Alto oficial militar chinês destituído em expurgo político

01/07/2014 12:58 Atualizado: 01/07/2014 12:59

Num gesto dramático na segunda-feira, quatro funcionários chineses do alto escalão foram expulsos do Partido Comunista no mesmo dia, um deles um alto oficial militar, todos culpados de associação à velha guarda da liderança chinesa, que o atual líder chinês Xi Jinping tem purgado sistematicamente.

Xu Caihou, o mais importante dentre eles, foi até o final de 2012 o vice-presidente do Comitê Militar Central, que controla o Exército da Libertação Popular (ELP) em nome do Partido Comunista Chinês (PCC). Este cargo, que lhe foi concedido por Jiang Zemin, o ex-líder chinês entre 1989-2002, fez dele um dos homens mais poderosos do exército chinês.

A influência de Jiang entre oficiais ainda na ativa e na política continuou por pelo menos uma década depois que ele deixou o cargo formalmente, pelo menos até o final de 2012. Analistas do sistema político da China sugerem que, com estes expurgos, Xi Jinping está erradicando a influência restante de Jiang no poder, controlado tenazmente por seus asseclas em diferentes partes do governo, do PCC e das forças militares.

Versão oficial

As declarações oficiais sobre Xu informaram que ele seria entregue a justiça militar para punição. Editoriais severos na mídia controlada pelo PCC justificaram a decisão como parte da luta contra a corrupção, uma questão de vida ou morte para o Partido Comunista e a China, disseram as declarações.

“A investigação de problemas graves relacionados a Xu Caihou demonstra mais claramente a atitude afiada da Central do PCC de controlar estritamente o próprio Partido e o Exército, e a atitude de tolerância zero pela corrupção”, disse um comunicado no Diário do Povo, uma mídia porta-voz oficial do PCC.

A avalanche da mídia contra os crimes de Xu foi claramente coordenada, com a Xinhua, a agência oficial de notícias do regime chinês, e o Diário do ELP, o jornal porta-voz dos militares, fornecendo também sua própria visão dos desenvolvimentos.

“Quadros dirigentes em todos os níveis devem nutrir seu espírito do Partido, estabelecer firmemente sua visão, perspectiva de vida, valores, autoridade, posição e interesses pessoais segundo o marxismo, e conscientemente suportar todo o tipo de persuasão e teste”, afirmou a Xinhua.

“Nossos militares são o grupo armado que cumpre as missões políticas do Partido”, disse o Diário do ELP. “O Exército tem as armas em punho, e não haverá lugar onde elementos corruptos possam se esconder. A exigência política do Partido para o exército é que este deve ser absolutamente leal, puro e confiável.”

Todos os canais oficiais se estenderam em salientar os elementos formais do caso: a corrupção – o uso de uma posição de poder para ajudar outros inadequadamente, o clientelismo, o peculato de familiares e muito mais. Aproveitando a oportunidade, os canais oficiais também reforçaram a necessidade de seguir estritamente o mando de Xi Jinping.

Facções políticas

Apesar disso, um exame dos laços pessoais, das trajetórias de carreira e afiliações dos quatro indivíduos removidos do Partido Comunista revela um conjunto claro de conexões: todos eles estavam associados ou foram promovidos diretamente pelo ex-líder chinês Jiang Zemin ou Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública chinesa que foi também expurgado recentemente e é um protegido de longa data de Jiang Zemin.

“Essas últimas detenções novamente nos levam a perguntar se Xi é realmente um cruzado anticorrupção, extirpando a corrupção no ELP, ou se ele busca principalmente eliminar seus rivais políticos”, escreveu Jacqueline Newmeyer Deal, presidente do Long Term Strategy Group LLC, localizado em Cambridge, Massachusetts, num e-mail. “Parece difícil negar o primado das motivações políticas, porque muitos dos visados estavam associados a Bo Xilai e Zhou Yongkang. Todos sabemos que a esfera de corrupção na China não se limita a estas duas estrelas.”

A expulsão de Xu Caihou é um exemplo claro do clientelismo político e da importância das redes pessoais em influenciar a capacidade do Partido Comunista de realmente fazer valer seu domínio, segundo especialistas.

