Fotos do feto de sete meses publicadas na internet
Fotos de uma mãe de luto deitada ao lado de seu filho de sete meses de idade recém-abortado num hospital da cidade de Ankang, província de Shaanxi, têm causado indignação entre os internautas chineses, provocando debates sobre a política do filho único do regime comunista chinês.
Feng Jianmei, a mãe da criança abortada, foi tirada à força de sua casa por oficiais do planejamento familiar em 2 de junho enquanto seu marido estava ausente no trabalho. Porque ela estava grávida do segundo filho, violando a política de filho único do país, e não podia pagar os 40 mil yuanes (6.270 dólares) de multa, ela foi forçada a fazer um aborto. A renda familiar média anual urbana na China é de 21 mil yuanes (3.296 dólares).
Em 11 de junho o website de direitos humanos 64Tianwang publicou a história com fotos da criança abortada e a reação na internet foi intensa. Depois de apenas dois dias, mais de 300 mil comentários foram acumulados usando o termo de busca “sete meses mulher grávida aborto” no serviço de microblogue Sina Weibo na China.
Inicialmente, autoridades municipais de Ankang defenderam o aborto, mas na quinta-feira, 14 de junho, a cidade exigiu que o chefe do departamento familiar num município vizinho e outros oficiais se demitissem, enquanto uma investigação sobre o incidente está sendo feita, segundo o China News, citando um comunicado emitido pelo governo local. Também foi dito que o governo local da cidade de Ankang expressou um “profundo pedido de desculpas” a Feng e sua família, bem como à sociedade.
Cheng Xiaonong, um especialista em China baseado nos EUA e um ex-assistente do ex-primeiro-ministro chinês Zhao Ziyang, sugeriu que a investigação e o pedido de desculpas podem não ser o que parecem. “Esta é uma maneira de afastar as críticas do público”, disse Cheng. “Depois disso, como a questão será tratada pelo governo não está claro.”
Chai Ling, a chefe do grupo “All Girls Allowed” sedeado nos EUA, que trabalha pela oposição à política do filho único e sua tendência de promover o “generocídio”, falou com Feng e seu marido Deng Jiyuan na noite de 11 de junho.
Deng disse que no hospital sua mulher foi pressionada contra a cama e sua cabeça coberta com uma fronha. Eles puseram tinta em seu polegar e gravaram sua impressão digital contra o termo de consentimento de aborto para mostrar que ela aprovava o procedimento.
Então, eles injetaram toxinas no cérebro do feto. “Eu podia sentir o bebê mexendo dentro de mim o tempo todo, mas depois disso ela ficou imóvel”, disse Feng. Depois de um longo e doloroso trabalho de parto sem anestesia, o bebê nasceu morto no início da manhã de 4 de junho.
Chai disse que sua organização descobriu que os oficiais do planejamento familiar na região onde Feng mora lançaram uma campanha de abortos forçados no mês passado. O regime deu aos oficiais uma nota mais baixa devido à “cota excessiva de nascimentos”, acrescentou ela, salientando que o caso de Feng é um exemplo do esforço na região para realizar mais abortos que atendam às demandas dos oficiais.
Internautas reagem
Um usuário do Twitter na China, com o pseudônimo de Millennium Ginseng, disse que os autores do aborto forçado “devem ser punidos de acordo com as leis internacionais de homicídio”.
Outro usuário do Twitter, Huang Qianhong, lembrou-se do próprio primo ter sido abortado à força tardiamente pelo departamento local de planejamento familiar em 2009. O bebê estava prestes a nascer em 10 dias. “Até hoje, ela continua magra e com saúde debilitada” devido a complicações físicas e psicológicas do aborto forçado, escreveu Huang.
Artigos da mídia chinesa dizem que Feng Jianmei também ficou psicologicamente traumatizada depois de passar pelo aborto.
Outro usuário do Twitter, com o nome de Tufu Wugan, viu o incidente como um indicativo do estado dos direitos humanos na China. “Eu admito que estava com muito medo de ver as fotos horríveis do aborto forçado da mulher grávida de sete meses em Shaanxi”, escreveu Tufu Wugan. “Tal ato vergonhoso só poderia ser cometido em nosso país. Quem se atreve a dizer que nossas condições de direitos humanos são cinco vezes melhores do que as dos Estados Unidos?”
Feng contratou um advogado, Zhang Kai. O website de direitos humanos China Aid relatou que Zhang prometeu que, se os recursos legais dentro da China falharem, ele “procurará ajuda de grupos internacionais de direitos humanos, das Nações Unidas e de outros grupos, independente do risco político”.