Acabando com o abuso do transplante de órgãos na China

19/08/2010 00:00 Atualizado: 19/08/2010 00:00

David Matas. (Mingguo Sun/The Epoch Times)

Observações preparadas para serem entregues ao Congresso da Sociedade de Transplantes, Vancouver, BC, Canadá, 17 de agosto de 2010

Estou surpreso que tenha demorado tanto. Finalmente as pessoas estão começando a levar a sério o abuso das cirurgias de transplante de órgãos na China. Houveram bolhas isoladas de preocupação antes. Mas uma queixa que remonta a década de 1980 só agora, vinte e cinco anos tarde demais, está gerando reconhecimento generalizado.

A China, desde que começou a cirurgia de transplante, mata doadores que não consentem ceder seus órgãos. A lei inclusive permite isto.

Os Regulamentos sobre o Uso de Corpos Falecidos ou Órgãos de Criminosos Condenados, datados de 9 de outubro de 1984, contemplaram o abastecimento involuntário de órgãos de prisioneiros condenados à morte e então executados. A lei estabeleceu três eventos que permitem a colheita de órgãos.

Um evento foi o consentimento da fonte, o prisioneiro. Um segundo evento foi o consentimento da família. Um terceiro evento foi a recusa ou o fracasso da família em recolher o corpo do prisioneiro executado.

A lei, então, permitiu a colheita de órgãos com autorização, mas não proibiu a extração de órgãos sem consentimento. Isto significa que, mesmo quando houvesse uma recusa expressa do consentimento, tanto por parte do preso antes da morte quanto da família após a morte, mas houvesse a recusa ou mesmo esquecimento da família em recolher o corpo, então os órgãos poderiam, de acordo com a lei, continuar a ser colhidos.

Em 1984, quando esta lei foi promulgada, a China ainda estava nos estágios iniciais da sua mudança de socialismo para o capitalismo. À medida que a mudança progredia, o sistema de saúde se tornou uma parte importante da mudança. A partir de 1980, o Governo começou a retirar recursos do setor de saúde, esperando que o sistema de saúde saldasse a diferença cobrando os consumidores dos serviços de saúde.

A venda de órgãos para transplante tornou-se a principal fonte de recursos. Há uma demanda mundial de órgãos por causa da escassez em todos os lugares. A venda de órgãos se tornou, para os hospitais, uma maneira de manter suas portas abertas, e um meio pelo qual outros serviços de saúde podiam ser prestados à comunidade. Esta extrema necessidade por fundos levou a uma racionalização onde vender os órgãos de prisioneiros que seriam executados de qualquer maneira era aceitável e desejável não questionar muito de perto se os doadores levados pelas autoridades realmente eram prisioneiros condenados à morte.

Listas de preços de órgãos foram postadas em sites chineses. Hospitais ostentavam abertamente em seus sites o dinheiro gerado pela venda de órgãos.

A China começou o comércio de órgãos com a venda de órgãos de prisioneiros condenados à morte. Mas a demanda mundial de órgãos e a necessidade do sistema de saúde por dinheiro eventualmente ultrapassou a oferta do corredor da morte disponível. A comunidade do Falun Gong se tornou a próxima fonte.

O Falun Gong é um simples conjunto de exercícios com uma base espiritual, que começou na China em 1992. A crença por trás dos exercícios é uma mistura e atualização das tradições budistas chinesas e taoistas.

O Partido Comunista Chinês/Estado inicialmente incentivou os exercícios, porque os exercícios promoviam a saúde. Com incentivo oficial, a prática dos exercícios espalhou-se rapidamente ao ponto em que havia mais praticantes do que os membros do Partido Comunista.

O Partido, então, em junho de 1999, por inveja e medo de perder a supremacia ideológica, proibiu os exercícios. Quando os praticantes persistiram e protestaram, o Partido/Estado em novembro de 1999 ficou frenético, difamando a prática através da propaganda, prendendo os praticantes, torturando-os para extrair desistências, e desaparecendo com eles caso não desistissem da prática.

Os praticantes do Falun Gong rapidamente se tornaram as vítimas número um da repressão na China, dois terços das vítimas de tortura, de acordo com o relator das Nações Unidas sobre tortura; metade das pessoas em campos de trabalho escravo, de acordo com relatórios do Departamento de Estado de Direitos Humanos dos Estados Unidos. Muitos dos praticantes do Falun Gong que foram presos e se recusaram a renunciar a prática, também se recusaram a se identificar, a fim de proteger os seus amigos, familiares e locais de trabalho que, de outra forma, teriam sido vitimados por não terem denunciado-os. A despersonalização do Falun Gong, seus grandes números nas prisões e sua vulnerabilidade como uma população não identificada facilitaram para que se tornassem a próxima fonte da venda de órgãos.

