De Genebra, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) emitiu um alerta, em 9 de setembro, devido a uma “súbita elevação nos níveis de dióxido de carbono”
“A quantidade de gases de efeito estufa presente na atmosfera alcançou um novo máximo em 2013”, disse o boletim anual da OMM. Afirmou também que isso trará “consequências devastadoras”, o que requer uma reação imediata da sociedade.
O secretario geral da OMM, Michel Jarraud, advertiu que, “longe de diminuir, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou no ano passado em um ritmo que não se havia visto em 30 anos.”
“Temos que inverter essa tendência, reduzindo as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa, como medida geral”, disse Jarraud, acrescentando: “Estamos correndo contra o tempo”.
“Estamos absolutamente certos de que o clima está mudando e que o clima está se tornando cada vez mais extremo, devido às atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis”, afirmou Michel Jarraud.
A comunidade científica exige que a redução seja maior do que os governos estão planejando.
Meteorologistas veem que entre as causas, além das atividades humanas e do aumento na liberação de gás por parte das empresas, está a redução de ambientes biologiamente adaptados para a vida na Terra: uma redução adicional de gases na atmosfera poderia continuar ocorrendo naturalmente, mas devido à crescente destruição de partes da biosfera, a capacidade de absorção de CO2 pelo ecossistema global está passando a ser insuficiente.
De acordo com a OMM, “Dados preliminares sugerem que esse aumento possivelmente obedeça à redução da quantidade de CO2 absorvido pela biosfera da Terra, juntamente com o constante aumento das emissões desse gás”.
Jarrau sublinhou que “isso faz com que a necessidade de uma ação internacional conjunta frente à aceleração das alterações climáticas – cujas consequências podem ser devastadoras – seja mais urgente do que nunca.”
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O aumento de CO2, metano e óxido nitroso
O relatório observou que, entre 1990 a 2013, “o forçamento radiativo* experimentou um aumento de 34%, devido a gases de efeito estufa em longo prazo, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) “.
Este efeito da radiação é o que “causa um efeito de aquecimento global”.
Os valores apresentados pela OMM em 2013 foram convincentes. Em comparação com os períodos pré-industriais, de antes de 1750, tivemos em 2013:
• 142% a mais de CO2 na atmosfera,
• 253% a mais de metano,
• 121% a mais de óxido nitroso.
O programa de Vigilância Atmosférica Global (VAG) da OMM informou que os níveis de CO2 aumentaram mais entre 2012 e 2013 do que durante qualquer outro ano desde 1984.
Outros dados divulgados pela Administração Nacional Atmosférica e Oceânica (National Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA) dos Estados Unidos são:
• O CO2 contribuiu 80% para o efeito estufa entre 1990-2013,
• seu percentual em 2013 chegou a 396 partes por milhão (ppm)
• seu aumento foi de 2,9 ppm entre 2012 e 2013; um recorde em 30 anos.
“Se o crescimento continuar no ritmo atual, espera-se que a concentração média anual global de CO2 ultrapasse o limiar simbólico dos 400 ppm em 2015 ou 2016”, segundo a OMM.
• O gás metano é o segundo a contribuir para o efeito estufa,
• em 2013 chegou a 1.824 partes por bilhão, um novo recorde.
40% do gás metano são provenientes de fontes naturais, como as zonas úmidas e os cupins, enquanto que cerca de 60% vêm de atividades humanas, como a pecuária, o cultivo de arroz, a exploração de combustíveis fósseis, aterros, queima de biomassa.
• O percentual de óxido nitroso em 2013 foi de 325,9 partes por bilhão.
“Seu efeito sobre o clima ao longo de um período de 100 anos, é 298 vezes maior do que as mesmas emissões de dióxido de carbono”, lembrou a OMM.
O óxido nitroso também contribui significativamente para a destruição da camada de ozônio estratosférico, que protege os seres humanos contra os raios ultravioletas do sol.
As interações entre a biosfera e os oceanos
Segundo o relatório da OMM, as concentrações atmosféricas de CO2 são o resultado de complexas interações que sofrem as emissões de gases. Isto ocorre principalmente no nível da biosfera, que, ao ser degradada, vê uma redução na absorção dos gases.
Isso também afeta os oceanos, que, frente ao aumento das emissões, encontram-se sob pressão para aumentar a absorção de CO2; os oceanos absorvem e reduzem em grande parte o gás presente no ar. Mas, igualmente ocorrem interacções [gasosas] na própria atmosfera.
Mas, um dos problemas notados pelos cientistas é que a elevada absorção de gás pelos oceanos aumentou a sua acidez de uma forma jamais vista.
A esse respeito, a OMM, segundo uma análise feita no relatório, explicou que “o aumento de CO2 na atmosfera se vê atenuado através da absorção do gás pelos oceanos, mas eles pagam caro por isso. Não parecem existir precedentes para a atual taxa de acidificação dos oceanos, ao menos durante os últimos 300 milhões de anos “.
“Se o aquecimento global não é considerado uma razão suficiente para reduzir as emissões de CO2, a acidificação dos oceanos deve ser, porque os seus efeitos já estão sendo sentidos e só vão aumentar ao longo das décadas. Faço minhas as preocupações expressadas pelo Sr. Jarraud, disse Wendy Watson-Wright, secretária executiva da Comissão Oceanográfica Intergovernamental das Nações Unidas para a UNESCO.
“Estamos correndo contra o tempo”, comentou a secretária executiva, compartilhando a opnião de Jarraud.
Consequências da acidificação
Estudos citados pela OMM observaram que entre as possíveis consequências da acidificação dos oceanos estão as alterações de organismos com conchas, cascos e esqueletos que exigem calcificação, como os corais, as algas, moluscos e diversas espécies de plâncton.
Para muitos organismos, a descalcificação significa menor taxa de sobrevivência, desenvolvimento e crescimento, bem como alterações em suas funções fisiológicas e diminuição da biodiversidade.
Pesquisas anteriores descobriram que esta acidificação está destruindo os caracóis na Antártida, assim como na costa oeste dos EUA.
Previsões pouco animadoras
As previsões não são muito animadoras. Segundo Jarraud, “o dióxido de carbono permanece na atmosfera por centenas de anos e sobre o oceano muito mais. As emissões de CO2 do passado, presente e futuro terão um efeito cumulativo tanto para o aquecimento da Terra, como para a acidificação dos oceanos. As leis da física não são negociáveis “.
Os países acordaram tentar fazer com que o aumento da temperatura seja limitado a 2 °C, para dar uma nova chance para o planeta e para as gerações futuras. “Não se pode alegar ignorância como uma desculpa para não agir”, disse Jarraud.
* Forçamento radiativo, grosso modo, é o desbalanço entre a energia que entra e a energia que sai do planeta Terra.