A maior fonte de riscos para que a carne do seu churrasco, a fruta da sua geladeira ou a sua refeição do dia-a-dia chegue a sua mesa é a variação do clima. Os agricultores, desde tempos remotos, dependem da chuva para uma boa colheita. O excesso ou a falta dela pode influenciar fatores como a incidência de pragas e doenças e comprometer a produção a níveis catastróficos. Um estudo conduzido pelo prof. Dr. Roberto Rochadelli, da Universidade Federal do Paraná, analisou a tendência das chuvas na região oeste do estado sulista por 47 anos a fim de pontuar padrões em dois extremos: o dos períodos de seca e o dos de excesso de chuva.
Esse monitoramento pode se provar essencial para o produtor durante a condução da safra. A redução das chuvas no mês de janeiro, por exemplo, reduz os níveis de água no solo causando um impacto negativo nas culturas que estejam em partes mais sensíveis de seu ciclo. Isso vale, entre outras, para a soja e o milho, onde esse efeito pode ser observado em safras de início de ano.
Estabelecido que o padrão histórico de chuvas na região ajuda a prever o rendimento das safras, um fator chave para isso são as fases do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). É uma oscilação da temperatura do Oceano Pacífico que ocorre periodicamente, mas sem uma incidência regular. Durante uma de suas fases, a “El Niño” ocorre um aquecimento desse corpo d’água levando a mais chuva na região sul e mais seca no Nordeste; em outra, a “La Niña”, ocorre o contrário: o oceano resfria, levando mais chuva ao nordeste e menos para a região sul. Simplificando, isso se deve a correntes de ar e à pressão atmosférica, que são afetadas pela alteração na temperatura do Pacífico.
A pesquisa analisou dados de 11 estações meteorológicas situadas na região oeste do Paraná coletados entre os anos de 1968 a 2015. A escolha do local foi devido à alta produção agrícola ali e seu impacto no agronegócio estadual. O Paraná é tradicionalmente um dos três maiores produtores de soja do Brasil. Essa região é ainda situada em uma zona de transição entre o clima tropical e o clima subtropical.
A partir das análises, os pesquisadores observaram a existência tanto de anos críticos chuvosos quanto secos, em quantidade semelhante. No entanto, a ocorrência e intensidade de eventos de seca, foi diminuindo no decorrer da série histórica, não apresentando um padrão cíclico claro.
Por outro lado, observando as datas de eventos chuvosos, eles observaram que existe um ciclo de aproximadamente 15 anos. Tais eventos estão relacionados às fortes oscilações positivas do ENOS, chamadas Super El Niño (1982/1983, 1997/1998, e 2015/2016).
Os eventos extremos de seca, eram mais recorrentes na primeira metade da série histórica, não vindo a se repetir com tanta intensidade na região no período seguinte. Com secas intensas menos recorrentes, houve um acúmulo de precipitação na segunda metade do período analisado, ainda mais intensificado com os eventos extremos de chuva, causados por fortes oscilações do El Niño.
Em média, os volumes de chuva na região aumentaram em 200 mm nos últimos 50 anos, sendo que, ao longo do ano, tem-se os mínimos de precipitação no mês de agosto, e os máximos em outubro.
Dentre as onze estações, nove apresentaram tendências positivas na precipitação, uma, situada no município de São Miguel do Iguaçu, apresentou tendência negativa, e outra em Foz do Iguaçu, não apresentou tendência. Na estação do município de Toledo, os volumes de precipitação praticamente dobraram no período analisado.
*Esse artigo foi escrito com base no Trabalho de Conclusão de Curso de Otavio Fernandes Borges orientado pelo prof. Dr. Dr. Roberto Rochadelli
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