Segundo a pesquisa que David Kilgour e eu fizemos, primeiro num relatório divulgado em julho de 2006 e atualizado em janeiro de 2007, e depois num livro intitulado Bloody Harvest [Colheita Sangrenta, ainda sem tradução para o português] lançado em novembro de 2009, concluímos que os praticantes do Falun Gong foram mortos na ordem das dezenas de milhares para que seus órgãos pudessem ser vendidos para estrangeiros, gerando um negócio de bilhões de dólares para a China. Lançamos uma campanha global para tentar acabar com o abuso que identificamos, falando em mais de quarenta países e oitenta cidades sobre a nossa pesquisa.

O governo chinês reagiu ao nosso trabalho, mas nem sempre de maneira que respondesse as nossas preocupações. O governo desativou as informações da internet chinesa as quais fizemos referência. Nós arquivamos tudo para que possam vê-lo em nosso site. No entanto, por causa do bloqueio oficial, os internautas já não podem vê-lo na China.

O governo chinês, através de suas embaixadas, consulados e organizações de fachada, fizeram todos os esforços, onde quer que fossemos, para impedir ou cancelar as palestras e barrar ou desencorajar as pessoas de se reunirem conosco. O Partido/Estado lançou uma propaganda hostil, principalmente atacando o Falun Gong ou nós, pessoalmente, sem lidar com o material da nossa pesquisa.

Neste Congresso, a reação de um delegado da China à minha apresentação, expressa durante o período de perguntas, foi típico do Partido Comunista. Ele afirmou que os organizadores não deveriam ter me permitido falar e atacou a minha apresentação num nível pessoal, sem oferecer uma sugestão sequer que refutasse nossos argumentos.

O orador chinês, de certa forma, conseguiu o que queria. Regras do Congresso foram aplicadas seletivamente para impedir participantes no evento em que eu falava.

Na porta da sala para a sessão do Congresso onde eu me apresentei, ao contrário de qualquer outro evento, eu e outros observamos que houve um número impressionante de oito pessoas da segurança afastando aqueles que estavam inscritos no Congresso, mas que não possuíam emblemas de cor azul codificada da delegação. Pessoas que tinham ficado no corredor fora da sala durante a sessão informaram-me que um grande número de pessoas foi impedido de entrar. Em outros eventos do Congresso, incluindo o almoço, pessoas registradas sem emblemas codificados de cor azul entraram livremente, embora em teoria, a codificação de cores em seus emblemas não concedesse direito à entrada.

Nos anos após nosso primeiro relatório ser lançado, o governo da China fez algumas mudanças reais. A China estabeleceu um sistema de doação de órgãos, como um projeto piloto em dez cidades em agosto de 2009. A alteração regulamentar requeria que os transplantes de órgãos fossem realizados apenas em hospitais credenciados.

O governo ordenou que os hospitais dessem prioridade aos pacientes chineses, colocando um amortecedor significativo sobre o negócio do turismo internacional de transplantes. O governo, que já tinha afirmado que todos os órgãos vieram de doações, mesmo que no momento não houvesse nenhum sistema de doação, acabou por reconhecer que quase todos os órgãos para transplantes eram provenientes de prisioneiros.

A política e em seguida a lei sobre a terceirização de órgãos mudou, proibindo a venda de órgãos. Proibir a venda de órgãos, no entanto, foi um gesto vazio, dado que quem não autoriza a terceirização de seus órgãos não está, evidentemente, vendendo-os. E a proibição da venda de órgãos não impede os hospitais de cobrar por transplantes de órgãos.

A política e então a lei sobre a terceirização de órgãos mudou para exigir o consentimento do doador. Uma política de 2006 previa que as instituições médicas envolvidas em transplantes de órgãos deveriam obter o consentimento por escrito dos doadores. A política acrescentou que os doadores têm o direito de se recusar a doar seus órgãos.

Tudo isto se repetiu numa lei um ano depois. Regulamentos sobre o Transplante de Órgão Humanos, efetivados em 1º de maio de 2007, proibiram a coleta de órgãos de pessoas vivas sem consentimento e dos mortos que não queriam doar seus órgãos quando estavam vivos.

