Acusada de ciberpirataria, China ataca mais empresas estrangeiras

30/05/2014 14:20 Atualizado: 30/05/2014 14:20

A China lançou uma série de ações em resposta às acusações do FBI e do Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA em 19 de maio contra cinco oficiais do exército chinês.

O regime chinês está pressionando seus bancos para removerem os servidores da IBM e substituí-los por produtos chineses. A mídia estatal da China começou a criticar duramente o fabricante de equipamentos de rede Cisco Systems. No mesmo dia, em 27 de maio, o regime chinês divulgou um relatório acusando os Estados Unidos de espionagem.

As acusações dos Estados Unidos enviaram uma mensagem, que o uso da espionagem pelo regime chinês para o ganho econômico não será tolerado. A China teve duas respostas: uma para o público em geral e outra para a indústria privada.

Para o público, eles negaram as acusações e tentam estabelecer equivalência entre a espionagem dos EUA para fins de segurança e a espionagem da China para o ganho econômico.

Para a indústria privada, o regime chinês está dando avisos. Tudo começou com a proibição em 20 de maio do Microsoft Windows 8 para uso do governo chinês. Em seguida, ordenou as empresas estatais que cortassem os laços com empresas de consultoria dos EUA em 25 de maio. A proibição da IBM e a difamação da Cisco vieram logo depois.

A mensagem é simples: se você quer fazer negócios aqui, fique de boca fechada.

As ações recentes são o que as empresas americanas temiam. Os relatórios iniciais sobre como o FBI e o Departamento de Justiça reuniram provas contra hackers chineses mostraram que muitas empresas não dariam um passo à frente, pois temem que isso afete seus negócios com a China.

A abordagem assumida pelo regime chinês é a mesma que a usada contra as empresas de mídia dos EUA. Em dezembro de 2013, as autoridades chinesas negaram ou atrasaram os vistos de 24 jornalistas do New York Times e da Bloomberg como retaliação contra uma série de reportagens investigativas.

As autoridades chinesas deram um passo extra ao pressionar a Bloomberg, pois as autoridades começaram a cancelar as assinaturas em terminais financeiros da Bloomberg.

A decisão da Bloomberg foi cancelar artigos investigativos sobre a China – particularmente sobre altos funcionários chineses conseguirem empregos em bancos estrangeiros e outro sobre os laços financeiros da liderança chinesa. O repórter que tornou públicas as decisões da Bloomberg, Michael Forsythe, foi colocado em “licença sem vencimento”.

As medidas recentes que o regime chinês está tomando contra as empresas norte-americanas – intencionalmente ou não – criarão pressão psicológica para fazê-las pensar duas vezes antes de seguirem em frente em contrariar o regime comunista chinês e assim sofrer represálias.

Se a estratégia dos EUA é “falar suave e exibir um grande porrete”, a estratégia do regime chinês é “fazer ameaças e exibir um saco de dinheiro”.

Jogo de palavras

A imagem internacional da China enfrenta uma crise, não só nas disputas com os Estados Unidos sobre espionagem econômica, mas também devido às inúmeras disputas internas e externas.

A estratégia do regime chinês para lidar com a pressão da opinião pública tem sido tipicamente apontar em outra direção, frequentemente para os Estados Unidos. Sua abordagem comum é tentar simular uma equivalência entre suas próprias deficiências e as ações dos outros.

Quando o regime chinês é acusado de torturar o próprio povo, ele tenta usar comparações, principalmente com os Estados Unidos, para justificar seus atos. Quando a China é criticada por sua repressão no Tibete e Xinjiang, ela aponta as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Agora que a China está sendo acusada abertamente pela utilização de espionagem para roubo econômico, os líderes chineses tentam encontrar equivalência na espionagem dos EUA.

A abordagem pode parecer razoável a primeira vista, pelo menos até olharmos os detalhes com mais atenção.

Sobre a tortura, por exemplo, o regime chinês chega ao limite do hediondo no tratamento de presos políticos e prisioneiros de consciência, usando-os como fontes de extração forçada de órgãos enquanto estão vivos, violentando mulheres com bastões elétricos e, particularmente na última década, usando métodos inimagináveis de tortura nunca vistos na história humana.

As guerras dos EUA para derrubar Saddam Hussein no Iraque e o regime Talibã no Afeganistão são muito diferentes das autoridades chinesas espancando e trucidando monges budistas desarmados ou prendendo e matando muçulmanos uigures que na pior das hipóteses só possuem facas.

Sob a mesma abordagem, a espionagem dos EUA sobre líderes chineses e empresas estatais chinesas para fins de segurança é qualitativamente diferente da utilizada pelo regime chinês para ganho econômico. As acusações contra hackers militares do Exército da Libertação Popular da China incluem o roubo de propriedade intelectual de empresas estrangeiras e o fornecimento dessas informações para empresas e monopólios estatais visando arruinar a concorrência.

A “desinformação” é o termo técnico da abordagem que o regime do Partido Comunista Chinês usa para influenciar a opinião pública. É uma tática implantada pelos soviéticos, que mistura verdades parciais e mentiras para sustentar e viabilizar uma conclusão falsa, que normalmente é engolida pelo público desinformado.

No entanto, o regime chinês está numa posição estranha. Ele estava muito bem se aproveitando da opinião pública e jogando-a contra a espionagem dos EUA para esquivar-se de críticas. A nova abordagem dos EUA, no entanto, parece prestes a quebrar esta estratégia.