A produção de alimentos dos EUA mudou drasticamente nos últimos 70 anos, e a saúde das comunidades rurais vizinhas sofre como resultado.
No processo de criação de gado para produção de carne, fazendas industriais modernas também produzem altos níveis de sulfeto de hidrogênio, partículas aéreas contaminantes e alérgenos que geram múltiplos problemas respiratórios, cardiovasculares e neurológicos nas pessoas que vivem nas proximidades.
De acordo com a Escola John Hopkins-Bloomberg de Saúde Pública, agências de agricultura estatais que deveriam monitorar os problemas de saúde pública associados com a agricultura industrial não têm os recursos ou conhecimentos necessários para efetuar o trabalho. A universidade supervisionou um estudo, intitulado “Investigando o papel do licenciamento estatal e das agências de agricultura em abordar questões de saúde pública relacionadas à produção industrial de alimentos animais“, publicado em 24 de fevereiro na revista PLoS ONE.
De acordo com o principal autor do relatório, Dr. Jillian Fry, diretor de projeto do Centro Johns Hopkins para um Futuro Tolerável, órgãos estatais fazem o que podem com o que têm à mão, o que às vezes não é muito. Num comunicado, Fry disse que, apesar dos riscos à saúde associados com a vida perto de fazendas industriais, “a regulação destes locais é limitada e caracterizada por um mosaico de diferentes abordagens regulatórias de estado para estado”.
Os pesquisadores do estudo realizaram entrevistas com funcionários em 12 órgãos estaduais encarregados de supervisionar algumas das fazendas mais produtivas do país.
Estas entrevistas revelaram que as organizações têm pouco pessoal e financiamento onde o monitoramento ambiental, reuniões pessoais e assistência técnica necessária frequentemente são deficitários. As agências relataram que as expectativas regulatórias estreitas e frequentemente confusas e as ameaças de litígio pelo trabalho fazem a abordagem a preocupações de saúde ainda mais difícil.
Sentindo-se oprimida e subqualificadas, a maioria dos funcionários das agências convocaram os departamentos de saúde para entrarem na briga regulatória e diretamente abordarem as preocupações de saúde da comunidade.
Grande demais para regular
Grande parte do problema pode ser atribuída a uma indústria que tem crescido mais rápido e poderosamente do que as agências encarregadas de regulá-la. Na produção de carne suína dos EUA, por exemplo, uma empresa de médio agregado representaria cerca de 1.200 porcos em 1987, segundo dados do USDA. Em 2007, os números de produção para uma operação suína do mesmo porte aumentou para cerca de 30 mil porcos – um aumento de 2.400% em 20 anos.
No entanto, o aumento da produção de alimentos nos EUA tem um preço. Evidências crescentes revelam que a pecuária amontoada em espaços apertados e alimentada com uma dieta constante de antibióticos resulta em superbactérias, como o vírus MRSA, que pode ser transmitido ao ser humano, causando infecção no trato respiratório e urinário ou feridas abertas, levando por vezes a infecções mais graves e generalizadas. O abastecimento de água rural também está em risco, pois nitratos, agentes patogênicos, produtos farmacêuticos, metais e hormônios, que são parte dos resíduos da pecuária industrial e dieta, podem contaminar a água subterrânea da comunidade.
De acordo com o relatório, fazendas industriais são desproporcionalmente localizadas em comunidades de baixa renda “que são mais propensas a experimentar poder político limitado e barreiras no acesso à saúde”.