Em 6 de abril, após 15 dias detidos pelas forças de segurança no norte da China, três advogados de direitos humanos foram liberados e logo contaram a história do que aconteceu com eles enquanto estavam sob custódia: tortura, espancamentos e abuso verbal; por tentarem libertar praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual perseguida.
Quatro advogados, Zhang Junjie, Tang Jitian, Jiang Tianyong e Wang Cheng, visitaram a delegacia Jiansanjiang, na província de Heilongjiang, Nordeste da China, em 20 de março, na tentativa de garantir a libertação dos praticantes detidos.
Eles protestavam contra a detenção ilegal de cidadãos chineses num “Centro de Educação Legal” nas proximidades, operado para coagir praticantes do Falun Gong a renunciar a sua fé como condição de serem libertados. O Falun Gong inclui cinco exercícios lentos e suaves, e ensina os princípios de verdade, compaixão e tolerância. Esta prática pacífica tem sido brutalmente perseguida na China desde 1999.
A tentativa dos advogados de garantir a libertação dos adeptos resultou em sua própria detenção em 21 de março. Todos os três foram torturados, disseram eles. Zhang Junjie, libertado em 27 de março, sofreu três fraturas na coluna vertebral devido aos espancamentos da polícia. Jiang Tianyong foi pendurado com as mãos algemadas atrás das costas enquanto era espancado com um objeto duro envolto num pano.
Wang Cheng também foi brutalizado. “Eles me bateram e chutaram durante o dia, e me deixaram dependurado com algemas durante a noite e com um capuz preto na cabeça”, disse Wang em entrevista por telefone. “Eu não vi o que eles usaram para me bater, provavelmente cassetetes para golpear meu peito esquerdo, costelas e costas. Foi extremamente difícil e sinto dor ao sentar e me levantar, e até mesmo respirar profundamente e tossir me dói bastante.”
Tang Jitian disse ter sido tratado da mesma forma, e também ter sido forçado a assinar uma confissão falsa. “Eles me penduram e espancaram, me forçaram a admitir que organizei pessoas para ir ao Centro de Educação Legal, e me obrigaram a admitir que o Falun Gong é uma ‘religião do mal’. Eles também me forçaram a aceitar outras exigências ilegais.” O termo “religião do mal” é o termo propaganda escolhido pelo Partido Comunista e usado contra o Falun Gong desde o início da perseguição.
“Eles ameaçaram me enterrar vivo, retirar um dos meus rins e tomar todos os meus bens. E também disseram que me mandariam para o Centro de Educação Legal, bem como para um centro de lavagem cerebral, para me submeter à ‘conversão forçada’”, acrescentou Tang. Ele disse que sofreu fraturas de ossos e dentes quebrados.
Os três advogados foram enviados separadamente para o aeroporto de Harbin acompanhados por guardas. Embora os quatro advogados tenham sido liberados, outros 15 cidadãos que protestaram com eles contra o centro de educação forçada ainda estão sob detenção, segundo os ‘Defensores dos Direitos Humanos Chineses’ (DDHC).
Sete cidadãos foram presos junto com os quatro advogados por gritarem “slogans de religião do mal”, disse a polícia. Centenas de advogados e cidadãos chineses protestaram pela libertação dos advogados, muitos viajaram para a remota Jiansanjiang, perto da fronteira com a Rússia, para protestar diante da delegacia de polícia dia e noite. Alguns deles também foram presos.
Chen Yanlin, um desses ativistas, publicou um artigo no website dos DDHC expondo a tortura que ela sofreu e testemunhou em Jiansanjiang. Chen disse que foi espancada pela polícia, que a forçou a assinar uma confissão dizendo que ela gritou slogans do Falun Gong e exibiu faixas – coisas que ela não fez, segundo ela. “Eu condeno veementemente as atrocidades fascistas da polícia de Jiansanjiang! Eu condeno o espancamento cruel de cidadãos inocentes!”, escreveu ela.