A arte de ensinar na antiga China – Parte 1

13/03/2012 00:00 Atualizado: 13/03/2012 00:00

Um retrato de Confúcio, por Wu Daozi (685-758), Dinastia Tang. (Wikimedia)

A educação formal na antiga China foi baseada, em grande parte, no confucionismo. Diz-se que quando Confúcio fazia conferências em Xingtan (traduzido literalmente como ‘Altar de Damasco’), ele tinha 3 mil alunos.

Dong Zhongshu (179-104 a.C.), um erudito influente do império durante a Dinastia Han, promoveu amplamente o confucionismo acima de qualquer outra ideologia, portanto, o confucionismo foi a forma de pensar dominante na época.

Durante as dinastias Sui (580-618) e Tang (618-907), que enfatizaram o estudo do confucionismo, o sistema de avaliação imperial foi levado gradualmente a sua expressão máxima, e sua influência na educação clássica chinesa durou séculos.

Como núcleo de seu método de educação formal, a ideologia confucionista é um sistema completo de pensamentos que cobrem amplos aspectos da vida social e espiritual. Em “O grande ensinamento”, Confúcio escreveu, “Com pessoas cultas, suas famílias são reguladas. Com famílias reguladas, os Estados são devidamente governados. Com Estados governados adequadamente, todo o reino se torna feliz e tranquilo.”

Educados sob essa filosofia, o povo da antiga China dava ênfase ao cultivo da moralidade, alimentando a nobreza de caráter, respeitando o Céu e a Terra. Aceitava-se que as vidas tinham caminhos predestinados e que ao se cultivar o caráter moral alcançava-se a paz mental, bem como uma aparência saudável em relação à vida terrena, ao divino, e aos valores sociais.

A base do confucionismo consiste em “benevolência, justiça, moralidade, sabedoria, fidelidade”. Muitas virtudes como a lealdade, devoção, coragem, justiça, transparência, honestidade, diligência, etc., se derivam delas. O confucionismo efetivamente regulamentou todas as camadas da sociedade e definiu os padrões e valores morais para ser uma boa pessoa.

A benevolência e as boas maneiras são o núcleo dos valores confucionistas. Através da manutenção de uma mentalidade benevolente, as pessoas seriam naturalmente corretas. Sem moralidade, não haveria fidelidade ou lealdade. Sem fidelidade nada pode ser estabelecido.

A cultura tradicional chinesa está profundamente enraizada no confucionismo, budismo e taoismo. O confucionismo se concentra em “entrar no mundo humano”, enquanto o budismo e o taoismo enfocam “transcender o mundo humano”. Interagindo diretamente com a sociedade comum, o confucionismo tem um impacto maior na sociedade humana ou no mundo humano.

Na antiga China, o método de ensino de Confúcio foi muito eficaz, não só porque formava pessoas altamente educadas, mas também porque desempenhava um papel de mantenedor da estabilidade social e promotor do progresso econômico e cultural. Sem a abordagem do método de ensino de Confúcio para ensinar, a história da China não teria tido o esplendor da Dinastia Tang ou da requintada Dinastia Song, ou das coloridas dinastias Ming e Qing. Isto significa que a cultura tradicional chinesa não existiria se não tivesse a plataforma do confucionismo.

Durante a Dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.) e a Dinastia Jin (265-420), o sistema de avaliação imperial ainda não estava estabelecido, embora houvesse um sistema de recomendação para designar pessoas bem-educadas com um bom histórico para ocuparem posições importantes no governo. Essas pessoas geralmente eram de famílias ricas e influentes. No entanto, se essa pessoa não era bem educada, não importando o status de sua família, ela não poderia ser recomendada.

Estabelecido durante as dinastias Sui e Tang, o sistema imperial de avaliação deu ao público em geral uma oportunidade de igualdade para entrar no governo. Muitas pessoas bem-educadas de origem humilde conseguiram posições muito importantes no governo. Muitas histórias de pessoas bem sucedidas, “que começaram de baixo”, ainda são contadas hoje.

Embora os que chegaram ao topo fossem uma minoria, aqueles educados sob a mesma ideologia assumiram um papel importante na sociedade. De forma geral, as pessoas educadas eram altamente respeitadas e foram os blocos principais que construíram a sociedade chinesa.

Alguns deles começaram escolas, ou ofereceram aconselhamentos estratégicos aos governantes; outros praticaram medicina; outros se tornaram artistas.

Na antiga China, o estrato educado teve um enorme impacto através de seus pensamentos e ações. Seu sistema de valores foi uma ferramenta para manter a estabilidade.

Outra característica única dos antigos métodos chineses de ensinar é que os livros principais não mudaram por milhares de anos. Não importando como as dinastias mudavam, os livros clássicos permaneciam.

As dinastias e as sociedades podem mudar, mas o Tao nunca muda. Esta é a razão por que o confucionismo permaneceu por milhares de anos. Não importava que dinastia uma pessoa tinha nascido, ela sempre recebia a mesma educação, e era orientada pelos mesmos ideais ortodoxos.

Os textos clássicos são a essência da cultura tradicional chinesa. As pessoas começavam a estudá-los numa idade muito precoce. Muitas pessoas eram capazes de recitar versos de “O grande ensinamento”, “A doutrina do meio”, “Os analectos de Confúcio” e “O livro de odes”.

No entanto, na moderna China de hoje, a maioria dos alunos do ensino fundamental ou superior perdeu sua conexão com esses livros que são parte integrante de seu patrimônio.

Na antiga China, a meta da educação era conhecer o Tao do ser, do ser humano. Esta fundação provia uma direção correta na vida do ser humano, permitindo-o se iluminar para o Tao em nível mais profundo ao praticá-lo na vida diária.

No entanto, na educação do mundo de hoje é apenas um acúmulo de habilidades e doutrinas textuais.