Advogados de direitos humanos são difamados e violentados na China

30/07/2015 20:18 Atualizado: 30/07/2015 20:18

Apontando para pessoas que estavam meio ocultas dentro do tribunal, a advogada chinesa de direitos humanos Wang Yu disse: “Eles são todos bandidos.”

“Assistente, registre minhas palavras: eles são todos bandidos, todos bandidos”, acrescentou. Logo após dizer estas palavras, o oficial de justiça retirou Wang – que vestia branco – do recinto.

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O vídeo foi mostrado como parte de uma transmissão da China Central Television em 19 de julho, com muitos comentários sugerindo que Wang estava “perturbando a ordem do tribunal”, sobrepondo imagens dela com raiva apontando para os guardas.

Esta foi a mais recente tentativa do Partido Comunista de destruir a reputação de advogados defensores dos direitos humanos na China, e ela vem acompanhada de uma campanha de detenções em massa e interrogatórios dos advogados, funcionários de escritórios de advocacia e ativistas de direitos humanos em todo o país.

Mas o que a CCTV não mostrou ao povo chinês é muito mais revelador: quando a defensora e praticante de Falun Gong se levantou para protestar contra a quebra do procedimento legal, foi chutada e beliscada no pescoço por um dos guardas, e imobilizada no chão por outros três.

Em seguida, o advogado Dong Qianyong tentou protestar contra o ataque a sua cliente, explicando que ela havia sido despida e torturada quando esteve sob custódia e foi também ameaçada com choques elétricos em suas partes íntimas com bastões elétricos. Mas os outros guardas a agarraram e a retiraram violentamente do tribunal, jogando-a no chão e sufocando-a até que ela perdeu a consciência.

Foi neste ponto que Wang Yu não se conteve mais e levantou-se gritando: “é um grupo de bandidos, quatro homenzarrões subjugando uma mulher. Deviam ter vergonha!”. Em seguida, ela disse aquilo que foi mostrado no segmento da CCTV, antes de ser expulsa da sala.

Wang, de 44 anos, proveniente de Ulanhot, na Mongólia Interior, é uma das advogadas de direitos humanos mais proeminentes na China. Ela defendeu muitas pessoas importantes, como o acadêmico uigur Ilham Tohti, o artista dissidente Ai Weiwei e o ativista de direitos humanos Wu Gan.

O caso mostrado na CCTV remonta à prisão de três praticantes de Falun Gong no nordeste da China em 2013. A audiência de 22 de abril no Tribunal Distrital de Shenhe em Shenyang foi a quarta sessão, com cada uma delas repleta de irregularidades judiciais e abusos.

Nove dias antes da transmissão feita pela CCTV, as forças de segurança pública prenderam advogados, auxiliares e ativistas por toda a China. O Partido Comunista Chinês disse que estes advogados defensores de direitos humanos (que representam os mais carentes da sociedade chinesa nos casos mais difíceis de ganhar e nos casos que não envolvem dinheiro) são culpados de perturbar a ordem social e o sistema legal com o objetivo de ganhar dinheiro.

Muitos cidadãos chineses são completamente céticos com relação a tudo que o partido diz. Por exemplo, a cena mostrando Wang Yu era curta demais para a finalidade de mostrar que ela estava perturbando, disseram muitos internautas nas redes sociais chinesas. Outros queriam aprender como são os procedimentos judiciais completos.

“Em que circunstâncias a advogada Wang Yu gritou ao juiz?”, escreveu He Bing, vice-chefe da faculdade de direito da Universidade de Ciência Política e Direito da China, a “alma mater” de Wang, no microblog chinês Sina Weibo.

Duas pessoas com conhecimento da decisão de 22 de abril, um advogado da China continental e uma testemunha, disseram ao Epoch Times que a CCTV mostrou os eventos fora do contexto. Eles falaram anonimamente por causa do intenso expurgo de advogados que está acontecendo agora na China.

Wang e outros quatro advogados do escritório Fengrui em Pequim estavam defendendo três praticantes de Falun Gong, uma disciplina espiritual tradicional chinesa que tem sido brutalmente perseguida pelo partido desde 1999.

Procedimentos legais adequados são escassos na China, e quase completamente ausentes nos casos envolvendo praticantes de Falun Gong. O caso de 22 de abril não foi exceção. O juiz escolheu ouvir cada praticante separadamente, mas a lei chinesa estabelece que todos os arguidos no mesmo processo devem estar presentes ao mesmo tempo.

Wang tem criticado fortemente o tratamento violento dispensado aos seus clientes, e foi tratada duramente por suas declarações. Depois de ter protestado contra a rejeição do tribunal de Hebei em defender seu cliente em 2 de julho, os guardas a arrastaram para fora do tribunal e a jogaram “como um saco na rua”, disseram testemunhas.

Cerca de uma semana depois do incidente na província de Hebei, mais de uma dúzia de policiais invadiram a casa de Wang em Pequim e a levaram embora. O marido de Wang também foi preso e seu filho de 16 anos está proibido de viajar para a Austrália para frequentar a escola e permanece sob vigilância.

Desde as primeiras prisões em 10 de julho, mais de 240 defensores de direitos humanos têm sido alvo das forças de segurança, de acordo com a organização sem fins lucrativos ‘Preocupação pelos Advogados de Direitos Humanos na China’, baseada em Hong Kong.

Fengrui, o escritório de advocacia, que defendeu muitos casos conhecidos de direitos humanos, tem sido demonizado pelo partido e já testemunhou o desaparecimento de grande parte de sua equipe. O diretor Zhou Shifeng, Wang Yu e pelo menos três outros advogados e membros da equipe jurídica foram presos e mantidos incomunicáveis.