A importância do amarelo na cultura chinesa

02/06/2012 00:00 Atualizado: 02/06/2012 00:00

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O que simboliza esta cor escolhida pelos cultivadores de Buda e pelos imperadores de dinastia após dinastia?

Desde os tempos antigos, a cor amarela sempre esteve intimamente ligada à cultura tradicional chinesa, inclusive se diz que a cultura chinesa se originou no “Planalto Amarelo”, que o berço da nação chinesa é o “Rio Amarelo”, e que os descendentes do Imperador Yan e do Imperador Amarelo têm “pele amarela”.

Confúcio, filósofo chinês e fundador do confucionismo, em seu esforço por defender os “Ritos da Dinastia Zhou”, definiu o preto, o vermelho, o ciano (azul-verde), o branco e o amarelo como as “cores puras” e “cores supremas”, e aplicou-lhes os valores tradicionais da “benevolência, retidão, ritos, sabedoria e confiança”.

Até nas Dinastias Qin e Han, os imperadores tinham escolhido uma cor simbólica para seus respectivos reinos com base na correspondência que têm as cores preta, vermelha, ciana, branca, e amarela, com os cinco elementos água, fogo, madeira, metal e terra da teoria Yin-Yang.

Os antigos chineses creem que os cinco elementos são os elementos fundamentais que criaram todas as coisas da natureza, e são a origem de tudo, incluindo das cores, que estão intimamente ligadas aos princípios dos cinco elementos e a realização das leis celestiais. Inclusive escolhiam a cor de suas roupas de acordo com a mudança natural das estações e a teoria dos cinco elementos.

Os imperadores da Dinastia Han acreditavam que, depois que a Dinastia Han sucedeu a Dinastia Qin, esta simbolizava a virtude da terra. De acordo com a teoria dos cinco elementos, a terra supera a água, e a terra era de cor amarela, de modo que a cor amarela era muito popular na Dinastia Han. Neste período, adivinhos do horóscopo da sorte também combinavam a teoria dos cinco elementos e o conceito das cinco dimensões no horóscopo, e pensavam que a cor amarela era da Terra, e que simbolizava o centro do universo. O ciano era interpretado como sinônimo de madeira e simbolizava o Leste; o vermelho, como sinônimo de fogo, simbolizava o Sul; o branco representa o metal e simboliza o Oeste; e o preto representava a água e representava o Norte. Devido à cor amarela estar no centro dos cinco elementos, se considerava uma cor neutra e a primeira de todas as cores.

Também era considerada como a cor mais nobre, e uma boa cor para as roupas dos imperadores. Ao primeiro-ministro do tribunal na época era concedido um “selo de ouro com uma fita de seda púrpura”. É um símbolo do poder mais alto junto ao imperador. Esta foi a maneira como as cores amarela e roxa conseguiram posições importantes na cultura tradicional chinesa.

Na Dinastia Tang, o amarelo foi amplamente utilizado na cultura tradicional e nas artes. Nas cavernas de Dunhuang há mais de 10 mil preciosos afrescos que cobrem uma área total de mais de 50 mil metros quadrados. Os afrescos de diferentes períodos de tempo variam em cor. Por exemplo, afrescos feitos no período Wei do Norte são principalmente de cor vermelho-marrom, acompanhado de azul e preto. A partir da Dinastia Tang em diante, o amarelo se tornou mais popular, e estes afrescos são diversificados e atraentes, brilhantes e belos.

Durante as Dinastias Ming e Qing, Pequim se tornou a capital, e a cor amarela tornou-se exclusividade da família imperial. Plebeus não eram autorizados a usar amarelo. Os imperadores usavam “túnicas amarelas”, seu carro se chamava “carro amarelo”, a rota do caminho era chamada de “estrada de tijolos amarelos”, as bandeiras usadas em suas viagens eram “bandeiras amarelas” e o material de embalagem para os selos também era amarelo. Como consequência, a cor amarela se tornou um símbolo do poder supremo. Apenas os membros da família imperial e de suas famílias podiam viver em casas com paredes vermelhas e de telhas esmaltadas pintadas de amarelo. As pessoas comuns só podiam usar a cor ciana para os tijolos e tabiques.

Hoje, ao subir à parte superior de Jingshan e passar sobre a Cidade Proibida, pode-se ver uma seção do telhado de telhas esmaltadas em amarelo. Em ambos os lados das salas, na frente e atrás, há uma enorme tina dourada de bronze e figuras de animais. São magníficos, aumentando o brilho e a luminosidade de cada um representando a soberania suprema.

Na verdade, o amarelo é a cor mais comum na Escola Buda. A figura de Buda foi chamada de “corpo dourado”, e os templos que usaram a cor amarela foram chamados de “templos de ouro”, as vestes dos monges eram feitas de um material amarelo e as figuras de Buda eram douradas para mostrar sua nobreza e preciosidade, pois, desde a antiguidade, os chineses acreditam que a cor amarela veio do céu.

Para a cultura tradicional chinesa, o céu representa os deuses dos níveis mais elevados, e a razão pela qual o imperador podia governar um império na Terra se devia ao céu ter-lhe outorgado o poder para governar. Portanto, ainda que o imperador fosse o governante supremo de um país, ele era tão somente um “filho do céu”, não o céu, e atrás dele estava “o céu” para contê-lo. Em outras palavras, um imperador estava limitado pela moral, e esta restrição indicava que o poder dos deuses era superior ao de um imperador, e o imperador tinha de respeitar o céu e atuar em consonância com seu dever.

Além disto, os imperadores tinham que ocupar-se com questões do mundo humano de acordo com a vontade do céu, quem as obedecia, prosperaria no céu, e aqueles que eram contra o céu, morreriam. Somente aqueles que seguiam a vontade do céu podiam tornar-se “imperadores com uma clara visão e moral”.

Assim, o amarelo foi usado pelos imperadores, dinastia após dinastia, representando seu poder outorgado pelos deuses, sagrado e nobre sem limites.