Carrefour França suspende compra de carne do Mercosul em meio a pressões políticas e protestos

Decisão ocorre em meio a negociações do acordo Mercosul-União Europeia e enfrenta críticas de diversos setores do governo brasileiro.

Por Matheus de Andrade
21/11/2024 09:45 Atualizado: 21/11/2024 09:45

O Carrefour França anunciou nesta quarta-feira (20) que não venderá mais carnes provenientes do Mercosul, bloco que inclui o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Segundo postagem na rede social de Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, a decisão tem como objetivo evitar repercussões negativas no mercado francês, atendendo ao apelo de agricultores locais contrários ao acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

A medida também visa se alinhar à lei antidesmatamento da UE, que será implementada entre o final de 2025 e meados de 2026, proibindo a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas após 2022.

Reação do governo brasileiro

Em resposta, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, criticou duramente a decisão do Carrefour França, alegando que parece se tratar de uma “ação orquestrada” por parte das companhias francesas contra o Brasil.

Fávaro declarou-se indignado com o posicionamento do Carrefour e de outras empresas, como a Danone, que também suspendeu a compra de soja brasileira, optando por adquirir o produto de países da Ásia em antecipação à legislação ambiental europeia.

“Me parece uma ação orquestrada de companhias francesas. Não pode achar que é coincidência. Há 15 dias atrás, foi a Danone que fez. E agora o Carrefour. Apontando de forma inverídica as condições de produção brasileiras, de forma a ferir a soberania brasileira e afetando nossa produção que é sustentável. Me parece que estão querendo arrumar algum pretexto para que a França não assine e continue com posição contrária à finalização do acordo Mercosul-União Europeia”, declarou o ministro.

Carlos Fávaro também afirmou que as acusações de que a produção brasileira não é sustentável são infundadas e ferem a soberania brasileira.

Ele ressaltou que o Brasil segue práticas ambientais rigorosas e afirmou que “era mais bonito e legítimo só manter a posição contra, mas não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira”.

Protestos na França e pressões locais

A decisão do Carrefour França ocorre em um contexto de crescente pressão política interna.

Agricultores franceses, organizados pela Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) e pelos Jovens Agricultores (JA), têm protestado contra o acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul desde segunda-feira (18).

Esses atos incluíram bloqueios de rodovias e incêndio de objetos, como forma de pressionar o governo a manter sua posição contrária ao acordo comercial.

O CEO do Carrefour, Bompard, justificou que a varejista está atendendo ao “desânimo e à raiva” dos agricultores locais, que receiam uma competição desleal caso o acordo avance.

ApexBrasil rebate declaração do Carrefour

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) também criticou a decisão do Carrefour França, classificando-a como “lamentável” e sem “motivos razoáveis para restrições à carne produzida no Mercosul”.

A agência enfatizou que os países do Mercosul, liderados pelo Brasil, seguem as mais rigorosas práticas sanitárias e ambientais, garantindo a qualidade da carne exportada para o mercado europeu.

A ApexBrasil destacou que essa medida ocorre em meio às negociações finais do acordo Mercosul-UE, sugerindo que o posicionamento francês tem uma motivação protecionista.

Posicionamento do Carrefour Brasil

O Carrefour Brasil esclareceu que a decisão da matriz francesa não afeta suas operações no país e que continuará a comercializar carnes oriundas do Mercosul.

Em nota à imprensa, a varejista/ reiterou que “nada muda nas operações brasileiras”, afastando qualquer possibilidade de descontinuidade dos produtos de origem regional.

Leia a íntegra do comunicado do Mapa:

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reitera a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais.

Diante disso, rechaça as declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, quanto às carnes produzidas pelos países do Mercosul.

No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos.

Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor.

Apresentou à União Europeia propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção rastreável e transparente, sendo que os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus.

O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações.

O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana.

O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros.

Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo.