Em dez pontos, Luciano Marín, cognome Iván Márquez, resumiu desde Havana o que as FARC querem fazer com a Colômbia se conseguirem, de alguma maneira, se apoderar do Estado, seja mediante um exitoso assalto militar contra Bogotá (variante pouco provável), seja mediante um golpe político palaciano com ajuda de traidores já instalados nos setores-chave do poder público (variante que tentam realizar neste momento).
O chefe terrorista, no final de sua aborrecida arenga de 25 de maio de 2014, repleta de frases feitas e idêntica aos discursos farianos de há 30 anos, intercambiável em todo momento, mencionou dez pontos. Esses dez pontos são a única parte original dessa prédica.
Desentranhar o conteúdo real desses dez pontos é urgente, pois uma coisa é seu invólucro e outra sua lógica interna. Captar esta última é mais fácil se inverte-se a ordem de apresentação que Iván Márquez utilizou. Começaremos, pois, pelo último ponto e iremos dali para o primeiro.
O último ponto, primeiro de nossa análise, é:
1. “Restabelecimento da soberania e integração em nossa América”. Observe o leitor que o chefe fariano não fala de “soberania nacional”. Fala de “soberania”, pois para ele não há soberania nacional. Ele continua pensando em termos de “poder soviético”, o qual era internacional, global. Quando fala de “restabelecimento da soberania”, Márquez refere-se a abolir a soberania da Colômbia e adjudicar-lhe outra muito diferente em nosso país: a Colômbia deve ser convertida em uma província de Cuba, como é hoje a Venezuela. Cuba deve estender seu domínio imperialista sobre a Colômbia e os demais países do continente, antes de tratar de destruir os Estados Unidos. Essa é a lógica dos chefes farianos. Essa é a essência desse ponto. Por isso a palavra “nacional” foi eliminada desse programa.
2. “Novo modelo econômico e instrumentos da direção da economia para o bem-estar e o bem viver”. Isso quer dizer abolição do capitalismo, da livre empresa, da iniciativa privada e instauração, mediante a violência, de um sistema coletivista, de miséria e gasto improdutivo, sob o controle da burocracia inepta de um partido, as FARC, sob o nome que seja. Bom marxista, Márquez estima que o capitalismo não deve ser reformado senão destruído pela força.
3. “Reorganização democrática dos territórios urbanos e rurais”. Leia-se: transtorno do espaço urbano e rural em sua versão mais extrema. Uma vez destruído o capitalismo, mediante a abolição da propriedade privada dos meios de produção (fábricas, empresas, oficinas, fazendas), deve-se eliminar a propriedade urbana (casas, apartamentos, escritórios), e passar ao aglomerado de indivíduos e famílias em soluções “coletivas” de residência. Isso implica a “re-educação” massiva da classe proprietária em granjas estatais e sua destruição como classe. Expropriação das fazendas e terras dos camponeses (pobres, médios e ricos) e erguimento de granjas coletivas e de prisões-gulags sob o controle do partido-Estado.
4. “Recuperação sócio-ambiental dos recursos naturais e re-apropriação social dos bens comuns”. Quer dizer, confiscação das empresas nacionais e estrangeiras dedicadas à extração e transformação de recursos naturais e apropriação de seus ativos, plantas e tecnologias pelo partido-Estado. Desastres ecológicos ante a exploração totalitária dos recursos naturais e da natureza.
5. “Desprivatização e desmercantilização das relações econômico-sociais”. Confiscação de toda empresa privada e criação de um setor público único encarregado do comércio, da atividade industrial e dos serviços. O da “desmercantilização” é um anúncio paroxístico. Lembra o que fizeram os comunistas de Pol Pot no Camboja de 1975, os quais, além de liquidar fisicamente a terça parte da população, suprimiram a moeda e o mercado, para tratar de alcançar o comunismo em só dois anos e dar exemplo à mesma China de Mao Zedong.
6. “Justiça para a paz e materialização dos direitos das vítimas do conflito”. As “vítimas do conflito” são, aqui, exclusivamente as FARC, como partido-Estado, o qual se apropriará da riqueza nacional a título de “compensação” por ter sido “vítima do conflito”. “Justiça para a paz” será a justiça sem direito, a justiça dos “tribunais populares”, erigidos unicamente para reprimir toda dissidência, todo “inimigo do povo” e destinados a proteger os desígnios da ditadura.
7. “Desmonte dos poderes mafiosos e das estruturas narco-para-militares”. Aniquilamento de todo cartel da droga rival das FARC. Centralização do negócio do narco-tráfico. Repressão imediata, massiva e implacável dos partidos, grupos e facções defensores do liberalismo político e econômico.
8. “Desmilitarização da vida social”. Leia-se desmantelamento das Forças Militares e de Polícia, encarceramento e eliminação da oficialidade e dos altos comandos atuais, e criação de um “exército popular” a serviço dos interesses de Cuba e Venezuela. Criação de milícias “populares” para reprimir o povo.
9. “Re-estruturação democrática do Estado”. Eliminação da democracia representativa, de suas instituições e ritos (eleições livres, divisão de poderes) e sua substituição por órgãos de controle ligados a um poder central. Destruição de bibliotecas e transformação dos meios de informação (jornais, revistas, rádio, televisão, cyberespaço) em órgãos sob controle estatal. Censura da vida intelectual e acadêmica do país. Perseguição de todas as religiões.
10. “Democratização real e participação na vida social”. É a consolidação dos distúrbios anteriores e o aperfeiçoamento dos instrumentos repressivos do novo Estado comunista-fascista para submeter a população e projetar esse modelo para o exterior. “Democratização real” é, segundo o castro-chavismo, controle dos aspectos mais ínfimos da vida das pessoas, das famílias, das cidades e dos estados, por parte do novo poder, como em Cuba através dos sinistros “comitês de defesa da revolução”.
Todos estamos advertidos. Trabalhemos em consequência para o próximo 15 de junho [1].
Para ouvir o que disse Iván Márquez, clique aqui.
Nota da tradutora:
[1] 15 de junho é a data estabelecida para o segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia
Tradução de Graça Salgueiro