Brasil bate recorde na importação de soja e deve terminar 2024 com menores estoques em 20 anos

Paraguai corresponde a quase 100% das exportações. Paraná e Rio Grande do Sul são os principais compradores.

Por Igor Iuan
18/09/2024 13:17 Atualizado: 20/09/2024 06:32

Em 2024, o Brasil alcançou um recorde histórico na importação de soja, com a entrada de 802.451,5 mil toneladas do grão entre janeiro e agosto. Esse volume representa um aumento de 703,1% em relação ao mesmo período de 2023, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Apesar de ser o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa, com produção entre 33 a 35 milhões de toneladas, o Brasil enfrenta escassez de soja comercializável, o que motivou essa alta nas importações.

“Isso acontece porque muitas empresas dentro do nosso país se prepararam, de forma equivocada, para o excesso de produto, sendo que, na verdade, o Brasil passa hoje por uma escassez do grão comercializável”, explica o diretor da consultoria Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.

Pereira aponta que o Brasil deverá importar até 1,7 milhão de toneladas de soja dos vizinhos Paraguai e Argentina até o final do ano – o maior volume da história.

O Paraguai, principal fornecedor, respondeu por 99,3% das importações de soja do Brasil entre janeiro e agosto de 2024, enquanto o restante veio principalmente do Uruguai.

Em comparação ao ano anterior, as exportações paraguaias para o Brasil passaram de 88 mil para 781 mil toneladas – um aumento de 687%. Os estados Paraná e Rio Grande do Sul lideraram as importações.

Baixa oferta pode elevar preços

Apesar do recorde em importações, a oferta interna de soja se encontra em níveis críticos. A estimativa é que o Brasil encerre 2024 com menos de 1 milhão de toneladas de soja em estoque, marcando os menores níveis dos últimos 20 anos.

De acordo com Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, o país deve entrar em 2025 com estoques extremamente baixos. Paradoxalmente, isso pode representar boa oportunidade para o mercado, pois os preços tendem a ser elevados devido à oferta reduzida.

A demanda forte por soja, tanto interna quanto externamente, é evidenciada pelo bom desempenho das exportações brasileiras, que somaram mais de 83,4 milhões de toneladas entre janeiro e agosto – um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior.

A China continua sendo o principal destino, ao absorver 73% das exportações. Os preços da soja também refletem o cenário de baixa oferta.

No mercado agrícola, “prêmio da soja” é um conceito importante para produtores e exportadores. Ele representa a diferença entre o preço da soja no mercado internacional e o valor na origem, como no Brasil.

Os prêmios de soja nos portos brasileiros estão próximos de US$ 2,00 por bushel, evidenciando a pressão do mercado devido à escassez.

“Bushel” é uma unidade de capacidade utilizada em países anglo-saxões para mercadorias sólidas e secas, como farinhas e grãos – neste caso, a soja. Trata-se de uma medida de volume que leva em conta a densidade e as características do produto.

A expectativa para o preço da soja brasileira em 2025 é de US$ 10,50 por bushel, frente aos US$ 9,35 necessários para o equilíbrio financeiro dos produtores no Cerrado.

Com a perspectiva de baixos estoques e demanda contínua, Cogo recomenda que os produtores brasileiros aproveitem as oportunidades atuais de mercado e avaliem vender suas reservas de soja antes do final do ano.

“Os prêmios começam a cair, provavelmente, a partir de novembro/dezembro, em sua curva natural. Então, o mais inteligente agora é começar a fazer estas vendas”, avalia o analista.

Cogo ainda aconselha que “vale a pena já pensar em uma estratégia de venda, diluindo seus estoques em dois, três, quatro lotes, e vender”.