Uma liderança africana jovem e vibrante emerge apesar dos muitos desafios
A África está ascendendo? A julgar pelo burburinho e otimismo de jovens empresários e políticos pioneiros de todo o continente que se reuniram para o Fórum Econômico Mundial (FEM) sobre a África no início deste mês, a resposta é “sim”. A Rede de Liderança Africana – fundada por graduados de Stanford, Fred Swaniker, agora CEO da Academia de Liderança Africana, e Achankeng Leke, diretor de operações nigerianas da McKinsey – é emblemática de uma nova geração de líderes cheia de confiança sofisticada na emergência da África. Eles fazem parte da elite emergente cujas ideias moldaram a discussão na Cidade do Cabo.
Há um novo discurso sobre o desenvolvimento africano. Ecoando a cúpula Rio+20 sobre desenvolvimento sustentável, patrocinada pela ONU em junho passado, muitos líderes jovens querem modificar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de 2015, definidos pelo Norte global, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pelo Sul global. Sua bandeira propõe substituir uma era de empréstimos e ajuda por uma de investimentos e comércio que Liberte o Talento da África – o tema do FEM na reunião da Cidade do Cabo.
O otimismo em relação às perspectivas da África não é novidade. Quinze anos atrás, o então vice-presidente sul-africano Thabo Mbeki anunciou um renascimento africano vindouro. E ele acabou sendo previdente. Ajudadas por uma valorização sustentável dos preços mundiais de commodities e isoladas do pior da crise financeira global devido a baixos níveis de dívida, pelo menos quando comparada com os Estados Unidos e grande parte da Europa, muitas economias africanas estão prosperando. No mês passado, o Africa Monitor destacou a África do Sul, Nigéria, Angola, Gana e Etiópia como economias de alto crescimento que merecem atenção. Entre as economias com mais rápido crescimento no mundo, cinco das top 12 e 11 das top 20 estão agora na África.
Ruanda, mais conhecida pelo assassinato genocida de um milhão de pessoas a menos de duas décadas atrás, agora é pacífica e próspera, com uma taxa de crescimento de 7,8% do PIB prevista para 2013 e com a meta de eliminar a dependência de ajuda externa. De acordo com um relatório de 2013 do Banco Mundial, Ruanda é o segundo país que mais cresceu no mundo desde 2005 e o que mais melhorou na África Subsaariana.
Descobertas recentes de vastas quantidades de gás natural em Moçambique prometem crescer o PIB do país em 10 vezes na próxima década. Fundos de investimento foram injetados inclusive no Zimbábue – a ponto do diretor de investimento David Stevenson considerar na Moneyweek em 2010 se esse não seria “o próximo dínamo de mercado emergente”.
Numa época de turbulências financeiras e bolhas estourando, somos obrigados a perguntar quanto desse entusiasmo africano é exagero. No PIB global, os números do comércio ou investimento não mostram o continente tendo muito impacto ainda e 18 dos 20 países mais pobres do mundo estão na África – os outros dois são o Afeganistão dilacerado pela guerra e o Haiti devastado por terremotos.
A situação africana pode ser ainda pior do que as estatísticas sugerem. Como observado por Mo Ibrahim, um filantropo e copresidente do FEM, nascido no Sudão do Sul e que estudou na Grã-Bretanha antes de fundar a empresa de telecomunicações Celtel, não há dados confiáveis sobre a pobreza para muitos dos países pobres da África. Sem mencionar os efeitos da guerra civil no Norte e Oeste da África. Pelo menos 50 mil já morreram na catástrofe contínua da Líbia pós-Kadafi. O Egito, com sua indústria turística dizimada, população explodindo e infraestrutura em colapso, pode estar caminhando para as fileiras dos Estados falidos. Somália e Mali cambaleiam junto.
Houve muita conversa no FEM sobre reduzir a pobreza e a desigualdade, muitas vezes pronunciadas quase como uma única palavra. É praticamente óbvio que os dois estão intimamente relacionados. A China retirou milhões da pobreza nas últimas décadas, mas a desigualdade lá aumentou dramaticamente. A África do Sul também fez incursões em seus altos índices de pobreza desde a transição em 1994, mas seu coeficiente de Gini, uma medida padrão da desigualdade, permanece inalterado e um dos mais altos entre os países com dados disponíveis. Há exemplos contrários, o Brasil de Lula é um país onde a pobreza e a desigualdade foram reduzidas simultaneamente. Mas as pessoas na Cidade do Cabo não falavam sobre Lula.
