A campanha do líder chinês Xi Jinping para purgar o Partido Comunista de pendências políticas reivindicou seu alvo de mais alta patente ainda em exercício, com o anúncio em 14 de junho da investigação do vice-presidente do órgão consultivo político do regime chinês.
Su Rong era o segundo no comando da Conferência Consultiva Política Popular da China, um órgão político único no sistema chinês, originalmente projetado para colocar grupos sociais não comunistas sob o controle do Partido Comunista Chinês (PCC).
O Comitê Central de Inspeção Disciplinar, que realiza investigações secretas de funcionários do PCC antes de entregá-los à Justiça, anunciou apenas que Su Rong era suspeito de “graves violações da disciplina e da lei”. No linguajar comunista chinês, essas geralmente são palavras-código para corrupção.
Expurgo em andamento
Xi Jinping, logo que assumiu o poder em novembro de 2012, tem sistematicamente purgado o PCC de quadros pertencentes à velha guarda, em nome de um esforço de combate à corrupção. Xi também têm realizado uma forte repressão à corrupção no amplo corpo de funcionários do PCC e do governo.
Até a queda de Su Rong, o funcionário mais notável purgado foi Zhou Yongkang, o ex-chefe das forças de segurança pública que foi nomeado por Jiang Zemin. Zhou estaria agora sob o controle estrito do PCC. Zhou, junto com o atualmente preso Bo Xilai, teriam coordenado uma conspiração para derrubar Xi Jinping do poder.
Su Rong também tem sido um aliado de longa data do ex-líder chinês Jiang Zemin, que comandou formalmente o poder no PCC entre 1989-2002, mas manteve vários graus de controle informal pelo menos até o final de 2012. Essa influência foi estendida por meio de uma rede de funcionários, como Su Rong e Zhou Yongkang, que deviam suas carreiras e poder a Jiang Zemin.
Su, de 65 anos, é o oficial de mais alta patente na liderança nacional a ser purgado desde que Xi Jinping assumiu o poder.
Surpresa pública
A queda de Su veio como um choque para o público, em parte por causa da rapidez.
Sua última aparição pública foi em 10 de junho, apenas quatro dias antes de a investigação ser anunciada. A mídia oficial disse que ele visitou a província de Qinghai, no Noroeste da China, entre 8-10 de junho.
E em março do ano passado, ele foi promovido a vice-presidente da Conferência Consultiva Política, um cargo de prestígio, mesmo que não exerça qualquer controle direto sobre os instrumentos do Estado.
Turbulência nos bastidores
Mas aqueles atentos às turbulências da luta pelo poder no Partido Comunista Chinês poderiam prever que Su Rong provavelmente encontraria problemas mais cedo ou mais tarde.
Antes de sua promoção em março passado, houve relatos na imprensa chinesa dizendo que sua esposa era suspeita de envolvimento numa série de negócios de terra e de construção de honestidade duvidosa. Reportagens dessa natureza frequentemente são o prelúdio de uma purgação a caminho.
Além disso, e proeminentemente, o próprio Su Rong tem uma longa história com o ex-líder comunista Jiang Zemin. Jiang e sua campanha política pessoal de perseguição ao Falun Gong são elementos comuns, mas não declarados em muitos dos expurgos recentes no alto escalão do PCC.
Parceiros no crime
Su Rong desempenhou um papel de liderança na perseguição ao Falun Gong quando ele era um funcionário de nível provincial e construiu laços estreitos com o então líder chinês Jiang Zemin, que começou a perseguição do grupo em julho de 1999. O Falun Gong é uma prática de meditação tradicional baseada nos princípios de verdade, compaixão e tolerância e reuniu cerca de 70 milhões de praticantes na China até 1998, segundo estatísticas oficiais da época.
Quando Su era vice-secretário do Comitê do PCC na província de Jilin em 1999-2001, ele também era o chefe do “Pequeno Grupo de Liderança para Lidar com a Questão do Falun Gong”, segundo a ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG), uma instituição de pesquisa que investiga websites oficiais em busca de informações incriminatórias.
