uma câmera de celular, muito menos que o vídeo seria postado nas redes sociais da internet. A data do vídeo é desconhecida.

Enquanto internautas pró-Partido acusaram Bi de ser um traidor, outros saíram em sua defesa, concordando com seus comentários e defendendo a liberdade de expressão.

“Eu nunca pensei que Bi Fujian fosse, na realidade, um pensador livre e com uma personalidade independente. Lamento a minha falta de respeito por ele no passado”, escreveu um internauta. Outro disse: “Os comentários de Bi apenas mostram que ele é uma pessoa normal e com o pensamento normal”.

Liu Yiran, um escritor e diretor de cinema chinês, ao ouvir sobre a suposta traição de Bi, disse: “O apresentado da CCTV, Bi Fujian, usou até mesmo uma ópera revolucionária para insultar nosso líder fundador e ridicularizar o Partido Comunista Chinês e o Exército de Libertação do Povo. Que chocante! Ele é membro do Partido e um ex-soldado. Que maneira explícita de ele trair sua fé [no regime]!”.

O Partido Comunista, certamente, concorda totalmente com Liu. Em 8 de abril, a CCTV noticiou dizendo que Bi será “seriamente” investigado  por sua conduta. “Como um anfitrião da CCTV, a fala de Bi Fujian no vídeo impactou seriamente a sociedade”, diz a notícia.

A CCTV suspendeu todos os programas apresentados por Bi e caracterizou-o como alguém inexpressivo na CCTV, de acordo com a revista Phoenix baseada em Hong Kong.

Nas últimas décadas, o Partido Comunista Chinês vem enfrentando uma crescente crise de descrença por parte do povo chinês. Mas como entrar para o Partido é, na prática, a única forma de subir na carreira pública e realizar negócios na China, tornou-se comum filiar-se ao Partido por dinheiro e poder em vez de por razões ideológicas. Mas para aqueles que dizem que o rei está nu, uma punição os aguarda. O Partido Comunista Chinês pune de forma exemplar membros que abandonam as ideias do comunismo chinês ou que não apoiam a propaganda pró-Partido.