Abusos deixam advogado chinês Gao Zhisheng incapacitado de falar

21/08/2014 13:33 Atualizado: 21/08/2014 13:33

Apelidado anteriormente de “consciência da China”, Gao Zhisheng defendeu vigorosamente os perseguidos e espoliados. Agora, depois de cinco anos de abusos e torturas, esta voz que desafiou a injustiça está, pelo menos por enquanto, quase silenciada.

Desde que Gao, um célebre advogado chinês de direitos humanos, foi libertado da prisão no início de agosto, notícias sobre sua condição têm chegado com dificuldade até sua esposa Geng He, que vive atualmente na Califórnia com os dois filhos do casal.

Geng He só foi capaz de ter algumas breves conversas com o marido, mas ela falou extensamente com sua irmã, que está com Gao em Urumqi. Oficiais da segurança chinesa vivem em sua casa e os monitoram em tempo integral, enquanto outros permanecem constantemente de guarda do lado de fora.

Geng He descreveu suas conversas com Gao tanto no Twitter como em discussões com a amiga da família Sherry Zhang, que visita e passa tempo com a família em Bay Area, na Califórnia, onde eles moram. Geng He declinou entrevistas com a mídia, mas publica atualizações sobre o estado de Gao no Twitter.

Uma nota de 12 de agosto é preocupante ao descrever as faculdades degradadas de Gao: “Quando eu falei com Gao, o telefone às vezes desligava, então eu ligava novamente e perguntava: ‘O que estávamos falando?’ Gao disse: ‘Eu não sei.’ Eu perguntei: ‘Por que a chamada caiu?’ Gao disse: ‘Eu não sei.’ Eu disse: ‘Escute, você entende o que estou dizendo ou não? Você consegue me ouvir ou você não entende?”

Nesse ponto, o telefone passou para a irmã de Geng He, que disse: “Ele esteve trancado numa cela escura sozinho por cinco anos, alimentado com pão cozido no vapor e uma tigela de couve todos os dias. Você tem de ajudá-lo pacientemente a aprender a falar de novo”, segundo o relato de Geng He no Twitter.

Tianyu, o jovem filho de Gao Zhisheng, ficou desapontado e confuso depois de tentar falar com o pai ao telefone. Ele vinha praticando chinês para falar com o pai, mas, depois de deixar o telefone, ele simplesmente comentou: “Papai não consegue falar chinês”, segundo Sherry Zhang, que visitou a família.

“Ele mal consegue falar, e apenas frases muito curtas, na maioria das vezes ele é ininteligível”, disse Zhang num e-mail compartilhado com o Epoch Times. “O filho de Gao estava incrivelmente animado para falar com ele por telefone, e ficou completamente chocado por mal entender o pai, cuja voz era monótona, que só dizia 2 ou 3 palavras como resposta às perguntas e não conseguia iniciar qualquer diálogo”, continuou o e-mail.

“Gao foi totalmente destruído”, disse um comunicado recente da Freedom Now, uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington DC que acompanha o caso de Gao há vários anos. “Os guardas foram orientados estritamente a não falar com ele. Ele não tinha acesso a qualquer material de leitura, televisão ou a qualquer um ou qualquer coisa… Ele perdeu muitos dentes devido à desnutrição. Acredita-se que ele também foi frequentemente torturado fisicamente.”

Jared Genser, presidente da Freedom Now e advogado pro bono da família Gao, disse numa entrevista por telefone: “Esperamos que os EUA pressionem a China sobre a necessidade de permitir que Gao saia para tratamento médico nos EUA. Sem essa ajuda e apoio, o futuro da saúde física e mental de Gao estão seriamente em questão.”

Genser continuou: “A única coisa pior do que Gao ser morto era ele ser terrivelmente torturado física e mentalmente. Ele é uma casca vazia de sua antiga personalidade, e isso é devastador para Geng He e sua família. Ela só quer cuidar dele, e é isso que esperamos que aconteça. Mas o governo chinês não facilita em nada.”

Reportagem adicional de Ma Youzhi.