O agronegócio brasileiro enfrenta dificuldades com o avanço da seca e das queimadas em várias regiões do Brasil, afetando a produção de alimentos e pressionando os preços.
Produtos como açúcar, café, frutas e hortaliças estão entre os mais impactados, o que deve refletir na inflação nos próximos meses.
Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) apontam que 58% do território nacional já sofre com os efeitos da estiagem, superando até mesmo períodos críticos como 1998 e 2015/2016.
É a maior seca já registrada desde o início da série histórica em 1950.
Frutas e hortaliças sentem os primeiros efeitos
Frutas e hortaliças são categorias que tendem a sofrer o impacto da seca de forma mais imediata. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) alerta para a situação crítica de culturas como a laranja, cuja qualidade está comprometida pelo estresse hídrico.
O Brasil, como maior produtor de suco de laranja no mundo, também enfrenta estoques baixos, o que pode manter os preços da fruta elevados por um longo período.
Outras frutas, como melancia e banana, também sentem os efeitos da irregularidade das chuvas, com queda na produção e aumento nos preços.
No caso das hortaliças, a cenoura e o tomate estão entre os produtos mais suscetíveis à seca, com previsão de alta de preços nos próximos meses.
Queimadas agravam situação
Além da falta de chuvas, as queimadas em diversas áreas do país complicam ainda mais a situação.
Incêndios de grande proporção já foram registrados no interior de São Paulo, na Amazônia e no Pantanal, devastando áreas produtivas e gerando perdas significativas para o agronegócio.
Entre as culturas mais afetadas está o café. A florada do grão, esperada para setembro, pode ser prejudicada pela ausência de chuvas, comprometendo o ciclo de produção.
A produção de cana-de-açúcar também está em risco. A Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) estima que os incêndios já causaram prejuízos de R$ 800 milhões, afetando mais de 100 mil hectares de plantações.
Segundo o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, a cana só deve se recuperar quando houver reposição hídrica adequada.
“Esse cenário de clima seco e falta de chuvas pode impactar a safra futura, mas ainda é cedo para previsões. Esperamos que as chuvas deste final de ano venham de forma uniforme e volumosa e a rebrota da cana-de-açúcar aconteça de uma maneira mais tranquila”, afirmou.
A escassez de cana deve começar a impactar os preços do açúcar e do etanol a partir de outubro, quando os efeitos da seca e dos incêndios serão mais visíveis.
Carne bovina e pecuária afetadas
A seca e as queimadas também impactam negativamente as pastagens, essenciais para a pecuária bovina. Com a deterioração das pastagens, os custos de produção aumentam, o que deve refletir em elevação nos preços da carne bovina.
No entanto, a Conab pondera que o ciclo pecuário, que este ano atinge seu pico de oferta, pode compensar parcialmente esses efeitos.
Por outro lado, as proteínas suína e de frango devem ser menos afetadas pela seca, já que as regiões produtoras no sul do país, responsáveis por mais de 70% da produção nacional, estão sendo beneficiadas por chuvas regulares e pela previsão de um La Niña moderado, que tende a trazer precipitações acima da média.