Senadores e deputados do Brasil decidiram levar o boicote à carne bovina do Mercosul à próxima Sessão Plenária do órgão, marcada para o mês de dezembro, em Montevidéu, Uruguai. Eles compõem a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul).
A proposta surgiu após a recente polêmica envolvendo críticas à qualidade da carne brasileira, feitas por executivos de redes de supermercados francesas, que resultaram no boicote à carne do bloco sul-americano.
A decisão foi anunciada após uma reunião da Representação Brasileira no Senado, realizada na terça-feira (26).
A polêmica teve início na semana passada, quando Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, criticou a carne bovina brasileira e anunciou que a rede deixaria de vender carne proveniente do Mercosul em suas lojas na França.
Em reação, frigoríficos brasileiros suspenderam o fornecimento de carne à rede no Brasil. Diante da repercussão negativa, Bompard enviou uma carta de desculpas ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Além disso, outra rede francesa, o grupo Les Mousquetaires, responsável pelas marcas Intermarché e Netto, também anunciou que não compraria mais carne do Mercosul. Os apontamentos negativos se somaram a protestos de produtores rurais franceses contra o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia.
Comparação a “lixo”
Segundo maior produtor e maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil foi alvo de críticas principalmente de políticos franceses. O deputado Vincent Trébuchet, por exemplo, comparou a carne brasileira a “lixo” em uma sessão na Assembleia Nacional da França, o que gerou indignação entre os representantes do país sul-americano.
O presidente da Representação Brasileira no Parlasul, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), classificou a atitude das empresas francesas como protecionista e afirmou que essa decisão afeta diretamente os produtores brasileiros.
Estes, segundo Trad, investiram na produção de carne de qualidade, com todas as exigências sanitárias e de embalagem necessárias para exportação.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, também criticou a atitude e argumentou que a França não pode rebaixar os produtos do Mercosul, especialmente quando enfrentam uma crise no setor agrícola.
Estratégias contra restrição
A Representação Brasileira no Parlasul anunciou que, na Sessão Plenária de dezembro, buscará discutir estratégias para enfrentar o boicote e proteger os interesses dos produtores do Brasil e do Mercosul. O objetivo é estimular o diálogo com a União Europeia e defender os interesses do setor produtivo sul-americano.
Na terça-feira, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou requerimentos para ouvir o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, e o CEO do Carrefour.
Além disso, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) também convidou o embaixador francês e o diretor-presidente do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, para prestar esclarecimentos.
O senador Wellington Fagundes (PL-MT), autor de um dos requerimentos, afirmou que a qualidade da carne brasileira é amplamente reconhecida. O parlamentar defendeu que a questão não deve ser discutida com base em declarações infundadas.
Médico veterinário, Fagundes enfatizou a alta qualidade da indústria frigorífica brasileira e dos processos de inspeção sanitária.
Moção de repúdio
Além disso, a Comissão de Agricultura (CRA) aprovou uma moção de repúdio contra o deputado francês Vincent Trébuchet. O presidente da comissão, senador Alan Rick (União-AC), afirmou que a fala do deputado “envergonha a França”.
Além disso, Rick disse que o Brasil deve ser respeitado, especialmente em relação às normas ambientais rigorosas seguidas pelo país.
O Brasil segue como um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, com um crescimento contínuo na produção e exportação. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção global de carne bovina aumentará 2,37% em 2024, sendo o Brasil responsável por quase 20% dessa produção.
No mês de outubro, as exportações brasileiras de carne bovina alcançaram um novo recorde, com 270,3 mil toneladas exportadas, totalizando US$ 1,25 bilhão.