Preocupações demográficas
Há também preocupações demográficas. A idade média do continente é de 20 anos. Países como a Nigéria são ainda mais jovens: 30% dos seus 180 milhões de cidadãos têm menos de 10 anos. Essas pessoas devem ser educadas e empregadas. Na África do Sul, o desemprego diminuiu (embora ainda seja assustadoramente alto) para 25%, mas a taxa de desemprego entre os jovens é superior a 48%, a terceira maior no mundo. Por causa da tragédia da AIDS, a relação entre idade ativa e população dependente no país é a maior já vista ou será nas próximas décadas, mas isso não ajuda muito se a população em idade ativa não trabalha.
O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown ressaltou numa sessão do FEM que atualmente 61 milhões de crianças em idade escolar na África não estão sendo educadas. As demandas de infraestrutura educacional sugeridas por estes números estão quase além da compreensão, devido à crítica escassez de professores qualificados ou mesmo alfabetizados.
Também há preocupações sobre a forma do crescimento econômico. A menos que o ressurgimento econômico impulsione as economias africanas em direções mais diversificadas, os perigos do nepotismo e desgoverno, por muito tempo associados com a maldição do petróleo, permanecerão. Uma economia em que os vencedores levam tudo estimula uma política em que os perdedores não têm direitos. As recompensas do gás natural em Moçambique poderiam proporcionar ao país o que o petróleo do Mar do Norte fez pela Grã-Bretanha e a Noruega, mas também há possibilidades na Líbia, Venezuela e Rússia. O mesmo vale para o petróleo nigeriano.
Diversificação econômica é mais fácil dizer do que fazer. Mo Ibrahim observou que já existem 650 milhões de celulares na África, um fato notável que ele e a empresa de telecomunicações que ele fundou merecem boa parte do crédito. Esta realidade torna possível a comunicação instantânea, o varejo bancário e outras formas de comércio – o que teria exigido décadas de construção de infraestrutura uma geração atrás. Mas Ibrahim também apontou que nem um único desses celulares é fabricado na África.
Em si mesmo isso não é um fato devastador. Os economistas dizem que não é necessário fabricar tudo em todos os lugares, as pessoas devem desempenhar suas vantagens comparativas. A incapacidade de compreender isso levou à abundância de desperdício nos esforços da industrialização por substituição de importações na América Latina nas décadas de 70 e 80. Mas as economias de mercados emergentes da África têm necessidade desesperada de diversificação e emprego numa era de desqualificação. Os chineses não têm qualquer habilidade especial ou recursos próprios para fabricar celulares. Os africanos deveriam estar competindo com os chineses em vez de apenas vender matérias-primas; além disso, a extração e exploração dos recursos naturais na África frequentemente nem sequer cria emprego localmente quando as empresas chinesas trazem seus próprios nacionais para fazerem o trabalho.
A África enfrenta desafios assustadores, mas ninguém deve ignorar o dinamismo empresarial pulsante no Centro Internacional de Convenções da Cidade do Cabo neste mês – um local que sempre surpreende pelo que tem sido alcançado a cada ano desde o início da transição na África do Sul na década de 1990. Mas alguém também poderia olhar além desses anos de desafios que pareciam dificílimos de satisfazer. Na África do Sul, como no resto do continente, essa lacuna entre o que já foi feito e o que agora aguarda ser feito será parcialmente preenchida pela nova geração de líderes africanos que moldaram a conversa no FEM. Eles representam a esperança de um futuro africano melhor.
Ian Shapiro é professor catedrático de Ciência Política na Universidade de Yale, onde também atua como diretor do Centro MacMillan de Estudos Internacionais e Regionais. Com a permissão do YaleGlobal Online. Copyright © 2013, Centro Yale para o Estudo da Globalização da Universidade de Yale.
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