Acordo sudanês de petróleo, um passo trepidante em direção à paz

16/05/2013 17:29 Atualizado: 16/05/2013 18:45
Funcionários de uma companhia de petróleo voltam ao trabalho nos campos de Thar Jath na região do Alto Nilo, no Sudão do Sul, em 6 de abril de 2013. O recomeço da exploração de petróleo foi perturbado pela troca de acusações entre o Sudão e o Sudão do Sul sobre o apoio a rebeldes e o assassinato de um chefe tribal na semana passada (Hannah McNeish/AFP/Getty Images)

A satisfação pela retomada oficial do comércio de petróleo entre o Sudão e o Sudão do Sul em 10 de maio pode não durar muito tempo.

O acordo recente marcou um grande passo na direção de pacificar as relações entre os dois vizinhos. O Sudão do Sul se separou em julho de 2011 e abarcou 75% do petróleo do Sudão.

Após uma interrupção de 15 meses, o fluxo de petróleo recomeçou nos maiores campos de petróleo na região do Alto Nilo do Sudão do Sul e do Sudão. Mas apenas um dia depois, tensões entre as duas nações africanas irromperam novamente.

Em 11 de maio, o governo de Cartum, no Sudão, acusou seu homólogo em Juba, no Sudão do Sul, de apoiar os rebeldes da Frente Revolucionária do Sudão (FRS). Os rebeldes atacaram a cidade de Um Rawaba no estado de Kordofan do Norte, no Sudão, cerca de duas semanas atrás.

Cartum advertiu que isso poderia obstruir o recente acordo de petróleo e de segurança.

Os dois países assinaram o acordo após uma semana de negociações na capital da Etiópia, Addis Abeba, em março de 2012. Juba concordou em restaurar a produção de petróleo bruto, enquanto Cartum prometeu transportar o petróleo através de seus dutos até Porto Sudão, na costa do Mar Vermelho, a partir de 10 de maio de 2013.

Apesar de o dia oficial de retomada do comércio de petróleo ter sido 10 de maio, a primeira entrega de petróleo chegou a Cartum em 13 de abril.

Em 2010, antes da secessão do Sudão do Sul, a nação era a terceira maior produtora de petróleo da África subsaariana, produzindo cerca de 490 mil barris por dia (b/d), segundo a Revisão Estatística da Energia Mundial da BP para 2010. No início de 2010, as reservas de petróleo do Sudão eram de 6,7 bilhões de barris, 80% das quais estariam no Sul.

Em janeiro de 2012, o Sudão do Sul encerrou a produção de petróleo por causa de “taxas de trânsito e tarifas exorbitantes e em protesto contra o roubo contínuo das autoridades sudanesas de seu petróleo”, conforme afirmado pelo governo de Juba.

‘Uma sensação de alívio

O novo acordo trouxe novas esperanças para ambos os lados da fronteira.

“Há uma sensação de alívio em ambos os países”, disse Luka Biong Deng, expatriado sul-sudanês e membro da Escola Harvard Kennedy. “As pessoas estão fartas da guerra e agora estão felizes que pelo menos o petróleo possa fluir.”

Com a retomada das exportações de petróleo, prevê-se a produção inicial de 150-200 mil b/d e o aumento para 250-300 mil b/d nos próximos meses.

A produção de 250 mil b/d traria ao Sudão do Sul mais de US$ 9 bilhões por ano, enquanto o Sudão ganharia mais de US$ 2 bilhões, com taxas de trânsito pelo uso de sua infraestrutura de petrodutos, além de um pacote de compensação do Sul de US$ 3,08 bilhões, segundo a revista ‘Foreign Policy’.

A desconfiança continua

Mas a desconfiança entre o Sudão e o Sudão do Sul continua elevada após 20 anos de guerra civil; os combates continuam em Darfur e nas zonas fronteiriças de Abyei, Nilo Azul e Kordofan do Sul.

Luka Biong Deng disse que há preocupação no Sul de que Cartum possa não manter sua parte do acordo. “O governo de Cartum é tão imprevisível. Algo pode acontecer e Cartum decidir interromper o fluxo de petróleo”, disse Deng.

Mas a decisão também pode vir de Juba.

Na semana passada, o presidente sul-sudanês Salva Kiir Mayardit acusou Cartum de orquestrar o assassinato de Kuol Deng Kuol, chefe da tribo Dinka Ngok. Kuol foi morto na região disputada de Abyei durante ataque a um comboio das Nações Unidas em 4 de maio.

John Akec, vice-reitor da Universidade do Norte de Bahr El Ghazal no Sudão do Sul, escreveu num e-mail ao Epoch Times: “Essas questões continuarão a ser espinhos na carne dos dois governos e ambos devem exercer políticas maduras e sábias para seguir em frente até que esses problemas sejam resolvidos sucessivamente.”

Como o Sudão do Sul depende do petróleo, que representa 98% do seu orçamento, ele tenta encontrar alternativas para exportar seu petróleo sem depender dos dutos do Sudão.

Em setembro passado, o Sudão do Sul assinou um acordo com a Etiópia e Djibouti para construir um petroduto através dos dois países. O Sudão do Sul também espera assinar um acordo similar com o Quênia, o que permitiria a construção de outro petroduto para o porto queniano de Lamu a partir de outubro.

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