Dados publicados pelo IBGE mostram que o abate de bovinos atingiu o recorde no primeiro semestre de 2024. Contudo, o preço do boi gordo, que caiu a partir de janeiro até junho, devido à alta oferta, voltou a subir, e já alcança os níveis de janeiro novamente. Especialista da CNA detalha as dinâmicas do mercado de carne bovina e o impacto nas exportações.
De acordo com o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), o abate de bovinos atingiu 9,94 milhões de cabeças, um aumento de 17,2% em relação ao ano anterior e 6,9% frente ao primeiro trimestre de 2024.
Rafael Ribeiro, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse em entrevista para o Epoch Times Brasil que a alta dos abates se deve ao aumento do preço da carne ocorrida em 2019, 2020, 2021 e no começo de 2022, que estimulou os produtores a reterem as fêmeas para maior reprodução de bezerros e para um futuro abate.
“Da mesma forma que a alta no preço estimula a retenção de fêmeas para matrizes do rebanho—para produzir bezerro—essa maior oferta derruba o preço do bezerro, do garrote e do boi gordo”, explica Rafael.
Ele também ressalta que o baixo preço causado pela grande quantidade de oferta estimula que os produtores se desfaçam das fêmeas para não acumularem prejuízos, o que aumenta ainda mais a oferta, contudo, estabiliza a queda do preço das carnes.
“Somada a oferta oriunda da retenção de fêmeas”, explica Rafael, “a gente tem, esse ano, um descarte [através do abate] maior de fêmeas e por isso temos mais bovinos” no mercado.
O aumento de produção beneficiou inclusive a balança comercial. Dados do Comex Stat mostram que entre janeiro e agosto de 2024, o preço da carne no mercado global caiu 7,2% em comparação ao mesmo período de 2023. Apesar dessa queda internacional, o Brasil exportou 1.593.623 toneladas de carne, um aumento de 29,7%. O valor dessas exportações chegou a US$ 7.149,91 milhões, representando um crescimento de 20,3% em relação ao ano anterior.
Além do recorde de abate de bovinos, o abate de suínos e frangos também apresentou crescimento no segundo trimestre de 2024. O abate de suínos aumentou 2,4%, com 14,55 milhões de cabeças abatidas, e o de frangos cresceu 3,2%, atingindo 1,61 bilhão de cabeças.
Dinâmica de preço e perspectiva
Segundo o Indicador do Boi Gordo o preço da carne bovina começou o ano de 2024 com valores elevados, atingindo um pico em janeiro, mas sofreu queda acentuada ao longo do primeiro semestre. Este movimento, como explicado, ocorreu devido a maior oferta, contudo, a partir de julho o movimento oposto tem ocorrido com a carne chegando aos valores mais altos do ano que foram registrados em janeiro.
De acordo com Rafael Ribeiro, a alta já era esperada e vem por causas naturais. “Junho, julho, agosto, setembro e outubro é o período de entressafra do boi, quando temos uma queda na qualidade e disponibilidade de capim”, explicou. “A oferta que temos vem de confinamento e semiconfinamento… uma estratégia para a seca.”
Rafael explica que a oferta volta a se estabilizar em novembro, contudo, a expectativa é que com a diminuição do uso de fêmeas para reprodução e abate, se “tenha uma retomada mais firme [do aumento do preço] a partir do ano que vem, depois dessa queda que a gente viu de fevereiro-março de 2022 até julho-agosto [de 2024].”