Dentre as quatro empresas vencedoras do leilão de arroz promovido pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma delas é chefiada por Crispiniano Espindola Wanderley, que já reconheceu à Justiça ter pago propina para conseguir um contrato com a Secretaria de Transportes do Distrito Federal. O órgão público era comandado pelo atualmente deputado federal, Alberto Fraga (PL-DF). As suspeitas de corrupção foram apuradas pela Polícia Civil, na Operação Regin, que teve início em 2011.
Wanderley afirmou que o então secretário exigiu propina para a assinatura de um contrato de ônibus, tendo pago R$ 350 mil para fechar o acordo. O empresário não foi alvo de investigação. Fraga foi inicialmente condenado a sete anos de prisão, mas posteriormente inocentado.
Proprietário da ASR Locação de Veículos e Máquinas, com sede em Brasília, Wanderley tem como principal atividade o aluguel de máquinas e equipamentos, mas também atua no comércio atacadista de cereais, serviços de escritório e limpeza, construção de edifícios, rodovias, publicidade e desenvolvimento de software. Também está envolvido com outras empresas de transporte e em um instituto de perícia forense. Entre 2002 e 2009, presidiu a Cooperativa de Transportes Públicos do Distrito Federal (Coopertran) e foi citado na investigação que condenou Alberto Fraga.
A maior compradora do leilão é a empresa “Wisley A de Souza”, que adquiriu 147,3 mil toneladas de arroz. Registrada na Receita Federal como “Queijo Minas”, a empresa tem como atividade central a venda de laticínios e está localizada no centro de Macapá (AP). Seu único sócio é a pessoa de mesmo nome.
Federarroz e parlamentares criticam compra de Lula
O governo Lula comprou 263,3 mil toneladas de arroz importado, no total de R$ 1,3 bilhão. A alegação foi supostamente atenuar os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul, que teria afetado o abastecimento e os preços do arroz. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção do cereal no país.
Porém, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) apresenta outra versão dos fatos. A entidade aponta que 83% da safra de arroz produzido no estado já foi colhida.
Parlamentares têm levantado questionamentos sobre a transparência e a integridade do processo de leilão de arroz. A ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro e atual senadora, Tereza Cristina (PP-MS), entrou com uma ação no Tribunal de Contas da União (TCU). Ela solicitou uma investigação a respeito do pregão. A senadora pediu uma auditoria para avaliar a necessidade e os impactos da importação de arroz para os agricultores brasileiros e para o mercado, bem como a capacidade financeira das empresas vencedoras.