A violência das gangues na América Central

18/07/2013 16:35 Atualizado: 18/07/2013 17:50
Membros mascarados da gangue Mara 18 numa conferência de imprensa na prisão San Pedro Sula em Honduras (Leonel Cruz/AFP/Getty Images)

A violência das gangues, alimentada pelo tráfico de drogas na América Latina, América Central e Caribe, está afetando seriamente a vida das pessoas e ameaçando alterar o tecido social dos países na região. Gangues da América Central, também chamadas de maras, em referência às formigas vorazes conhecidas como marabuntas, estão envolvidas numa ampla gama de atividades criminosas, como tráfico de armas e de drogas, sequestro, extorsão, tráfico de pessoas e imigração ilegal.

Uma das gangues mais conhecidas da América Central, Mara Salvatrucha (MS-13), tem cerca de 70 mil membros que atuam nas áreas urbanas e suburbanas. A MS-13 originou-se em Los Angeles em 1960 e depois se espalhou para outras partes dos Estados Unidos, Canadá, México e América Central. As atividades do grupo chamaram a atenção do FBI e do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA, que têm realizado incursões e prendido centenas de seus membros. O FBI chama a MS-13 de “a gangue mais violenta da América”.

A MS-13 é particularmente ativa no condado de Los Angeles, na Área da Baía de São Francisco, em Washington DC, em Long Island, na cidade de New York e em Boston. Seu código de conduta inclui vingança feroz e retribuição cruel. Os membros deste grupo foram originalmente recrutados pelo Sinaloa em sua batalha contra os cartéis mexicanos Los Zetas na guerra das drogas no sul da fronteira dos EUA.

Muitos membros de gangues que vivem nos EUA foram deportados de volta para El Salvador, Honduras e Guatemala, agravando os problemas sociais críticos nestes países. Eles levaram consigo crack e cocaína e, consequentemente, os crimes relacionados com drogas logo aumentaram acentuadamente. Os membros de gangues deportados dos Estados Unidos ampliaram os grupos locais e encontraram recrutas fáceis entre os jovens locais marginalizados. Hoje, a maioria dos membros tem cerca de 20 anos, enquanto seus líderes estão na casa dos 30-40 anos.

As batalhas das gangues com a polícia pelo controle dos bairros das classes trabalhadoras foram regularmente abordadas com táticas de forças bruta por parte da polícia. Estas também se mostraram improdutivas, pois desencadearam mais violência aleatória e terror. Como resultado dos esforços de cada governo para eliminá-los, muitos membros de gangue retornaram para os Estados Unidos, onde continuam seu envolvimento em atividades criminosas. Hoje, as gangues se expandiram para o sul do México, Colômbia e Brasil, o que tem gerado apelos de mais esforços organizados para combatê-las.

Por causa da grande perda de vidas causada pelas gangues, a Organização Pan-americana de Saúde e a Assembleia Mundial da Organização Mundial de Saúde definiram a violência como um “problema de saúde pública”. Elas propuseram uma abordagem epidemiológica para enfrentar o dilema, que consiste em a) definir o problema e coletar informações; b) identificar as causas e fatores de risco; c) desenvolver e testar intervenções específicas e d) avaliar a eficácia das políticas.

No passado, esta abordagem foi utilizada com sucesso na Colômbia na década de 1990. Foi assinado um acordo entre as autoridades governamentais e os líderes de gangues que operavam na cidade de Cali. Como resultado, os líderes das gangues pararam suas atividades criminosas e os funcionários do governo assumiram o compromisso de conceder empréstimos e formação técnica para os membros de gangues.

Uma abordagem semelhante está sendo usada em El Salvador, onde o governo tenta conter a atividade das gangues por meio de um programa de trabalho ambicioso complementado por outras medidas sociais, como a formação profissional e a criação de emprego. Tal abordagem poderia ser seguida pelos demais países da região.

Abordagens bem sucedidas sugerem que controlar a violência das gangues exige ação de longo prazo, mesmo quando não haja resultados imediatos evidentes. Outra questão é que as atividades de prevenção devem ser orientadas para os setores mais jovens da população, especialmente os que sofrem de condições abusivas em casa e que, por causa da pobreza e da educação formal deficiente, não têm condições de satisfazer suas necessidades básicas.

Entre estas ações está oferecer capacitação profissional e assistência psicológica, bem como oportunidades de emprego e empréstimos para estes jovens. O uso de uma abordagem multifacetada pode ser a melhor garantia contra o flagelo social da violência das gangues na região da América Central.

César Chelala, MD, PhD, é um consultor internacional de saúde pública e autor do livro “Violência nas Américas: A pandemia social do século XX”, publicado pela Organização Pan-americana de Saúde

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