Especialista prevê alta constante no preço da carne

Com oferta elevada no primeiro semestre e entressafra impulsionando alta de preços, especialista da CNA detalha as dinâmicas do mercado de carne bovina e o impacto nas exportações.

Por Matheus de Andrade
09/09/2024 18:29 Atualizado: 09/09/2024 18:29

Dados publicados pelo IBGE mostram que o abate de bovinos atingiu o recorde no primeiro semestre de 2024. Contudo, o preço do boi gordo, que caiu a partir de janeiro até junho, devido à alta oferta, voltou a subir, e já alcança os níveis de janeiro novamente. Especialista da CNA detalha as dinâmicas do mercado de carne bovina e o impacto nas exportações.

De acordo com o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), o abate de bovinos atingiu 9,94 milhões de cabeças, um aumento de 17,2% em relação ao ano anterior e 6,9% frente ao primeiro trimestre de 2024.

Rafael Ribeiro, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse em entrevista para o Epoch Times Brasil que a alta dos abates se deve ao aumento do preço da carne ocorrida em 2019, 2020, 2021 e no começo de 2022, que estimulou os produtores a reterem as fêmeas para maior reprodução de bezerros e para um futuro abate.

 “Da mesma forma que a alta no preço estimula a retenção de fêmeas para matrizes do rebanho—para produzir bezerro—essa maior oferta derruba o preço do bezerro, do garrote e do boi gordo”, explica Rafael.

Ele também ressalta que o baixo preço causado pela grande quantidade de oferta estimula que os produtores se desfaçam das fêmeas para não acumularem prejuízos, o que aumenta ainda mais a oferta, contudo, estabiliza a queda do preço das carnes.

“Somada a oferta oriunda da retenção de fêmeas”, explica Rafael, “a gente tem, esse ano, um descarte [através do abate] maior de fêmeas e por isso temos mais bovinos” no mercado.

O aumento de produção beneficiou inclusive a balança comercial. Dados do Comex Stat mostram que entre janeiro e agosto de 2024, o preço da carne no mercado global caiu 7,2% em comparação ao mesmo período de 2023. Apesar dessa queda internacional, o Brasil exportou 1.593.623 toneladas de carne, um aumento de 29,7%. O valor dessas exportações chegou a US$ 7.149,91 milhões, representando um crescimento de 20,3% em relação ao ano anterior.

Além do recorde de abate de bovinos, o abate de suínos e frangos também apresentou crescimento no segundo trimestre de 2024. O abate de suínos aumentou 2,4%, com 14,55 milhões de cabeças abatidas, e o de frangos cresceu 3,2%, atingindo 1,61 bilhão de cabeças​.

Dinâmica de preço e perspectiva

Segundo o Indicador do Boi Gordo o preço da carne bovina começou o ano de 2024 com valores elevados, atingindo um pico em janeiro, mas sofreu queda acentuada ao longo do primeiro semestre​. Este movimento, como explicado, ocorreu devido a maior oferta, contudo, a partir de julho o movimento oposto tem ocorrido com a carne chegando aos valores mais altos do ano que foram registrados em janeiro.

 

Evolução do preço do boi gordo de outubro de 2023 até 09 de setembro

De acordo com Rafael Ribeiro, a alta já era esperada e vem por causas naturais. “Junho, julho, agosto, setembro e outubro é o período de entressafra do boi, quando temos uma queda na qualidade e disponibilidade de capim”, explicou. “A oferta que temos vem de confinamento e semiconfinamento… uma estratégia para a seca.”

Rafael explica que a oferta volta a se estabilizar em novembro, contudo, a expectativa é que com a diminuição do uso de fêmeas para reprodução e abate, se “tenha uma retomada mais firme [do aumento do preço] a partir do ano que vem, depois dessa queda que a gente viu de fevereiro-março de 2022 até julho-agosto [de 2024].”