O IDHM, Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios, é uma expressão estatística tabulada pelo IPEA, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, com base em dados coletados pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sob a supervisão do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, encarregado também de estabelecer os indicadores a serem apurados.
O IDHM é um interessante instrumento de diagnóstico para a averiguação de resultados das políticas implementadas pelos governos, ou pela iniciativa privada, nos campos da saúde, da educação, da economia, entre outros que constituem o universo das ações com a intenção de promover o bem estar social.
Qualquer governo bem intencionado faria uma análise das informações consolidadas nesse estudo, com o propósito crítico de avaliar, de forma profissional e isenta, os resultados ali apresentados para compreender os problemas existentes e aferir o alcance das soluções implementadas.
Pois o governo do PT, Partido dos Trabalhadores, gestor das ações coletivas que influenciam diretamente os resultados do IDHM, faz o oposto.
Numa ação coordenada para mistificar, integrantes do governo apresentaram, com estardalhaço ímpar, um relatório baseado nos estudos que envolvem o índice para perverter a compreensão dos problemas e manipular a opinião pública dando destaque a pontos irrelevantes do mesmo. Quando não, para distorcer sem pudor o retrato capturado da situação.
A estatística sempre foi um instrumento a serviço da Matemática, da Geografia, ou da Economia. Neste caso presente, foi utilizada como um instrumento da política, da pior política, aquela que visa apenas fins eleitoreiros.
O governo prova, mais uma vez, que torturando-se os dados capturados, se obtém as informações que se quer ouvir.
Ao editar e propagar um press release na forma de fato relevante, repercutido pela mídia ostensivamente servil, ou intimidada, o governo divulga como notícia importante, sob manchetes ufanistas e tendenciosas que fazem até um crente inveterado virar cético, factoides que expõem suas segundas intenções de maneira nada camuflada.
Qualquer clipping com as notícias publicadas sobre a matéria mostra, invariavelmente, que duas manchetes destacavam os pontos considerados interessantes pelo governo, a saber:
– Manchete 1: “IDHM cresce vertiginosamente de 1991 para 2010, alcançando a histórica marca de crescimento absoluto de 47% no período.”
Ora, qual o significado deste dado aparentemente extraordinário? Nenhum.
Comparar um valor absoluto atual com um de 20 anos atrás não faz sentido, é um detalhe estatístico imprestável.
Serve apenas para a confrontação político partidária, como se viu logo após sua divulgação quando o partido que governou o Brasil de 1991 a 2002 explicou ter sido responsável por 24% daquele crescimento, restando ao atual, 18%.
Dado fundamental seria, contextualizar a informação, permitindo uma análise referencial que considerasse a posição do Brasil entre todas as nações em 1991, comparando-a com a registrada atualmente. Poderíamos aí sim, apurar de forma consistente, qual teria sido o desempenho das políticas executadas em nosso país perante a comunidade internacional.
Mais revelador do que os dados informados pelo governo, foi o fato de ele ter omitido a informação mais importante para compreendermos efetivamente a nossa situação.
Eis o que o governo sonegou:
A posição do Brasil no ranking das nações, considerada a ordem decrescente do valor absoluto do IDH, desprezando-se os países que em alguma daquelas datas não forneceram dados para avaliação, foi a seguinte:
Em 1990, 74⁰ lugar; em 2000, 59º lugar; e, em 2012, 60⁰ lugar.
Ou seja, o Brasil, ao longo dos governo Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, marcados por políticas mais liberalizantes do que os governos Lula e Dilma, principalmente no que se refere à austeridade fiscal e monetária, fizeram com que o Brasil melhorasse nitidamente sua posição no ranking global do IDH. Já os governos liderados pelo PT, fizeram com que o Brasil perdesse o ritmo, inclusive caindo uma posição da corrida por uma sociedade melhor.
Este rearranjo se deve ao fato de que inúmeras nações tiveram melhor aproveitamento nas suas políticas para oferecer às suas sociedades a possibilidade de melhorarem de vida. No Brasil, essa possibilidade, de 2000 para cá, ficou apenas nas intenções e na retórica, uma vez que os resultados têm sido desoladores.
Entre 1990 e 2000, 22 países tiveram crescimento mais significativo do que o nosso do IDH; entre 2000 e 2012, esse número subiu para 61; e entre 1990 e 2012, o número de países com crescimento do IDH maiores do que o do Brasil foi de 38.
Assim, o que foi qualificado como uma melhora, é na realidade um retardo, uma deterioração, um decréscimo efetivo se for considerado o crescimento de outras dezenas de países que avançaram muito mais do nós e a perda de posição no ranking aferido.
E a explicação para tal atraso se dá por uma razão simples.