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A mudança de prioridade de estrangeiros para pacientes locais foi real nos transplante de órgãos. Houve mais do que apenas um anúncio para uma mudança de procedimentos. A mudança realmente acorreu.

Os cidadãos chineses que necessitavam de transplante ficaram compreensivelmente irritados por terem de esperar meses e anos por transplantes enquanto os estrangeiros eram colocados na frente da fila. Para gerir o descontentamento local, as prioridades tiveram de mudar. Assim como a vantagem de substituir pacientes estrangeiros que falavam de mais por discretos pacientes locais não poderia ser perdida na tentativa de disfarçar suas práticas abusivas.

A mudança nos transplantes feitos em quaisquer hospitais interessados em entrar no negócio de transplantes para hospitais credenciados também foi real. Localizar os transplantes em hospitais credenciados significava aumentar o controle do Partido e do Estado, algo muito desejado por ambos.

No entanto, exigir o consentimento das fontes para os transplantes de órgãos não foi real. A lei de 2007 não revogou a lei de 1984 e não foi completamente inconsistente com ela. Se um prisioneiro, antes da morte, recusasse o consentimento ativamente à doação então, de acordo com a lei de 2007, colher os órgãos do prisioneiro era proibido. No entanto, se o prisioneiro não dissesse nada sobre o assunto antes da morte e a família recusasse ou falhasse em recolher o corpo após a morte, então a colheita de órgãos era indiscutivelmente admissível, ainda que não houvesse consentimento, mesmo após a promulgação da lei de 2007.

Além disto, o que as leis queriam dizer era mais um exercício teórico. O Partido Comunista Chinês/Estado não mudou sua política e legislação para acabar com a terceirização de órgãos sem consentimento. Pelo contrário, a legislação e as políticas foram alteradas para silenciar as críticas de abastecimento de órgãos sem consentimento.

Na China, a lei não tem nenhum significado independente das imposições do Partido, pois a lei não pode ser aplicada contra o Partido/Estado. A lei existe como um meio de comunicação unilateral do comando central para o campo de operações e como um exercício de maquiagem. Quando o Partido/Estado sente o calor das críticas, frequentemente muda a lei, sem alterar as práticas, como forma de combater as críticas.

As estatísticas e a lei contam histórias opostas. O volume de transplantes caiu em janeiro de 2007. No entanto, a causa tinha pouco a ver com uma mudança nas políticas de transplante ou nas leis e muito a ver com uma mudança na lei da pena de morte.

Antes de 1º de janeiro de 2007, a pena de morte podia ser imposta pelos tribunais regionais, os Tribunais Populares Superiores. A partir de 1º de janeiro de 2007, qualquer pena de morte imposta por um tribunal regional tem de ser aprovada pelo Supremo Tribunal Popular.

Esta mudança de procedimentos em 2007 reduziu substancialmente o leque de prisioneiros condenados à morte, na estimativa da Anistia Internacional, pela metade. Menos pessoas condenadas à morte significam menos pessoas com estas sentenças disponíveis para transplantes de órgãos.

Estatísticas do Registro de Transplante Hepático da China, um registro no Hospital Queen Mary, em Hong Kong, que coleta os dados diretamente dos hospitais na China, mostrou que o volume de transplantes de órgãos inicialmente declinou, mas não tanto quanto a redução desta fonte. A queda nos transplantes de fígado em 2007 estava longe da queda no número de prisioneiros condenados à morte.

Em 2007, houve duas quedas no volume de transplante de fígado. Além da mudança no processo de pena de morte, houve também a exigência do Ministério da Saúde para que os transplantes só ocorressem em hospitais credenciados. Esta exigência desabilita completamente os transplantes em hospitais não-militares, não-registrados e encerra temporariamente os transplantes nos hospitais registrados posteriormente, até que sejam registrados.

Esta queda dupla, em princípio, deveria ter criado uma queda nos transplantes substancialmente mais aguda do que a diminuição na execução de prisioneiros condenados à morte. No entanto, ocorreu o contrário. A queda nos transplantes foi substancialmente menor em termos percentuais do que a diminuição na execução de prisioneiros condenados à morte. Embora a execução de prisioneiros tenha caído pela metade, os transplantes só diminuíram em um terço.

Até 2008, o volume de transplante de fígado se recuperou aos níveis de 2004. Agora estamos de volta ao histórico de grandes volumes de transplante.

