A suspensão da venda de carne brasileira pelo Carrefour na França gerou indignação no Mercosul, com produtores propondo boicote à rede no Brasil, medida apoiada pelo ministro Carlos Fávaro em defesa da reciprocidade comercial.
Anunciada como parte de uma estratégia para apoiar produtores franceses, a medida do Carrefour gerou forte reação no Brasil e em outros países do Mercosul, importantes fornecedores de proteína animal para a rede.
Lideranças agrícolas do Mercosul destacaram o compromisso do bloco com sustentabilidade, rastreabilidade e preservação ambiental, criticando a medida como um desrespeito a esses esforços e mobilizando o setor para expressar sua insatisfação.
A Federação das Associações Rurais do Mercosul (FARM), uma entidade formada por representantes do agro sul-americano, emitiram uma nota conjunta de repúdio, declarando que a atitude do Carrefour é “arbitrária, protecionista e equivocada, prejudicando o bloco e ignorando os padrões de sustentabilidade, qualidade e conformidade que caracterizam a produção agropecuária nos países membros do Mercosul”.
Segundo a nota, “a carne do Mercosul é produzida sob rigorosos padrões socioambientais e sanitários, alinhados com as mais exigentes normas internacionais”, defendeu a entidade. “Embora decisões comerciais sejam de competência interna das empresas, a postura pública do CEO do Carrefour ultrapassa os limites aceitáveis, ao transformar uma política de compras em palco para questionamentos infundados”.
Em outra nota conjunta a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), SRB (Sociedade Rural Brasileira) e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) sugeriram, como medida de resposta, interromper totalmente o fornecimento de carne ao Carrefour no Brasil.
“Se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês[…], se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”, defendeu as entidades.
Tal postura, segundo as lideranças do agronegócio, busca defender a imagem do produto brasileiro e garantir que o trabalho dos produtores locais não seja desvalorizado.
Eles argumentam que a medida adotada pela rede francesa cria um precedente perigoso, ao questionar a segurança e a sustentabilidade dos produtos oriundos do Mercosul. Isso é especialmente preocupante em um momento em que os produtores estão cada vez mais focados em alinhar suas práticas com padrões globais de qualidade.
Carlos Fávaro elogiou a postura dos produtores brasileiros, destacando que a soberania nacional e o respeito à legislação vigente devem ser prioridade. “Eu achei uma atitude louvável da indústria brasileira dizer assim ‘então, não vou fornecer também [ao Carrefour]’. E tem o meu apoio essa atitude, que mostra soberania e o respeito à legislação brasileira”, defendeu o ministro.
Segundo o ministro, o agronegócio brasileiro é reconhecido pela alta qualidade dos seus produtos e pelo compromisso com as exigências internacionais em termos de segurança alimentar e sustentabilidade.
A decisão do Carrefour, portanto, é vista não apenas como uma afronta aos produtores brasileiros, mas também como um ataque à imagem e à reputação do setor agrícola nacional.