A região tem resistido aos embates da última crise financeira. O que fazer para impedir que ocorram flutuações cíclicas de auge-colapso econômico?
Nos últimos anos, a América Latina tem resistido melhor do que outras regiões aos embates da crise financeira. O crescimento econômico tem estado presente, as condições favoráveis e os preços das matérias primas em alta tem permitido manter uma situação de privilégio em comparação com o resto do mundo. Será esta situação permanente? Que medidas são pertinentes para impedir que o auge se converta em recessão?
Nos anos anteriores da crise mundial, alguns países latino-americanos manejaram sua política econômica com certa cautela. A bonança lhes permitiu diminuir o nível de endividamento e os déficits fiscais e aumentar as reservas internacionais; tudo isto junto com uma maior flexibilidade cambial e a adoção de regulações e supervisão financeira resultou na situação favorável da região. Isto demonstra que é possível minimizar os riscos de ser afetado em caso de se desencadearem situações de choques.
Segundo Nicolás Eyzaguirre, Diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional, a última crise financeira impactou de maneira diferente os países latino-americanos. Os exportadores de matérias primas se beneficiaram com preços em alta e baixas taxas de juros mundiais. Este não foi o caso daqueles que são importadores de commodities, como os países da América Central.
Os países com vínculos mais estreitos com os mercados emergentes e dinâmicos da Ásia tem tido mais êxito recentemente. Além disto, os preços recordes das commodities impulsionaram os investimentos estrangeiros nestes setores.
Por outro lado, países com laços económicos mais estreitos com as economias avançadas se recuperaram da crise de forma mais lenta devido ao fraco crescimento econômico e do emprego nos Estados Unidos. O México e a América Central foram afetados, reduzindo as receitas das exportações, o turismo e as remessas de trabalhadores.
Embora os países latino-americanos tenham tido um crescimento de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) durante 2010, há sinais que indicam um sobreaquecimento da economia em alguns países:
• Aumento das taxas de inflação. Está ocorrendo em diferentes países da região. Por exemplo, na Venezuela, o problema do aumento dos preços do petróleo apresenta um clima que desestimula o investimento e diante de uma crescente demanda está surgindo uma situação de inflação. Na Argentina, também está ocorrendo inflação a partir do excesso de demanda, embora sua economia tenha crescido.
• O boom do crédito, que aumenta a sobreoferta.
• As bolhas especulativas, sobretudo no mercado imobiliário.
Estes sinais fazem necessário planejar desde já possíveis soluções para um suave resfriamento da economia.
Medidas que devem ser tomadas
• Em termos macroeconômicos se requer uma boa gestão com a adoção de medidas prudentes, reformas estruturais antichoques que fomentem o crescimento.
• Um resfriamento moderado requer aumentar as taxas de juros para diminuir a explosão de crédito em alguns setores econômicos.
• Diminuir as dívidas a níveis que sejam seguros. O Panamá é um dos países que está manejando melhor seu nível de endividamento.
• Taxas de câmbio flexíveis, mantendo a paridade cambial, evitando a dolarização e o avanço da inflação.
• Controle de fluxos de capital.
• Política fiscal adequada, evitando o gasto público exagerado ou a redução de impostos em cenários de déficit fiscal. É preferível formar um fundo anticíclico que permita manter o mesmo nível de gasto tanto em épocas de boom econômico quanto de recessão.
Finalmente, a América Latina não pode considerar que a época de bonança será para sempre. O comportamento das variáveis pode reverter-se. É muito importante evitar a dependência comercial de uma só região ou país (China) como destino das exportações, para evitar as flutuações de auge-colapso no futuro.