De acordo com o Registro de Transplante Hepático, o número de transplantes de fígado antes da baixa de 2007 na pena de morte foi de 2.023 em 2004, 2.794 em 2005 e 2.448 em 2006. Em 2007, o número era de 1.469. De acordo com o Vice-Ministro da Saúde chinês, Huang Jiefu, num discurso que fez em Madrid em março de 2010, o número de transplantes de fígado imediatamente após a baixa de 2007 foi de 2.334 para 2008 e 2.181 para 2009.

Como a China foi capaz de sustentar em 2007 o volume de transplante de fígado frente à redução imposta pela exigência de licenciamento para os hospitais não-militares que faziam transplante e à redução no que as autoridades chinesas afirmaram ser a sua fonte quase exclusiva de órgãos, os prisioneiros condenados à morte e posteriormente executados? Como a China tem sido capaz de retornar a níveis historicamente elevados de transplante de fígado em 2008 e nos anos seguintes na ausência de um aumento proporcional na execução de prisioneiros condenados à morte? A única resposta plausível é o aumento no fornecimento de órgãos de outra fonte, a única fonte significativa disponível, os praticantes do Falun Gong.

Certamente houve um aumento de órgãos provenientes de doações. No entanto, o volume de doadores voluntários não é nem de perto suficiente para substanciar o aumento do volume de transplante de órgãos.

A única conclusão razoável, tendo em conta os volumes atuais de transplantes e a diminuição substancial da pena de morte, é que a situação ficou pior, que o abastecimento de órgãos sem consentimento dos doadores tem aumentado. Mais praticantes do Falun Gong estão sendo mortos hoje por seus órgãos do que em qualquer momento do passado.

Eu citei o Ministro da Saúde chinês Huang Jiefu ao invés do Registro de Transplante Hepático da China para os números mais recentes sobre os transplantes de fígado, porque o Registro de Transplante Hepático agora restringiu o acesso público aos dados estatísticos agregados em seu site. O acesso está disponível apenas para aqueles que têm um login e senha fornecidos pelo Registro. Huang Jiefu exibiu os dados mais tarde a partir do site do Registro na sua apresentação em Madrid em março de 2010.

No Congresso, Haibo Wang, diretor-assistente da Secretaria de Transplante Hepático da China, apresentou-se na mesma sessão que eu. Perguntei-lhe porque o acesso público aos dados no site da Secretaria foi fechado e se poderia ser restaurado. Sua resposta foi que o acesso ao público foi encerrado porque as pessoas estavam interpretando erroneamente os dados. Se alguém quiser ter acesso agora, a Secretaria tem de conhecer primeiro o propósito de uso dos dados e ter alguma confiança de que os dados não serão mal interpretados.

O sistema de saúde chinês gerencia quatro registros de transplante, para fígado, coração, rim e pulmão. Os outros três estão localizados na China continental, o de rim e coração em Pequim e o de pulmão em Wuxi. Os dados sobre os outros três sites também são acessível apenas àqueles que têm logins e senhas registrados.

Quando a China tomou Hong Kong da Inglaterra, a unificação foi baseada no princípio de um país, dois sistemas. No entanto, quando se trata do acesso público aos dados agregados da estatística de transplante, existe agora um país com um sistema.

Este encobrimento das estatísticas de transplantes tem de ser considerado em conjunto com o encobrimento das estatísticas de pena de morte. O governo da China não divulga estatísticas oficiais de pena de morte. Na Revisão Periódica Universal do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para a China em fevereiro de 2009, seis países diferentes, Canadá, Suíça, Reino Unido, França, Áustria e Itália, recomendaram que a China publicasse estas estatísticas. O governo da China explicita e publicamente rejeitou esta recomendação.

Por que é que o governo da China se recusa a divulgar tanto as estatísticas de pena de morte como as de transplantes? Uma resposta é que, se estas estatísticas se tornarem acessíveis ao público, a discrepância entre o número de transplantes e o número de prisioneiros condenados à morte e executados será gritantemente óbvia. O governo da China seria duramente pressionado a justificar a discrepância uma vez que fosse revelada.

Conforme já observei, o abuso chinês da tecnologia de transplante gerou bolsões isolados de preocupação em anos anteriores. O Senador Patrik Vankrunkelsven em dezembro de 2006 introduziu no Senado belga uma legislação extraterritorial que proibiria o turismo de transplante. O Membro do Parlamento Borys Wrzesnewskyj introduziu uma legislação semelhante na Câmara dos Comuns do Canadá em fevereiro de 2008. A legislação proposta iria, ao ser promulgada, punir qualquer paciente que recebesse transplante de órgão sem o consentimento do doador quer o paciente sabia ou não da ausência de consentimento.

