Uma revisão de “Inside China’s Grand Strategy” de Ye Zicheng
O maior problema com o livro de Ye Zicheng é que ele está cheio de mentiras e omissões incríveis.
Um problema menor é que é difícil levá-lo a sério por causa de suas pretensões de um estilo de narrativa grandioso e abrangente, que caiu em desuso no Ocidente há muito tempo. Isso pode ser um subproduto do ambiente atual do academicismo chinês.
Em qualquer caso, o fato de que Ye Zicheng é um dos intelectuais mais proeminentes da China e produziu “Inside China’s Grand Strategy” (“Dentro da grande estratégia da China”) como um trabalho sério, diz tudo sobre as lutas que o país enfrenta em sua tentativa de se entender com o mundo.
O argumento principal do livro de Ye Zicheng é o mesmo promovido pelo oficialismo chinês. Isso não deveria ser uma surpresa. Resumidamente, é que sob o comando do Partido Comunista Chinês (PCC), ao longo de três décadas de reforma e abertura, a China se tornou uma potência mundial em ascensão e sua trajetória ampla está definida. A China se integrará ao sistema mundial, mas mudará o sistema enquanto isso ocorre. E nos próximos anos, deslocará os Estados Unidos da posição de ser o grande poder.
Isto, obviamente, negligencia todos os contra-argumentos – que a China poderia ter se desenvolvido mais cedo e melhor, se não fosse pelo PCC; que o desenvolvimento até o ponto atual tem sido insustentável; que o ponto em que os fatores políticos bloqueiam o crescimento está sendo rapidamente alcançado; que graves problemas domésticos podem fazer a música parar; e assim por diante.
Ye Zicheng é um estudioso em busca do próprio coração do PCC, oferecendo justificativas implícitas para o regime do PCC e combinando os interesses do regime chinês com os do país e seu povo. A ideia de que o regime age em benefício e interesse próprio, enquanto os do povo chinês são muitas vezes distintos dos do regime, não entra na discussão.
Isto pode ser visto na discussão de Ye Zicheng sobre a democracia na China. “A China deve se tornar uma grande democracia”, diz Ye Zicheng, “mas certamente não de acordo com a democracia ocidental.” Ele diz que seu livro “enuncia claramente o conceito de democracia ao estilo chinês, um conceito que mais e mais pessoas aceitam.”
Que ideia curiosa é esta, de “democracia ao estilo chinês”? Ele retorna a esse ponto novamente na página 82, mas não se aprofunda. O mais próximo que ele chega é dizer, “A democracia chinesa incluirá as experiências da democracia ocidental, mas as superará com a infusão de características exclusivamente chinesas. Esta nova formulação simbolizará a força da presença da China no mundo.” Isso é sério?
Posteriormente, ele escreve, “Como resultado da reforma, um novo sistema político e econômico tem se desenvolvido na China. As funções do PCC foram separadas das do estado e a China está se movendo em direção à democracia política e a um Estado baseado no Estado de Direito sob o princípio da liderança do PCC.” Aqueles que prestam atenção à política atual, no entanto, sabem que nada disso é verdade.
Quando não está simplesmente mentindo, Ye Zicheng diz meias-verdades. Algumas das meias-verdades no livro de Ye Zicheng incluem a ideia de que a China tem “claramente aceito e implementado normas e procedimentos internacionais, apesar dos consideráveis custos envolvidos. Assim, também no que diz respeito aos princípios de proteção dos direitos de propriedade intelectual.” Como prova, ele se refere ao fechamento de 15 fábricas entre 1994 e 1995. Quantas fábricas há na China?
Ye Zicheng também escreve que, ao ingressar na Organização Mundial do Comércio, “[a China] foi reconhecida em todo o mundo como um participante responsável e construtivo nas relações internacionais.” Muitos especialistas que estudaram as práticas comerciais da China discordariam totalmente desta afirmação.
A parte que é mais estranha que a ficção é que muitos dos argumentos que justificam o status quo que Ye Zicheng sustenta já são proeminentes nos Estados Unidos. Estudiosos chineses com visões praticamente idênticas às de Ye Zicheng estão hospedados na Instituição Brookings, como se suas ideias tivessem mérito intelectual sério ou até mesmo tivessem intenção sincera. Na verdade, o livro de Ye Zicheng foi originalmente escrito, em grande parte, em 2002 e 2003. Isso mostra que a falta de análise dessas ideias tem persistido por muito tempo.
O livro de Ye Zicheng também mostra uma grande audácia por parte do regime chinês em lidar com os Estados Unidos: ao mesmo tempo em que o regime enfatiza a cooperação, o entendimento e suas boas intenções, ele realiza ciberguerra sistemática, envia espiões para os Estados Unidos para roubar tecnologia, não respeita os direitos de propriedade intelectual, continua a escalada militar contra Taiwan e conduz um regime de comércio de mercado-leninista em detrimento dos Estados Unidos. E se os Estados Unidos tentam responder, são acusados de serem os agressores. Como uma estratégia, ela é de fato grandiosa.
YE, Zicheng. Inside China’s Grand Strategy: The perspective from the People’s Republic. Editado e traduzido por Steven I. Levine e Guoli Liu, The University Press of Kentucky, janeiro de 2011, 320 pp., US$ 35,00, ISBN: 978-0-8131-2645-6.
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