A arte de ensinar na antiga China – Parte 2

16/03/2012 00:00 Atualizado: 16/03/2012 00:00

‘Primavera em flores de cerejeira num vale enevoado’. (Clearwisdom.net)

Na antiga sociedade chinesa, todos respeitavam os professores e os professores eram autoridades altamente consideradas. A hierarquia de respeito era simplesmente assim: “O Céu, a Terra, o Imperador, os pais e o professor”.

Tinha-se o lema “Professor por um dia, pai para a vida toda”. Assim, os intelectuais estavam muito dispostos a ensinar. Se qualquer um dos alunos fosse capaz de ter uma pontuação mais alta no exame do governo e tornar-se um oficial altamente qualificado, ele traria grande glória para seu professor e seria homenageado pelo resto de sua vida.

A educação era levada a sério em ambos os setores, público e privado. As crianças estudavam em casa com professores particulares (conhecidos como Sishu), eruditos que foram reprovados nos exames do governo. Ensinar crianças era uma carreira importante para os intelectuais, pois proporcionava um meio sustento, nutria seus talentos e promovia a educação na sociedade.

As escolas mantidas pelo governo eram chamadas ‘Shuyuan’. Algumas delas eram privadas, porém tinham registros oficiais, e frequentemente eram apoiadas financeiramente pelo governo.

O objetivo das Shuyuan era oferecer estudos mais avançados e criar um ambiente para o cultivo de talentos de alto nível. Apenas os que haviam dedicado seus estudos para fazer os exames do governo seriam suficientemente bons para entrar nas Shuyuan.

As Shuyuan forneciam a melhor educação, tinha altos padrões acadêmicos, e existiam somente em núcleos provinciais ou nas grandes capitais das províncias.

Os diretores das Shuyuan eram todos acadêmicos e estudiosos altamente respeitados. O governo trabalhava com os setores privados para estabelecer escolas, permitindo que uma educação de qualidade estivesse disponível ao público em geral. O antigo sistema educativo chinês era muito abrangente e projetado para dar ao Estado e à sociedade pessoas de talento em diversas áreas.

Na sociedade tradicional chinesa, a educação estava classificada como estudo elementar, estudo clássico, e estudo elementar-clássico. O estudo elementar transmitia conhecimento rudimentar aos iniciantes. Os professores somente liam o texto em voz alta sem explicar o conteúdo. Enquanto o professor lia, os alunos memorizavam cada palavra e frase. Os estudiosos, começando na juventude, memorizavam assim centenas de milhares de caracteres.

Este método de ensino pode parecer estranho, mas seu efeito foi comprovado pelas seguintes razões: primeiro de tudo, porque servia para aperfeiçoar o temperamento dos alunos e corrigir suas atitudes em relação ao estudo. Segundo, porque através deste treinamento intensivo, as palavras com significado divino eram gravadas na mente dos alunos e eles conseguiam se lembrar e usá-las como base para se conduzirem pelo resto de suas vidas. Esta parte do estudo estabelecia uma base sólida para seus estudos futuros.

Há uma razão pela qual os professores não explicavam o conteúdo do texto. As palavras dos santos têm uma filosofia profunda e significados que não podem ser explicados em poucas palavras. Os estudantes poderiam não entender, mesmo com uma explicação mais detalhada. Inclusive, um estudante poderia levar uma vida inteira para digerir esse conhecimento, compreendê-lo e praticá-lo antes que ele pudesse ter uma realização plena. Uma explicação subjetiva ou inadequada poderia facilmente desorientar os estudantes. Desde então, era uma tradição que no nível elementar de estudo, os professores não explicassem os livros clássicos de Confúcio.

O estudo clássico significava que o professor explicava as palavras ou frases quando lecionava aos alunos. Havia discussões abertas entre professor e alunos. Neste nível, os alunos já tinham certa quantidade de conhecimento e fundamentos acadêmicos sólidos, que os capacitavam para trocar opiniões e discutir com os professores. Os alunos podiam levantar questões e os professores lhes responder.

O estudo elementar-clássico ficava entre os outros dois. Até certo ponto, o professor explicava o conteúdo de suas leituras. Não importava que tipo de estudo, o tipo de leitura dada aos estudantes estava em grande parte relacionada com o nível acadêmico dos professores.

A antiga educação chinesa se preocupava muito se os alunos se iluminavam verdadeiramente com entendimentos profundos e experiência. Somente quando os alunos podiam realmente dominar o conhecimento eram considerados eruditos.

Algumas pessoas podem pensar que a antiga educação chinesa era somente memorizar mecanicamente e por isso era enfadonha. Isso não é totalmente verídico. O verdadeiro estudo é um processo que apresenta dificuldades. É natural que quando uma pessoa trabalhe duro ela seja recompensada. O antigo sistema de educação chinês exigia um avanço gradual. O desempenho acadêmico do aluno estava interligado ao cultivo próprio, assim, seu aprimoramento no campo acadêmico era um reflexo do aperfeiçoamento no autocultivo.

A educação antiga não era chata, era gratificante e divertida. Além de aprender com os clássicos de Confúcio, os estudantes usavam bastante tempo e energia estudando poesia, canto, caligrafia, música, xadrez, escrita e pintura.

Havia também muitos tipos de treinamento especial na educação antiga, como a compreensão do ritmo, a construção das palavras ou frases, composição de poemas, escrever artigos, tocar instrumentos musicais e pintura. Este treinamento fazia-se todos os dias e era misturado à educação como entretenimento. Isso impulsionava a inteligência dos alunos, treinava seu processo de pensar e melhorava seus níveis de escrita. Também estimulava a criatividade dos alunos, o desejo de criar, e cultivar suas mentes e pensamentos nobres.