Amarildo foi de fato assassinado

17/09/2013 14:17 Atualizado: 17/09/2013 14:21
Amarildo desapareceu em 14 de julho de 2013 sob custódia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (Cortesia de Carlos Latuff)
Amarildo desapareceu em 14 de julho de 2013 sob custódia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (Cortesia de Carlos Latuff)

No dia 14 de julho, Amarildo Dias de Souza, com 43 anos de idade, desapareceu quando estava em poder de agentes do Estado.

Amarildo foi levado por policiais militares, primeiro para o antigo DPO e, posteriormente, para as dependências de uma Unidade de Polícia Pacificadora instalada no Parque Ecológico da Rocinha.

Informada sobre a prisão de Amarildo, sua esposa, no dia em que a mesma foi efetuada, dirigiu-se à unidade policial onde presenciou seu companheiro, descalço e sem camisa, ser levado numa viatura da Polícia Militar para a sede da UPP. Bete tentou correr atrás da viatura, tendo sido impedida ao argumento de que “o major não queria ninguém lá em cima”.

A irmã de Amarildo se dirigiu à sede da UPP, tendo sido informada pelo comandante da unidade que “já havia liberado Amarildo, com seus documentos, não sem antes cumprimentá-lo”.

Os dias que se seguiram ao desaparecimento de Amarildo foram perversos. Aconselhada pela polícia, Bete e seus filhos peregrinaram por inúmeros hospitais, postos e sede do Instituto Médico Legal-IML.

A partir do registro do desaparecimento de Amarildo, o delegado Titular da 15ª Delegacia Policial, Dr. Orlando Zaccone, a quem prestamos nossas homenagens não só pela segura condução do inquérito, mas também por seu exemplar comportamento, requisitou as imagens que seriam geradas pelas duas (2) câmeras instaladas a menos de dez metros da sede UPP da Rocinha, contudo, recebeu a informação de que estas estariam desligadas.

Estupefato com a informação, requisitou o disco onde são gravados os locais percorridos pela viatura que levou Amarildo para a sede da UPP da Rocinha e, como resposta, recebeu a informação que os GPSs das viaturas também estavam desligados.

João Tancredo, presidente do DDH, foi até o local e pôde observar a existência de duas outras câmeras de vídeo instaladas logo abaixo da UPP, em locais que Amarildo teria obrigatoriamente de passar para voltar para sua casa após deixar a unidade policial. Não há outro caminho. As câmeras instaladas nestes locais funcionavam, contudo, nestas não se pôde ver a imagem de Amarildo.

Amarildo foi de fato assassinado. A triste e dura verdade é que a PM, disto tem certeza a família, “desapareceu” com Amarildo. E, para encobrir esse brutal assassinato, diversas tentativas espúrias de desincumbir de responsabilidade os policiais militares foram postas em prática.

Na última semana, duas testemunhas do processo acusaram o major Edson Santos de obriga-las a mentir em seus depoimentos, a fim de sustentar a hipótese de que o traficante Catatau teria matado ou mandado matar Amarildo, ligando sua imagem ao tráfico local.

O DDH, representado pelo advogado João Tancredo, moveu Pedido de Declaração de Morte Presumida de Amarildo (denegado em primeira instância), bem como Ação de Responsabilização Civil contra o Estado, com pedido de dano moral pelo sofrimento imposto, e de pagamento de indenização material na forma de pensão (tendo em vista que o ajudante de pedreiro era o provedor da família) e de custeio de tratamento psicológico aos seus familiares, na tentativa de superar a dor da perda e do desaparecimento do corpo – garantidos por meio de liminar expedida no dia 10 de setembro.

Seguimos prestando assistência jurídica nas esferas cível e criminal à família de Amarildo. Seguimos lutando pela apuração e declaração de sua morte e pelo fim da militarização da segurança pública, que gera o extermínio da população das periferias do Brasil.

Instituto de Defensores de Direitos Humanos

Este artigo foi originalmente publicado pelo website do DDH