“Xu Caihou foi promovido por Jiang Zemin, e sob ele, Xu foi o encarregado de promover uma série de oficiais militares. Muitos oficiais militares que não queriam seguir ordens foram promovidos por Xu Caihou”, disse Cheng Xiaonong, um analista político que atualmente vive nos Estados Unidos e que outrora fazia pesquisa num instituto oficial chinês na década de 1980 sob o líder reformista Zhao Ziyang.

“Essas pessoas pertencem a Xu Caihou, e Xu Caihou pertence a Jiang Zemin. Eles são um grupo e defendem uns aos outros. Um grupo de interesse”, disse Cheng. O general Xu também seria parceiro antigo do político desgraçado Bo Xilai, que atualmente cumpre sentença de prisão perpétua.

Assim, apesar de o general Xu já não exercer qualquer poder oficial, caçá-lo e puni-lo por corrupção – um ato raro na China, e que faz de Xu o mais alto oficial a ser purgado em sua geração – envia um sinal claro e poderoso aos funcionários que ele promoveu e nutriu em suas décadas no serviço.

“As pessoas que deram dinheiro a Xu Caihou para serem promovidas agora entendem a situação. Xi Jinping está dizendo: ‘Vocês estão encurralados. Vocês escolhem lealdade política ou preferem ser presos?’”, comentou Cheng, retratando a dinâmica de poder similar aos filmes “O Poderoso Chefão”. “Xi Jinping está usando o caso de Xu Caihou como uma ameaça aos funcionários restantes: ‘Agora suas vidas estão em minhas mãos. Se vocês querem sobreviver, curvem-se.’”

Sem piedade

Observadores geralmente concordam que, uma vez que Xu foi preso em março, havia pouca chance de que ele seria tratado gentilmente: sempre que um funcionário de tão alto escalão é destituído, a punição é geralmente grave.

Os outros funcionários que foram expulsos do Partido Comunista no mesmo dia são:

• Jiang Jiemin, chefe da Comissão de Administração e Supervisão dos Ativos Estatais, a agência que supervisiona todas as empresas estatais da China, e ex-presidente da Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), a maior empresa estatal de petróleo;

• Li Dongsheng, vice-ministro da Segurança Pública e chefe da Agência 610, uma subdivisão extralegal da polícia secreta do Partido Comunista criada por Jiang Zemin em 10 de junho de 1999 para coordenar a perseguição brutal ao grupo espiritual do Falun Gong;

• Wang Yongchun, ex-vice-presidente da CNPC e membro suplente do Comitê Central do Partido Comunista.

Estes homens são aliados conhecidos da facção de Jiang Zemin e Zhou Yongkang, como indicado pela trajetória de suas carreiras em áreas politizadas da China, como a segurança pública e o setor do petróleo, fortemente preenchidos com aliados e usados para obter lealdade pessoal. Zhou era conhecido como o padrinho da lucrativa indústria do petróleo, que no ano passado passou por uma profunda limpeza de investigadores anticorrupção do Partido Comunista. Jiang Jiemin e Wang Yongchun foram colocados sob investigação em agosto de 2013 por “graves violações da lei e da disciplina”.

Bo Xilai e Zhou Yongkang, aliados de Jiang Zemin, teriam tramado um golpe contra Xi Jinping em torno da grande transição da liderança, quando Xi subiu ao poder em 2012. Analistas do sistema político chinês, previamente entrevistados pelo Epoch Times, disseram que a tentativa de golpe foi motivada por Jiang Zemin e pelo desejo de seus aliados de manter o controle sobre o Partido Comunista para garantir que não sejam responsabilizados pelos crimes cometidos na perseguição genocida ao Falun Gong que ainda continua.

O desespero destes funcionários para manter o controle sobre as alavancas do poder, segundo esta análise, teria forçado Xi Jinping a realizar um expurgo de longo alcance e sem piedade. Relatórios oficiais informaram que até agora mais de 400 funcionários foram afastados do cargo – de fato um número desconhecido por causa do amplo envolvimento da camarilha de Jiang Zemin. Vários funcionários morreram devido à tortura durante interrogatórios e outros tantos se ‘suicidaram’.