Ex-alto oficial chinês Zeng Qinghong está sob ‘controle interno’

01/06/2014 14:31 Atualizado: 01/06/2014 14:31

Uma figura poderosa nos bastidores do regime chinês e um dos principais oficiais do Partido Comunista Chinês está agora sob uma forma de “controle interno”, segundo uma fonte com conhecimento das circunstâncias.

As atividades e aparições públicas do oficial Zeng Qinghong estão sendo restringidas, disse a fonte. O controle de Zeng teria sido instituído sob as ordens do líder chinês Xi Jinping, porque ele julga que Zeng é uma ameaça a seu governo e até mesmo a sua vida, disse a fonte.

Zeng foi vice-presidente da China e membro do Comitê Permanente do Politburo, o pequeno grupo da liderança do Partido Comunista que controla o país. Ao longo de décadas entre os funcionários do alto escalão do Partido Comunista e nos bastidores do poder, ele ganhou uma reputação de politiqueiro cruel e construiu uma grande rede de clientelismo político e influência.

Publicamente silencioso e sorrateiro, Zeng foi por quase duas décadas o braço-direito de Jiang Zemin, o ex-líder chinês que assumiu o comando do Partido Comunista após o massacre de 4 de junho de 1989 e que controlou as rédeas do poder na China direta ou indiretamente até 2004. Willy Lam, analista político de longa data do Partido, descreve Zeng como um “alter ego e executor” sob Jiang. Ele também estava associado ao político chinês desgraçado Bo Xilai e ao ex-chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang.

Após Jiang Zemin deixar o cargo inteiramente em 2004, ele ainda manteve forte influência sobre a política chinesa por meio de uma extensa rede de aliados. Dois de seus protegidos, Zhou Yongkang e Bo Xilai, tentaram ameaçar a ascensão de Xi Jinping e sua consolidação do poder no Partido Comunista antes do 18º Congresso do Partido em 2012, a transição da liderança chinesa que ocorre uma vez a cada década, segundo outras fontes na China que falaram com o Epoch Times.

Bo Xilai e sua esposa Gu Kailai estão agora na prisão por acusações de corrupção e assassinato, enquanto Zhou Yongkang está no centro de uma investigação por mais de um ano e pode enfrentar julgamento criminal. De acordo com um ex-funcionário ministerial do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o órgão estatal que controla todo o aparato de segurança pública na China, Zhou está agora sob custódia. Quaisquer punições públicas seriam baseadas ostensivamente em razões não-políticas, como corrupção.

A fonte explicou que Zeng Qinghong, Bo Xilai, Zhou Yongkang e Jiang Zemin, antes da transição da liderança que instalou Xi Jinping no poder em 2012, arquitetaram juntos um plano para marginalizar Xi Jinping e promover Bo Xilai de forma que eventualmente este se sentasse no trono do Partido Comunista. Bo Xilai e Zhou Yongkang eram os atores principais na conspiração, que chegou a tramar a morte de Xi Jinping.

Zeng Qinghong fazia parte desses planos e coordenou algumas atividades para minar o governo de Xi, disse a fonte. Com a prisão de Bo Xilai e a detenção de Zhou Yongkang no ano passado, Zeng Qinghong assumiu a comando desta rede de poder e influência que se opõe ao regime de Xi, disse a fonte. Agora Xi Jinping está tomando medidas contra Zeng, disse a fonte – deixando em aberto a possibilidade de que Jiang Zemin seja o próximo alvo.

Estes acontecimentos ocorreram apesar do apoio de Zeng, em anos anteriores, à promoção de Xi Jinping. “Naquela época, Zeng não tinha escolha. Bo Xilai era muito polêmico”, disse a fonte.

A fonte que forneceu a informação sobre Zeng ao Epoch Times está próxima de Zhongnanhai, a central da alta liderança do Partido Comunista. A fonte é considerada extremamente confiável por causa seu de acesso aos bastidores do regime chinês e por informações anteriormente divulgadas sobre as maquinações internas do Partido Comunista que mais tarde se provaram precisas.

Uma aparência incomum

Devido à falta de transparência na condução política na China, as aparições públicas de líderes atuais e antigos do Partido Comunista são observadas atentamente por analistas e quadros no sistema, como um barômetro da fortuna política dos funcionários em questão.

As circunstâncias de aparições públicas de Zeng Qinghong nos últimos meses deram a observadores algumas pistas sobre o status atual de Zeng.

Zeng visitou recentemente a Galeria de Arte Han Tianheng de Shanghai em 14 de maio, segundo reportagens que apareceram primeiramente em mídias sociais e que se espalharam pela imprensa de Hong Kong e alguns websites de notícias do continente. Ele foi fotografado junto com o filho do ex-líder chinês Jiang Zemin e um número de funcionários de Shanghai.

