Indústria de etanol de milho no Brasil não impactou preços domésticos da cultura, afirma estudo

Por Matheus de Andrade
29/08/2024 13:43 Atualizado: 29/08/2024 13:43

Um estudo publicado na GCB Bioenergy revela que a entrada da indústria de etanol de milho no Brasil, especialmente na região Centro-Oeste, não impactou significativamente os preços domésticos do milho. A pesquisa, liderada por Marcelo Justus, UNICAMP e Agroicone, analisou a relação entre os preços do milho no mercado interno e internacional desde 2005, com foco no impacto da crescente demanda para a produção de etanol a partir de 2017.

O primeiro parque industrial dedicado à produção de etanol de milho no Brasil foi inaugurado em 2017. Desde então, a produção cresceu rapidamente, atingindo 4,4 bilhões de litros em 2022, com Mato Grosso liderando, responsável por 73% do total produzido.

Com o rápido crescimento da indústria, surgiram preocupações de que a maior demanda por milho para etanol pudesse elevar os preços domésticos, prejudicando produtores e consumidores. Esse tipo de preocupação é comum em debates sobre biocombustíveis, especialmente no contexto da controvérsia “Food versus Fuel”, que discute o impacto dos biocombustíveis nos preços dos alimentos.

Resultados do estudo

Com uma análise de cointegração e uma série temporal mensal de maio de 2005 a agosto de 2023, o estudo concluiu que há uma relação estável de longo prazo entre os preços do milho no mercado internacional e no Brasil. No entanto, não foi encontrada evidência estatística de que a entrada da indústria de etanol de milho no Brasil tenha impactado significativamente os preços pagos aos produtores locais.

Essa conclusão é relevante porque sugere que o aumento dos preços do milho no Brasil não se deve à demanda adicional das usinas de etanol. Em vez disso, os resultados indicam que os preços domésticos do milho estão mais correlacionados com as variações nos preços internacionais do que com a demanda interna por etanol.

O estudo ajuda a entender as dinâmicas do mercado agrícola no Brasil, especialmente a interação entre a produção de biocombustíveis e alimentos. As conclusões indicam que, no caso do etanol de milho, a expansão da produção não aumentou os preços do milho no mercado interno, aliviando preocupações sobre a competição entre a produção de alimentos e biocombustíveis.

Esses achados têm implicações importantes para políticas públicas e estratégias de sustentabilidade no Brasil. A produção de etanol de milho pode continuar a se expandir sem grandes impactos nos preços dos alimentos, nas condições atuais do mercado. No entanto, os autores recomendam que pesquisas futuras monitorem essa relação, especialmente se houver mudanças significativas na produção ou no mercado internacional.