A Sociedade de Transplantes se opôs em julho de 2006 ao transplante de órgãos de prisioneiros e em novembro de 2006 as apresentações de estudos e pesquisas da China envolvendo dados de pacientes ou de amostras de receptores de órgãos ou tecidos de prisioneiros. A Associação Médica Mundial em outubro de 2007 entrou num acordo com a Associação Médica Chinesa de que órgãos de prisioneiros e outras pessoas em custódia não devem ser utilizados para transplante, exceto para os membros da família imediata.

O relator das Nações Unidas sobre a Tortura e o relator das Nações Unidas sobre a Intolerância Religiosa, em 2007, pediram ao Governo da China para explicar a discrepância entre o número de transplantes chineses e o número de fontes que o Governo da China alega reconhecer. Quando o Partido Comunista Chinês/Estado respondeu com desculpas, os mecanismos das Nações Unidas em 2008 reiteraram suas preocupações. O Comitê da ONU contra a Tortura acrescentou sua consternação em seu Relatório de 2008 sobre a China.
O ano de 2010 viu uma expressão muito maior de preocupação. A seção suíça da Sociedade Internacional pelos Direitos Humanos, em 1º de junho de 2010, publicou na internet um Memorando contra a Colheita de Órgãos e pediu por assinaturas em apoio.

Continua na próxima páginaO memorando


O memorando

• condenou a colheita de órgãos organizada na China;
• pediu o fim da colheita de órgãos de prisioneiros e de quaisquer doadores que não consentissem; e
• pediu a promulgação da legislação extraterritorial, penalizando a participação na colheita de órgãos sem consentimento.

A Seção de Direito Internacional da Ordem dos Advogados Norte-Americanos condecorou Gao Zhisheng com seu Prêmio de Advogado de Direitos Humanos Internacional em 6 de agosto de 2010 em São Francisco. Gao é um advogado de direitos humanos chinês desaparecido que tem sido fundamental na luta contra a matança de praticantes do Falun Gong por seus órgãos.

Foi Gao, em junho de 2006, que formalmente convidou David Kilgour e eu a virmos à China para investigarmos, depois de anunciarmos, em maio de 2006, que estávamos fazendo um relatório para avaliar as alegações de que os praticantes do Falun Gong estavam sendo mortos por seus órgãos. Numa carta aberta ao Congresso dos EUA datada de 27 de setembro de 2007, ele acusou um número de líderes chineses, incluindo o ex-presidente Jiang Zemin, de crimes contra a humanidade e genocídio contra a comunidade do Falun Gong. Em apoio de suas acusações, ele se referiu às provas que tínhamos provido em nosso relatório:

“para aqueles cujos órgãos foram removidos, a costura sobre os corpos e o registro da conversa telefônica com os hospitais envolvidos, e as provas fornecidas pelos médicos de transplante envolvidos”.

Penny Wakefield pela Ordem dos Advogados Norte-Americanos afirmou que a organização quis reconhecer o exemplo de Gao “estabelecer para outros advogados na China e em todo o mundo que lutem pelos direitos dos outros, assim como pelos seus próprios”.

A seção suíça da Anistia Internacional em 13 de agosto de 2010 pediu à China para acabar com o uso de órgãos de prisioneiros condenados à morte e depois executados. A organização de direitos humanos notou a existência deste Congresso, no qual peritos em transplantes de todo o mundo estão participando e aproveitou a ocasião para chamar a atenção das empresas farmacêuticas,

• a tomar todas as medidas necessárias para evitar a cumplicidade com as violações de direitos humanos nos transplantes de órgãos na China;
• a exercitarem a diligência necessária a fim de não apoiar direta ou indiretamente a colheita de órgãos de prisioneiros como parte da pesquisa e comercialização de medicamentos antirrejeição;
• a adotar orientações comuns aprovadas por peritos independentes para evitar a cumplicidade nos abusos; e
• a condenar coletivamente a prática da terceirização de órgãos de prisioneiros executados.

A empresa multinacional de medicamentos Novartis anunciou, de acordo com uma reportagem publicada em 15 de agosto de 2010, que está observando uma moratória sobre os testes clínicos de drogas antirrejeição de órgãos na China. O porta-voz da Novartis, Satoshi Sugimoto, explicou que a Novartis apoiou o apelo da Anistia Internacional e vai trabalhar para unir todas as companhias farmacêuticas sobre o assunto. A Novartis especificou que pretende promover o diálogo e a educação na China para superar os desafios éticos no fornecimento de órgãos.

