A classificação do grupo islâmico Boko Haram como uma organização terrorista pelos Estados Unidos pode estimular seus integrantes a agir para justificar seu novo status e a se aproximar de grupos extremistas da África. O norte da Nigéria é a principal base do Boko Haram. Trata-se de uma área na borda de uma região desértica, hostil e com fronteiras poucos vigiadas, que perspassa o Niger, o Mali, a Mauritânia, a Algéria e a Líbia. É a combinação perfeita para que grupos extremistas locais se projetem internacionalmente.
Segundo o nigeriano Nnamdi Obasi, analista do International Crisis Group (ICG), a classificação do Boko Haram como grupo terrorista pode transformar em alvos qualquer organização ou empresa americana ou que tenha ligações com os Estados Unidos. “Esse grupo pode se radicalizar”, afirma Obasi.
Não foi provado que o Boko Haram tem ligações com a Al-Qaeda ou com o grupo extremista Al-Shabab. O grupo nigeriano continua a agir agressivamente, mas dentro do país. Por outro lado, Martin Ewi, do Instituto de Estudos de Segurança, baseado na África do Sul, acredita que essa classificação tornará “mais organizada e sistemática a busca por bens e investimentos do Boko Haram em bancos americanos”.
Drones e mísseis
Há muito tempo, os nigerianos preocupam-se com a possibilidade de que a classificação atrairia drones de vigilância ou ataques de mísseis ao país. Os drones americanos já voam a partir da capital do Níger, Niamey, para ajudar o exército francês e países da região a coletar informações sobre grupos extremistas. “Acredita-se que os americanos já enviaram drones de forma discreta à Nigéria no ano passado”, afirma Ewi.
Apesar de os Estados Unidos e a Nigéria terem afirmado que drones não devem ser usados, isso pode mudar se o Boko Haram se aproximar de outros grupos extremistas. Obasi tem receios similares. “Existe a preocupação de que o exército americano lance operações militares no país de forma unilateral, como vêm fazendo no Paquistão”, ele afirma.
Isso seria suficiente para que o Boko Haram e o Ansaru se manifestem contra o governo e conquistem um apoio popular que pode ser facilmente resultar no recrutamento de novos membros, que poderiam ser usados além das fronteiras da Nigéria. Até agora, o Boko Haram não se manifestou sobre a classificação pelos Estados Unidos.
Exemplo prévio
Mas, a julgar pelo exemplo dado pelo Al-Shabab na Somália – que era inicialmente um grupo local antes de se aliar à Al-Qaeda e conquistar membros internacionais -, o mesmo pode vir a acontecer com o novo estatus do grupo Nigeriano. Ser parte de um grupo que se opõe fortemente aos americanos é algo atraente para extremistas.
A curto prazo, no entanto, não deve ocorrer uma mudança radical na forma já agressiva do Boko Haram operar. Mas seus líderes sempre se disseram contra o diálogo. “Essa classificação torna ainda mais improvável que isso ocorra”, diz Obasi.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal DefesaNet