Acordo de gás China-Rússia não significa fim do dólar

26/05/2014 12:44 Atualizado: 26/05/2014 12:44

Geopolítica, ofertas de recursos e hegemonia financeira: estas questões se destacaram na agenda do presidente russo Vladimir Putin ao encontrar seu homólogo chinês Xi Jinping em Shanghai em 20 de maio. Mas, em última instância, o resultado de seu conluio não significará o fim do dólar como moeda de reserva do mundo.

A assinatura de um acordo de gás de 30 anos esteve no centro da reunião e influencia questões energéticas, políticas e financeiras. O volume em termos de dinheiro e de gás é impressionante, e provavelmente por isso as negociações levaram 20 anos para serem concluídas.

A China emprestará dinheiro à Rússia para que a Gazprom construa dois gasodutos da Sibéria até o Nordeste e Noroeste da China, transportando um máximo de 60 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Os dois países discutiram recentemente sobre o preço provável entre 360-400 dólares por mil metros cúbicos, mais ou menos comparável ao que a Alemanha está pagando e importando.

Por US$ 400, estamos falando de US$ 24 bilhões que a China pagará por ano pela entrega de gás. A construção deve terminar em 2018.

Geopolítica

Os recentes acontecimentos na Ucrânia reduziram significativamente o poder de negociação da Rússia no curto prazo e ela teve de concordar com um preço mais baixo. No entanto, isso foi compensado parcialmente pelo maior volume e ‘matou dois coelhos com uma cajadada só’ em termos de benefícios estratégicos de longo prazo.

Neste momento, cerca de 80% das exportações da estatal russa Gazprom vão para a Europa, o que torna a Rússia dependente desse mercado. Ao diversificar suas exportações para a China, a Rússia torna-se menos dependente da Europa, mas a Europa permanece dependente da Rússia.

A China também se tornará mais dependente da Rússia para suas importações de gás, pois a Rússia ultrapassou o Turcomenistão como o provedor No. 1 dos 53 bilhões de metros cúbicos que a China importou em 2013.

Enquanto a China se torna mais dependente da Rússia, no entanto, isso reduz sua dependência de outras fontes de energia, que ela controla menos ainda, e por um bom preço. A China está consumindo energia muito ineficientemente, razão pela qual ela está devorando os recursos em qualquer lugar que pode encontrá-los. No ano passado, o consumo de gás cresceu 14%.

Moeda de comércio

Como cereja no topo do bolo, a China provavelmente pagará a Rússia em rublos ou em yuan pelo gás que consome. Isso é importante, já que operações de recursos geralmente ocorrem em dólares, a moeda de reserva do mundo.

O leitor deve ter notado que todos os valores até agora foram dados em dólares – ninguém sequer entenderia o preço em yuan ou rublos e teria de convertê-los em dólares para referência.

No entanto, é perfeitamente possível que a China e a Rússia usem o preço de referência mundial em dólares para liquidar suas operações em yuan ou rublos.

Tudo o que teriam de fazer para que isso ocorra é deixar que os bancos dos dois países obtenham licenças em outros países e também comecem a cooperar no nível de banco central. Em seguida, as empresas chinesas poderiam pagar a Gazprom em yuan, que ela poderia vender para outras empresas russas em troca de rublos. Essas empresas poderiam então usar o yuan para comprar produtos chineses.

Desta forma, o dólar é completamente ignorado.

Status de moeda de reserva perdura

Mas isso não significa o fim do dólar como moeda de reserva do mundo. Sim, a China e a Rússia podem resolver seu comércio bilateral em rublos e yuan e isso reduzirá a concorrência internacional pelo dólar. Para um único projeto, que é quase imperceptível, mas se você combinar todos estes negócios globalmente haveria pressão sobre o dólar.

Mas o que acontece se um país acumula um superávit, por exemplo, se a Rússia importa menos produtos chineses do que vende gás? Ela terá de investir no mercado de capital chinês.

Normalmente os bancos centrais estocam suas reservas em títulos do governo, como o mundo faz com o Tesouro dos EUA, devido à liquidez e presumida segurança. Mas não há uma grande quantidade de títulos do governo chinês emitidos centralmente em circulação e sua liquidez é triste.

Mais uma vez, exclusivamente para o negócio de gás isso provavelmente seria viável, mas não para todos os acordos comerciais bilaterais lá fora. O volume seria muito grande.

Títulos do governo local? Contas bancárias chinesas? Mercado imobiliário chinês? Eu suponho que a Rússia evitaria tudo isso. A Rússia também não quer comprar títulos do Tesouro, então ela provavelmente usará os yuanes excedentes para comprar ouro. Ouro, como a maioria das outras commodities do planeta, no entanto, ainda são precificadas em dólar.