O trabalho do Pequeno Grupo de Liderança era coordenar esforços para perseguir os praticantes do Falun Gong na província de Jilin, principalmente detendo-os, encarcerando e torturando física e mentalmente, com o objetivo fazê-los renunciar a suas crenças espirituais e jurar lealdade ao Partido Comunista.
Cumprimentos e promoções
Su foi reconhecido por seu papel especial na campanha com uma saudação no Diário do Povo, uma mídia estatal porta-voz do PCC, em outubro de 1999.
Sob a liderança do Su, pelo menos 23 praticantes do Falun Gong foram mortos na província de Jilin, segundo a WOIPFG, que cuidadosamente reconstruiu sua carreira usando documentos públicos, combinados com declarações que Su fez encorajando as ações violentas empregadas pelas forças de segurança na campanha contra os praticantes do Falun Gong.
Por seus esforços na província de Jilin, Su foi promovido a secretário do Comitê do PCC na província de Gansu, Noroeste da China, em outubro de 2001. Ele rapidamente começou a trabalhar, fazendo aparições de destaque para demonstrar a atitude política ‘correta’ a respeito do Falun Gong – publicou artigos em jornais ideológicos do Partido Comunista atacando a prática com termos viciosos, visitou os departamentos de segurança pública locais para incentivar o uso da violência e instruiu os tribunais e procuradorias a intensificarem sua atividade contra o Falun Gong.
Fugitivo da lei
Em outubro de 2004, quando Su Rong visitava a Zâmbia com um grupo de outros funcionários do PCC, ele foi intimado com os papéis de uma ação civil por homicídio, tortura e difamação de praticantes do Falun Gong, segundo um artigo de 2004 no Minghui, um website do Falun Gong.
O Minghui informou que o Supremo Tribunal da Zâmbia emitiu um mandado de prisão e despachou a polícia para procurar Su, ordenando-o a permanecer no país para uma audiência em 8 de novembro. Mas ele fugiu do país pela fronteira Chirundu com a assistência do consulado chinês local.
Quando Su voltou à China, ele se tornou o vice-diretor-executivo da Escola Central do PCC em Pequim, o principal centro de doutrinação e formação ideológica de quadros do Partido Comunista, de 2006 a 2007. O diretor da escola na época era Zeng Qinghong, o ex-vice-presidente da China e ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, muitas vezes chamado de “o executor” de Jiang Zemin, encarregado de eliminar adversários políticos ou inconvenientes por quaisquer meios necessários.
Um ano depois, Su foi promovido a secretário do PCC na província de Jiangxi, no Sudeste da China, provavelmente por recomendação de Zeng Qinghong, cuja cidade natal é Jiangxi e onde ele tinha grande influência no local.
Zeng Qinghong está agora sob controle interno do PCC, o que limita seus movimentos e aparições públicas, conforme informou o Epoch Times recentemente, baseado numa fonte extremamente confiável. Outros associados de Jiang Zemin também foram eliminados.
Três altos funcionários do PCC na província de Jiangxi foram exonerados no ano passado, incluindo Chen Anzhong, o ex-vice-diretor do Comitê Permanente da Assembleia Popular Provincial.
Lado perdedor
Agora o círculo se fecha para Su Rong. À semelhança de outros altos funcionários do PCC que entusiasticamente implementaram a campanha anti-Falun Gong – incluindo Li Dongsheng, o chefe da secreta e extralegal Agência 610, cuja única tarefa é perseguir o Falun Gong, e Zhou Yongkang, o ex-chefe do aparato nacional de segurança pública –, as alianças de Su Rong à antiga liderança chinesa se tornaram a razão de sua miséria atual.
Analistas políticos dizem que é altamente improvável que a purgação destes oficiais por parte de Xi Jinping vise a retratar o Falun Gong. Pelo contrário, é porque juntos eles formavam um centro de poder político e influência que se conservava unido devido à campanha genocida de perseguição ao Falun Gong. Eles estão sendo purgados simplesmente porque representam uma ameaça à autoridade de Xi Jinping, dizem analistas – e não há sinais de que a perseguição ao Falun Gong diminuirá como resultado.