Uma análise das ligações do magnata Chen Guangbiao com o Partido Comunista Chinês

08/01/2014 16:07 Atualizado: 08/01/2014 16:07

Há muitos empresários ricos na China, mas poucos deles são tão hábeis em usar a mídia como Chen Guangbiao. Ele tem encenado numerosos truques publicitários na China, como doar carros chineses a proprietários de carros japoneses cujos veículos foram danificados em protestos nacionalistas, distribuir dinheiro a pedestres em Taiwan e dar latas de ar limpo em Pequim. Agora, ele levou sua banda alegre à cidade de Nova York.

Todas estas manobras permitem a Chen se intitular de filantropo número um da China. A generosidade é sustentada por seus negócios de reciclagem e demolição. O empreendimento de reciclagem que ele fundou em 2003 atingiu um valor de 7 bilhões de yuanes (US$ 1,16 bilhões) em dois anos.

Sua filantropia também ajudou o seu negócio, segundo uma anedota amplamente citada na mídia chinesa. Diz-se que após Chen se tornar o principal doador de caridade na China, o prefeito de Nanjing lhe deu um tapinha no ombro e disse: “Guangbiao, o trabalho de demolição só começou na cidade de Nanjing. Eu lhe entrego este projeto. Todas as pessoas de Nanjing confiam em você.” Depois disso, Chen tomou conta de mais de 80% do trabalho de demolição em Nanjing.

Como Chen Guangbiao se tornou tão rico tão rápido? Isso está enraizado no que estudiosos têm observado por anos desde a reforma e abertura econômica da China, principalmente do início do século XX em diante, quando os líderes do Partido Comunista Chinês começaram a associar cada vez mais estritamente a riqueza com o poder – assim os empresários da China teriam dificuldade de enriquecer se não jurassem lealdade ao Partido. Por sua vez, aqueles que eram fiéis eram recompensados.

“A prática de cooptar empreendedores tem sido uma parte essencial da estratégia do PCC para a própria sobrevivência”, escreveu o estudioso Bruce Dickson, num estudo de 2007 amplamente citado. Dickson chama aqueles que compõem tanto a elite política como econômica de “capitalistas vermelhos”.

Um olhar sobre o histórico de Chen e as declarações de suas empresas mostra laços profundos e extensos com o Partido Comunista Chinês.

O próprio Chen, por exemplo, é um membro do Partido Zhi Gong, um dos oito partidos políticos oficialmente tolerados na China (além do Partido Comunista Chinês). Esses partidos fazem parte da estratégia do regime chamada de “frente unida”, que remonta à guerra civil chinesa e é destinada a dar a impressão de que a China é um país democrático.

Em 2011, uma de suas empresas organizou uma “comemoração com canções vermelhas”, que consiste em cantar músicas comunistas revolucionárias para celebrar o 90º aniversário da fundação do Partido Comunista Chinês.

Chen também gastou US$ 30 mil num anúncio de meia página no New York Times em 31 de agosto 2012, argumentando que as ilhas Senkaku – um arquipélago desabitado no Mar do Leste da China e disputado com o Japão – fazem parte do território da China.

Em muitas páginas em websites de suas empresas, Chen expressa agradecimento e gratidão ao Partido Comunista Chinês e às políticas de reforma do regime. Em outros lugares, suas empresas reciclam avisos do Departamento Central de Propaganda convidando membros do Partido a estudarem o marxismo e a teoria do “socialismo com características chinesas”.

Numa entrevista a um jornal chinês em 2010, Chen colocou desta forma: “Carnegie agradeceu a Deus, eu agradeço ao Partido!”