A notícia não foi reportada por qualquer um dos jornais e websites oficiais que republicam regularmente grande volume de notícias. A fonte que discutiu o status de Zeng disse que isso foi deliberado e que visava a enviar uma mensagem aos membros do Partido Comunista, que Zeng pode aparecer no âmbito privado, mas que nenhuma mídia oficial reportará sobre ele, e que ele não tem permissão para aparecer em eventos oficiais. A fonte disse que Zeng está sob vigilância e uma forma de controle que limita seus movimentos, aparições públicas e sobretudo sua capacidade de se comunicar com seus aliados. Um arranjo semelhante foi estabelecido ao redor de Zhou Yongkang, disse a fonte. Essas medidas são extralegais e frequentemente interpretadas como as fases iniciais do expurgo político de um alvo.

O início deste movimento contra Zeng foi notado por sua ausência de um evento público no início deste ano. Em janeiro, mais de uma dezena de antigos altos funcionários enviou condolências ou participou do funeral do magnata cinematográfico de Kung Fu de Hong Kong e filantropo Run Run Shaw. Além dos principais líderes atualmente no poder mencionados na mídia oficial, estiveram presentes Peng Qinghua, o ex-chefe do Escritório de Ligação do Partido Comunista Chinês em Hong Kong, e Chen Zuoer, p ex-vice-diretor do Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau. Esperar-se-ia normalmente que Zeng tivesse uma posição de destaque num evento como este, pois Shaw é uma figura pública de destaque em Hong Kong e Zeng, que foi chefe do ‘Pequeno Grupo de Liderança para Assuntos de Hong Kong e Macau’ do Partido Comunista, foi por mais de uma década um oficial crucial no fortalecimento da influência e penetração do Partido Comunista nos assuntos políticos de Hong Kong. Mas Zeng não esteve presente.

Problemas familiares, investigações

Outra indicação da saúde política de um membro de alto escalão do Partido Comunista Chinês é a forma como seus familiares estão prosperando.

Durante a investigação do ex-chefe de segurança pública Zhou Yongkang, por exemplo, houve vários relatos de que seu filho Zhou Bin esteva no centro de uma investigação de corrupção. Reportagens na mídia chinesa forneceram relatos detalhados dos negócios obscuros que Zhou Bin estava envolvido e sua rede de contatos governamentais e empresariais também foi exposta na imprensa. Prisões e publicidade sobre o caso se sucederam. Tudo isso não teria sido possível se a posição política de Zhou Yongkang não tivesse se degradado significativamente.

Um processo semelhante parece estar ocorrendo no caso de Zeng Qinghong. Em 17 de abril, o Escritório Nacional de Auditoria da China anunciou que começaria uma auditoria da State Grid Corporation, presidida por Liu Zhenya. Liu tem sido amplamente associado a Zeng Wei, o filho de Zeng Qinghong, por meio da pilhagem do Grupo Shandong Luneng, um grande conglomerado industrial estatal com bilhões de dólares em ativos.

Em 23 de abril, Wang Xiaoling, a sobrinha da esposa de Zeng Qinghong, Wang Fengqing, foi nomeada em reportagens da mídia chinesa e acusada de uma série de crimes por um réu num processo judicial. Enquanto ministra da propaganda na província de Guangdong, Wang teria embolsado 70 milhões de yuanes (US$ 11,2 milhões) por meio de compras de ações obscuras de uma empresa de mídia enquanto esta era adquirida e reestruturada. Wang teria muitas vezes ostentado seus laços com o tio Zeng.

Conexões familiares são frequentemente uma fonte de capital político na China. Como Zeng era um dos funcionários mais poderosos no país, essas reportagens, em particular a nomeação de sua sobrinha, não teriam sido permitidas ou teriam sido posteriormente censuradas se Zeng conservasse o peso político que desfrutou outrora.

Há ainda a humilhação pública e a investigação, no início deste ano, de Song Lin, o ex-presidente da China Resources, uma enorme entidade estatal estabelecida em Hong Kong antes de o Partido Comunista assumir o poder na China. Embora na superfície ele fosse o presidente de uma empresa de Hong Kong, Song Lin tinha o status de um funcionário de alto escalão do Partido Comunista.

“O Comitê do Partido Comunista encarregado dos assuntos de Hong Kong e Macau se tornou o feudo de Zeng Qinghong durante a era Jiang Zemin”, disse Cheng Xiaonong, um estudioso do sistema político chinês, num programa recente da Voz da América. “Então, mover-se contra Song Lin e o Comitê do Partido em HK significa que Xi Jinping começou a tomar o território que Zeng Qinghong controlava em Hong Kong. Esta é uma mudança significativa.”

Em fevereiro, a mídia chinesa no exterior informou que Zeng Wei, filho de Zeng Qinghong, foi colocado sob detenção quando retornou à China. Esses websites, que propagam rumores de expurgos políticos, previram com precisão a queda de Bo Xilai e Zhou Yongkang antes de qualquer um de seus destinos ter sido pronunciado oficialmente ou reconhecido por analistas externos.

