Nikkei cresceu 45% em 2013, mas estímulo excessivo coloca mercado de ações em risco
Parece que o Japão está numa forma fantástica, pelo menos quando só se observa o mercado de ações japonês, que cresceu 45% em 2013. Políticos japoneses estão comemorando, mas a estratégia de desvalorização da moeda tem riscos enormes.
Pela primeira vez desde abril de 2010, o Nikkei 225 tem uma boa chance de ultrapassar a Média Industrial Dow Jones em termos nominais. O Nikkei fechou em 15.096 pontos de 15 de maio, enquanto o índice Dow Jones fechou em 15.275. Apesar do aumento expressivo do Dow Jones de mais de 16% em 2013, o índice Nikkei subiu mais de 45% este ano ou 78% desde o final de novembro de 2012.
A sabedoria popular indica que o Japão está crescendo aos saltos, indo muito melhor do que os Estados Unidos. E, no entanto, o oposto é verdadeiro. Especialistas como Richard Howard da Hayman Capital diz que o país está jogando perigosamente com a desvalorização da moeda para promover crescimento. Sua empresa, liderada pelo famoso investidor Kyle Bass, previu a estratégia do Japão e suas consequências faz um longo tempo.
“Há uma crença e expectativa de que, se você pode enfraquecer o iene suficientemente, você pode restabelecer o crescimento nominal japonês, aumentando a competitividade das exportações”, disse ele ao Epoch Times.
Mesmo antes de o novo governo em torno do primeiro-ministro Shinzo Abe assumir o cargo em 26 de dezembro de 2012, o iene vinha enfraquecendo gradualmente. Desde a baixa em setembro, o iene enfraqueceu de 77,45 para 102,43 por dólar ou 32%.
O governo Abe prometeu política monetária inflacionária e assim tem feito. Em janeiro, o Banco do Japão (BoJ), teoricamente independente, anunciou uma agressiva flexibilização quantitativa (FQ) de US$ 145 bilhões a partir de janeiro de 2014. Em março, Masaaki Shirakawa, chefe moderado do BoJ, foi substituído pelo conciliatório Haruhiko Kuroda.
“O BoJ de fato rendeu sua independência ao governo do Japão. […] O anúncio de uma meta de inflação de 2% é um enorme passo adiante. O próximo passo é ter um chefe […] que esteja comprometido com a execução dessa tarefa”, diz Howard.
Kuroda provou estar à altura da tarefa, iniciando um programa ilimitado e totalmente inesperado de FQ em abril. O banco anunciou que comprará até US$ 68 bilhões em títulos do governo japonês (TGJ) por mês até a meta de 2% de inflação ser alcançada. Como referência, o Federal Reserve dos EUA está comprando US$ 85 bilhões em títulos hipotecários e do Tesouro numa economia cerca de três vezes o tamanho do Japão.
Devido à desvalorização do iene e à subida da Nikkei, os formuladores de políticas podem reivindicar uma vitória parcial. No entanto, de acordo com Howard, o plano é falho e acabará saindo pela culatra.
“Isso acorreu com o Reino Unido […] e os EUA nos anos 70 e 80. O que você vê é o esvaziamento da base industrial e, em seguida, uma resposta monetária, mas essa resposta não consegue trazer de volta a capacidade industrial. Pensamos que é pouco provável que vejamos um grande retorno da indústria japonesa. O que se deslocou para o estrangeiro e foi exportado não deve voltar ao Japão imediatamente só porque você vê uma desvalorização da moeda.”
Evidências sugerem que Howard está certo. Apesar da desvalorização do iene, a Sharp acaba de informar em 14 de maio o maior prejuízo da empresa em 100 anos de história. A empresa perdeu US$ 5,36 bilhões em 2012 porque seus concorrentes a superaram em inovação e gestão de custos.
No entanto, se o Japão continuar nesse caminho perigoso, maiores perigos espreitam no mercado de títulos do governo.
“Pode-se ver uma grande liquidação enquanto as pessoas migram desses ativos, porque não acreditamos que há um comprador natural nesse novo ambiente inflacionário […] com os títulos oferecendo tais rendimentos atuais”, diz Howard.
Ele afirma que os investidores exigirão compensação para deterem TGJ com rendimentos muito baixos, porque a inflação futura corroerá o ganho em juros. Se as taxas de juros subirem, o preço dos títulos cairá.
Na verdade, esse movimento já começou a acorrer. Após um ambiente de baixa em março, os rendimentos dos TGJ de cinco anos aumentaram quatro vezes, de 0,10% para 0,45%. Embora eles ainda estejam em níveis muito baixos, a dimensão do movimento e a situação precária da dívida japonesa tornam a situação muito perigosa.
“O problema com a tentativa de criar inflação é que será mais difícil de atender a dívida. A esperança é que a inflação gere crescimento nominal suficiente para satisfazer os custos elevados do serviço da dívida”, diz Howard.
O Japão tem uma dívida impressionante de 240% do PIB, a pior de qualquer país desenvolvido, e a Hayman calculou que, a cada aumento de 1% nos custos de empréstimos, isso resultará em custos extras de serviço da dívida equivalentes a 25% das receitas do governo. O Japão não chegou lá ainda, mas o tempo está correndo.
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