A Sociedade Canadense de Transplante e a Sociedade Canadense de Nefrologia lançaram uma política de regulamentos em 17 de agosto de 2010 sobre o tráfico de órgãos e o turismo de transplante.

A declaração afirma que:

• médicos não devem prescrever medicamentos ou facilitar a obtenção de medicamentos que serão usados durante o transplante de um órgão comprado;
• médicos podem escolher não fornecer registros médicos a pacientes se acreditarem que as informações serão usadas para permitir um transplante ilegal realizado num sistema irregular e em que haja um significativo risco de dano ao paciente ou vendedor do órgão;
• em situações não emergenciais, um médico pode escolher transferir o tratamento para outro médico quando o paciente tiver obtido um órgão através do turismo de transplante.

O Globe and Mail, que obteve uma cópia adiantada da nova política de regulamentos, num editorial de 13 de agosto de 2010, chamou as diretrizes de precedentes importantes.

A seção suíça da Sociedade Internacional pelos Direitos Humanos em janeiro de 2010 premiou a David Kilgour e a mim em sua premiação anual pelos diretos humanos por combater o tráfico de órgãos abusivo na China. O Membro do Parlamento canadense Borys Wrzesnewskyj e outros nos indicaram ao prêmio Nobel 2010 mais uma vez pelos nossos trabalhos nesta área.

Minha mãe, se ela estivesse viva, teria o prazer de ver tantas pessoas compartilhando sua opinião por mim. De minha parte, eu preferiria, neste assunto, ser parte de uma grande multidão. Eu saúdo o recente acúmulo de apoio e preocupação pela causa.

Todas as companhias farmacêuticas deveriam seguir o exemplo da Novartis. Outras organizações não-governamentais de direitos humanos deveriam tomar iniciativas similares a estas da Anistia Internacional e da Sociedade Internacional pelos Diretos Humanos. Sociedades nacionais de transplantes deveriam emular em todas as partes a Sociedade Canadense de Transplante e a Sociedade Canadense de Nefrologia. Legisladores em todos os países deveriam aprovar o tipo de legislação proposta pelo Senador belga Borys Wrzesnewskyj. Pessoas nesta sala, neste Congresso, deveriam unir esforços para acabar com o transplante de órgãos abusivo na China.

O governo da China, ele mesmo, aceitou que a fonte de órgãos de prisioneiros é imprópria. O Vice-Ministro da Saúde Huang Jiefu, no momento do anúncio de um projeto piloto de doação de órgão em agosto de 2009 afirmou que prisioneiros executados “não são definitivamente uma fonte apropriada para transplante de órgãos”. No discurso concedido em Madrid em março de 2010, ele descreveu “o excesso de confiança em órgãos de prisioneiros executados, uma fonte que não está de acordo com a ética internacional e os padrões da prática”.

David Kilgour e eu nos concentramos na matança de prisioneiros do Falun Gong por seus órgãos. O governo da China nega que isto esteja ocorrendo. A disputa que temos com o governo da China, no entanto, não é sobre se os prisioneiros estão sendo mortos por seus órgãos, mas apenas sobre quais os tipos de prisioneiros estão sendo mortos por seus órgãos.

É desnecessário resolver esta disputa para acabar com o abuso. Uma vez que as prisões e os hospitais chineses pararem de matar prisioneiros por seus órgãos, então, inevitavelmente, eles cessarão a matança de prisioneiros praticantes do Falun Gong por seus órgãos.

Oficiais da saúde do governo chinês indicaram que, pelo aumento das doações e eventuais decretos de lei permitindo o abastecimento de órgãos de morte cerebral com coração funcionando, a prática de abastecimento de órgãos de prisioneiros cessará. Mas nesta área, acabar com o abuso amanhã não será o suficiente. O abuso precisa acabar hoje.

David Matas é um advogado internacional de diretos humanos, vive em Winnipeg, Manitoba, Canadá.

David Matas e David Kilgour, um ex-Membro do Parlamento canadense que também serviu como Procurador da Coroa e Secretário de Estado pela Ásia-Pacífico, publicaram seu livro “Colheira Sangrenta: A Matança de praticantes do Falun Gong por seus Órgãos”.

Para ler o relatório “Colheita Sangrenta” visite: www.organharvestinvestigation.net