Sociedade de camaradas

O movimento de Xi Jinping contra Zeng Qinghong representa uma expansão do expurgo político num dos polos de poder no Partido Comunista, que por muito tempo existiu paralelamente às linhas formais e oficiais da autoridade.

A existência deste grupo se tornou evidente para os observadores na transição de poder de Jiang Zemin para Hu Jintao, em 2002. O líder supremo da China comunista ocupa três posições: chefe de Estado, secretário-geral do Partido Comunista e comandante militar. Em 2002, Jiang Zemin surpreendeu os analistas, retendo (até 2004) o papel de chefe do Comitê Militar Central, que controla as forças armadas do país.

Além disso, Jiang Zemin expandiu o tamanho do Comitê Permanente do Politburo de sete para nove membros e preencheu as posições com seus próprios asseclas. “Seu sucessor como chefe do Partido, Hu Jintao,… só podia contar com o primeiro-ministro Wen Jiabao,… o terceiro na hierarquia do regime”, escreveu John Tkacik, um ex-oficial do Departamento de Estado dos EUA especializado em política chinesa, numa longa análise de 2004. “O Jiang aposentado durante o 16º Congresso do Politburo do Partido é muito mais influente do que jamais foi na liderança do 15º Congresso”, escreveu ele.

Este grupo de homens, no mandato de Jiang e no de seu sucessor Hu Jintao, formou sua base de poder e de interesses. Enquanto eles mantinham o controle sobre as alavancas do poder político – controlando especialmente os aparatos de propaganda e de segurança do regime –, seus filhos enriqueceram por meio do acesso irrestrito aos bens e franquias estatais. Relatórios, revelações e anedotas em revistas políticas de Hong Kong durante esses anos alegaram que os familiares desses indivíduos adquiriram centenas de bilhões de dólares em ativos.

Jiang Zemin também era conhecido por acelerar a promoção de funcionários que mostravam submissão e disposição para implementar sua cruzada pessoal de perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong, uma campanha que começou em 1999 e fez uso irrestrito dos recursos do Estado chinês. O poder de Jiang continuou a se estender, mesmo que de forma atenuada, no segundo mandato de Hu Jintao, de 2007 a 2012.

Tanto Bo Xilai como Zhou Yongkang devem suas carreiras a implementação entusiasta e brutal da campanha anti-Falun Gong. Fontes na China disseram ao Epoch Times em várias ocasiões em 2012 como os dois conspiraram para marginalizar Xi Jinping e tomar o poder supremo na China. Esses planos foram perturbados no início de 2012, quando Wang Lijun, o braço-direito de Bo Xilai e chefe de polícia de Chongqing, teria se vestido de mulher e fugido para a embaixada dos Estados Unidos em Chengdu, abrindo uma cisão no núcleo do Partido Comunista Chinês.

Bo Xilai foi rapidamente detido sob a acusação de conduta ilegal e corrupção e sua esposa Gu Kailai também foi detida e posteriormente submetida a processos judiciais.

Após assumir o poder, Xi Jinping certificou-se de pôr os dois na prisão e depois direcionou seu poder fogo contra Zhou Yongkang. Zhou, que como Zeng Qinghong é um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, está no centro de uma investigação abrangente. Seu cargo mais recente era como chefe das forças de segurança, uma posição de poder que comanda um orçamento de mais de US$ 120 bilhões.

Xi Jinping teria detido e interrogado Zhou e seus familiares próximos. Uma série de funcionários com laços conhecidos com Zhou nos setores governamentais e indústrias que ele exerceu grande influência – incluindo o setor de petróleo, a província rica em energia de Sichuan, a província de Liaoning e o aparato de segurança interna – foram publicamente expurgados e alguns deles foram presos e interrogados.

Repetição do caso de Zhou?

Observadores ocidentais têm comentado sobre a natureza rara de uma campanha desse tipo: por que Xi Jinping tem ido atrás de Zhou Yongkang, recentemente um dos oficiais mais poderosos da China, imediatamente após ser empossado?

Roderick MacFarquhar, professor da Universidade de Harvard e um dos analistas mais meticulosos do Partido Comunista Chinês e de sua dinâmica interna, abordou a questão em abril durante um evento na Universidade de Harvard em memória ao massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989.

“Estamos observando na própria liderança do Partido Comunista uma luta extraordinária”, disse MacFarquhar nas observações finais do dia. “Pela primeira vez no período de reforma [pós-Mao Tsé-tung]… a família de um ex-membro do Comitê Permanente está sendo colocada sob enorme pressão.”

Zhou Yongkang deve ser punido sob o pretexto da luta contra a corrupção, disse MacFarquhar, acrescentando: “É pouco provável que seja apenas corrupção… É sobre o fato de que Zhou Yongkang pode ter tomado medidas para evitar que Xi Jinping assumisse a liderança.”

De acordo com a informação fornecida pela fonte, os observadores devem se preparar para uma repetição do episódio, desta vez contra Zeng Qinghong.