Se analisarmos outra informação importante, também desconsiderada pelo governo atual por motivos óbvios, veremos que de acordo com a publicação realizada pela Heritage Foundation, que mede o grau de civilidade das nações, conforme o respeito que dedica ao Estado de Direito (Direito de propriedade e combate à corrupção ), aos limites do governo (controle dos gastos públicos e liberdade fiscal), à eficiência regulatória (liberdade empresarial, liberdade trabalhista e liberdade monetária) e ao livre-mercado (liberdade de comércio, liberdade de investir e liberdade financeira), veremos que a posição do Brasil é a seguinte:
Em 1995, quando os estudos se iniciaram, estávamos em 73⁰ lugar; em 2000, 71º lugar; e, em 2012, 100⁰ lugar.
Assim, fica mais claro entendermos porque estamos perdendo em civilidade para avançarmos em mistificações, incompetência, anarquia, hipertrofia governamental e desdém pelos direitos individuais.
– Manchete 2: “Apesar da redução da desigualdade social e econômica da população ela ainda é enorme.”
O foco no combate à desigualdade para esse governo que se arroga o monopólio da virtude, tem sido obsessivo e antes de qualquer outra coisa, equivocado e falacioso.
Todos os países, qualquer um dos países, mesmo os mais desenvolvidos, mesmo aqueles que vem liderando as listas do IDH por décadas, assim como os paupérrimos, apresentam desigualdade social e econômica e expõem, uns mais e outros menos, concentração de renda.
Por que isso ocorre? Porque a desigualdade é um resultado indissociável da ação humana. Ela permeia todas as sociedades, todos os estratos, castas, classes, ou qualquer agrupamento formado por seres humanos.
A realidade nos impõe que aceitemos essa verdade absoluta. Uns criam, trabalham, produzem, transacionam, poupam ou consomem de maneira mais interessante para os demais e esses retribuem pagando-lhes o que merecem. Quanto mais satisfação levam para os demais, mais recursos acumulam para si. Isso é da vida e nada pode modificar, nem mesmo a coerção consegue acaba com a desigualdade, ainda que acabe com a riqueza.
A igualdade de resultados é um mito, jamais será um bem a ser buscado, muito menos um valor a ser descoberto e defendido com ardor heróico. É um objetivo inatingível, irreal e contraproducente.
A igualdade de resultados somente pode ser tentada através de ações impositivas. A busca pela isonomia requer coerção, censura, castração, o que levará a resultados invariavelmente diversos das intenções originais.
Sempre que o homem age para compensar diferenças naturais, cria-se um efeito colateral que degrada os reais valores que nos movem para o progresso, para o enriquecimento da sociedade, para a mobilidade social e econômica e, acima de tudo, para a constante e imediata redistribuição justa da riqueza, proporcionada exclusivamente pelas forças de mercado com suas trocas voluntárias e valores éticos.
Enaltecer a igualdade, é desdenhar dos reais valores necessários para a promoção da vida plena.
É desconhecer que o propósito da vida é a vida per se e que a falta desses valores tornam a própria vida um tormento, um sacrifício.
Os valores que tornam a vida profícua, não pertencem ao governo, nem às religiões, nem a grupos específicos, nem foram criados nem inventados por alguém.
São valores universais, de domínio público, ninguém os possui. Temos apenas que reconhecê-los, compreendê-los, segui-los e protegê-los. A realidade, a vida e seus corolários, a liberdade, a propriedade e a busca da felicidade são valores inegociáveis para que a humanidade prospere, interaja pacificamente, cooperando para a satisfação individual que oportunizará o bem estar de todos.
Lidar com a existência como ela é, considerar a vida o valor ético maior, reconhecer que a racionalidade é o melhor instrumento que a sustenta, eleger a liberdade como o caminho para a superação das dificuldades, onde o Estado, limitado ao combate da violência, associado ao livre-mercado, criam o ambiente fecundo para que a felicidade possa ser buscada com legitimidade inquestionável.
Qualquer outro ingrediente adicionado a essa receita não funcionará.
Os elementos necessários para uma vida gloriosa estão à disposição de todos, estão aqui, estão ali, estão em todos os lugares. Eles pertencem à natureza, à realidade, eles existem. Temos que percebê-los, temos que respeitá-los, temos que protegê-los.
Eles não são frutos criados pela humanidade, como a violência, como a religião, como a igualdade, como a coerção. Não são atributos construídos pela consciência.
Os valores fundamentais que promovem o bem não podem ser inventados por ninguém, são descobertas e por isso, ninguém pode reclamar sua propriedade.
A realidade, a vida, a liberdade, a propriedade e a felicidade somente podem ser reconhecidas através do uso da razão, qualquer outro argumento é dogmático, é niilista, é subjetivo.
Esse conjunto de elementos vitais é objetivo, é secular e liberta filosoficamente a humanidade de sua própria ignorância, de seu pendor ao coletivismo e sua indesejável tendência de se insurgir contra os seus semelhantes, perenizando o primitivismo e a busca pela igualdade através da coerção.
Infelizmente, a sociedade brasileira tem demorado a perceber a raiz e a solução de seus problemas, ainda mais quando o caminho para o conhecimento e a independência intelectual tem sido obstruído por quem deveria promovê-lo.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Millenium
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