Dentre os diversos direitos sociais dos brasileiros da Constituição Federal, a moradia é um deles. Entretanto esta não é a realidade para cerca de 600 pessoas que vivem em um abrigo na antiga Clínica de Saúde Mental Ana Nery no bairro da Lapinha, centro de Salvador, Bahia. Improvisando uma moradia, muitos “sem-teto” aguardam por uma casa.
A maioria das pessoas que estão no abrigo vieram de moradia de favor e outras estavam sem ter onde morar. Nestas condições, elas buscam os abrigos por terem ouvido falar que as condições de vida são melhores que na rua ou chegam neles por ação da prefeitura, que tem o intuito de ressocializá-los novamente, provendo-lhes benefícios.
Nos abrigos as pessoas são inscritas nos programas do governo “Minha casa, minha vida” e Bolsa Família. Aqueles que possuem profissão são cadastrados no Serviço Municipal de Intermediação de Mão-de-obra (SIMM) para conseguir empregos e serviços. Para as crianças se disponibilizam escolas e, para os adultos, cursos profissionalizantes para se capacitarem.
“Além de ajuda com alimentos, roupas, materiais de higiene, café da manhã, almoço e jantar à noite, fazemos uma minuciosa análise de sua estória de vida e o encaminhamos aos postos de saúde e hospitais, caso tenha necessidade. Se não tem documentos, é encaminhado para retirar em um órgão do governo totalmente gratuito; com tudo isso, o projeto é ambicioso”, disse o coordenador da Operação Copa do Mundo, da Prefeitura Municipal de Salvador, Eliseu Barros da Silva ao Epoch Times. E complementa que a ideia é dar dignidade às pessoas. “Não é só por causa da Copa do Mundo”, diz Eliseu.
No início desta semana, um mutirão realizado pela Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (SEMPS) tem realizado estes cadastros dos moradores de rua em Salvador. O secretário Mauricio Trindade, gestor da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (SEMPS) afirma que isto serve para oferecer condições às pessoas de voltarem para a sociedade como cidadãs.
Mas este retorno à sociedade nem sempre é simples. Algumas destas pessoas do abrigo têm problemas com drogas e são ainda dependentes, como é o caso de Dinaldo Jesus dos Santos, de 42 anos. Após o falecimento de sua mãe aos 14 anos de idade, saiu ao mundo, morando em diversas partes da cidade, interior da Bahia; ele morou de favor por longo tempo. Fez uso de todo tipo de drogas lícitas e ilícitas e ainda é dependente, tentando com seus esforços se libertar, recorrendo à religião como uma saída para seus problemas. Ele diz que em parte isto o confortou, porém não solucionou de fato o problema e resolveu se conformar. “Sou pobre, nunca tive condição financeira, só trabalho até hoje para o meu sustento. Concluí até a quinta série do primeiro grau e sou pedreiro”, disse.
Consciente deste problema, a líder comunitária há cerca de 9 anos, Maria Cirlene Conceição Santana, 43, explicou ao Epoch Times que tenta formalizar parcerias com órgãos responsáveis por ajudar pessoas como Dinaldo a amenizar seus problemas com as drogas.
Conseguir uma moradia para os desabrigados tampouco é fácil. Maria Cirlene tem lutado constantemente para que os direitos deles sejam respeitados. Ela diz que o apoio das secretarias ainda não é suficiente, pois é limitado ao orçamento. Mas ela tem confiança no que faz, que é dar dignidade aos necessitados. “A persistência na luta é o que possibilita a vitória”, disse a líder.
Dinaldo e muitos outros continuam no abrigo aguardando uma casa. “Porque viver ao relento, na chuva, sereno, passar fome, ser roubado, é muita miséria e desgraça. Terrível… não desejo isso a ninguém”. “Quero melhorar. Vim na esperança de um lar, e espero sair daqui realizado”, diz Dinaldo.
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